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Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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Doze horas e trinta minutos

Sessão do STF expôs verborragia vazia e transformou julgamento em espetáculo de sofismas

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) - 10 de setembro de 2025 (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

Luiz Fernando Veríssimo, o multicultural intelectual, jornalista e escritor que nos deixou há pouco, dizia que não era ele que falava pouco, mas as pessoas que falavam muito. Fino remarque. E o padre Antônio Vieira se desculpava por seus extensos sermões dizendo ser prolixo porque não sabia o suficiente para ser breve. Modéstia. Mas o que se assistiu nessa quarta-feira, 10 de setembro, na sessão do Supremo Tribunal Federal de julgamento da organização criminosa que se armou para dar um golpe de Estado na democracia brasileira, foi uma incontinência verbal baseada no sofisma, lógica legada pelos gregos que constrói argumentação falsa com aparência de verdade.

Das 9 da manhã às 22h48, com desconto do tempo para as três paradinhas técnicas de dez minutos cada e a pausa para o almoço, o ministro da vez falou sem parar porque não tinha nada a dizer conexo com a realidade. O exagero feriu e cansou a sensibilidade e a inteligência da audiência. O troco veio. O ministro carioca é conhecido como adepto do surfe, e já corre um novo significado para o nome do esporte aquático: S_sionista, U_ultradireita, R_reacionário, F_ (o sobrenome do magistrado). O melhor do espírito nacional encarnado no humor também cunhou a designação “terrivelmente peluqueiro”, já que o referido faz uso de perucas porque, ao que dizem, é portador de pronunciada careca da qual se ressente.

Peluqueiro e membro do exército do S-U-R-F, nada disso teria importância se o ministro não tivesse protagonizado o evento que desqualifica a autoridade do Supremo Tribunal Federal, desautoriza a Constituição e expõe os pares ao deboche e à condição de meros figurantes nos julgamentos das causas públicas. Apropriou-se de nomes históricos que fundamentaram o sistema penal brasileiro aplicando a sofística, método sistemático utilizado pela extrema direita entreguista, vassala, subserviente ao imperialismo, que vem atentando contra as instituições do direito garantidoras da soberania nacional.

“O homem é a medida de todas as coisas”, dizia o sofista grego Górgias. A julgar pelo que se ouviu naquelas muitas horas de vacuidade, o sarrafo do ministro não vale nem R$ 1,99.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.