Dosimetria ou anistia da vergonha?
Proposta disfarçada de dosimetria escancara tentativa de livrar golpistas, afronta a Constituição e reacende a mobilização popular
No Brasil já tivemos todos os tipos de anistia: desde as amplas, gerais, até as parciais e condicionais. Houve uma que Ruy Barbosa chamou de “Anistia Inversa”, pois estabelecia tantas obrigações aos anistiados que se tornava uma punição; melhor seria que não a houvesse.
Hoje, no Brasil, um antigo pelego sindical que por muitos anos dominou o maior sindicato do país (dos metalúrgicos de São Paulo) e depois fez-se deputado, constituiu um partido – o Solidariedade; só não sabemos a quem se dirige essa “solidariedade” – e carrega contra si diversos inquéritos e/ou processos. Mas é um deputado, inimputável, portanto. Assim, foi agraciado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, que agora passa a ser chamado de Mamatta, como relator do projeto que seria de anistia aos golpistas, mas que eles denominaram como sendo de “dosimetria”. Mudando a coisa, quem sabe, talvez, o povo não voltasse às ruas, como foi feito há pouco tempo, quando derrubou a PEC da Bandidagem.
A esperteza, comum entre boa parte dos nossos políticos, bolou esta forma: uma anistia parcial, que anistiava alguns crimes, assim reduzia as penas e, quem sabe, dentro de dois a três anos todos eles estariam de volta às ruas, podendo preparar um novo golpe, desta vez com melhor preparação. Os bolsonaristas aparentemente criticaram, queriam anistia “ampla, geral e irrestrita” kkkkk, mas entenderam, apoiaram e votaram. Centrão e bolsonaristas aprovaram. Agora é com o Senado.
Lá, presidido pelo membro do Centrão, Alcolumbre, tomou logo a iniciativa de nomear como relator um bolsonarista raiz: o senador catarinense Esperidião Amin. Ele insiste que quer anistia, mas o presidente da Comissão de Justiça, Otto Alencar, depois de ouvir a assessoria jurídica, disse logo: o que veio da Câmara é uma aberração. Alcança crime sexual, corrupção e muito mais. Aqui não passa! E anistia é inconstitucional.
Vamos ver como a coisa se passa no Senado. Por fim, caberá ao presidente Lula homologar ou vetar — vetar em parte ou totalmente — a aberração proveniente da Câmara. E o povo vai dizer o que pensa. Aceita a anistia envergonhada ou não?
Neste domingo, 14, o povo foi às ruas dizer o que pensa: às dezenas ou centenas de milhares, por este Brasil afora. Multidões ocuparam a larga avenida Paulista; no Rio, foi mais uma vez a praia de Copacabana a repetir a presença de milhares. Mas não só: grande multidão em Brasília, em Belo Horizonte, na Bahia... Mas não só. Em Florianópolis, que dizem ser terra bolsonarista, mesmo com chuva, a multidão gritava: “Sem anistia, sem perdão / eu quero ver / Bolsonaro na prisão!”. Belo slogan!
Na Bahia, houve um “outro” trio elétrico. Ninguém o acompanhava, é verdade, mas estava cheio de ratos, ratos engravatados, ratos como a maioria que está na Câmara! E em João Pessoa, terra do Hugo Mamatta? Faixas diziam: “Hugo Motta: vergonha da Paraíba!”. Vai ter uma reeleição difícil, o mamateiro.
Neste dia 14, o povo falou: BRASIL CONTRA ANISTIA / POVO NAS RUAS / GOLPISTAS NA CADEIA / DEMOCRACIA SEMPRE / CONGRESSO DA IMPUNIDADE. Anistia não passará, nem com, nem sem vergonha!
Sem perdão, eu quero ver, Bolsonaro na prisão!
Floripa: Sem anistia, sem perdão, eu quero ver, Bolsonaro na prisão!
João Pessoa: “Hugo Motta: vergonha da Paraíba!”
BRASIL CONTRA ANISTIA POVO NAS RUAS GOLPISTAS NA CADEIA DEMOCRACIA SEMPRE CONGRESSO DA IMPUNIDADE
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

