E agora, para onde caminhará a Igreja de Pedro?
Lá como aqui, me parece que o centrão terá papel definidor no voar da fumaça branca a indicar que Habemus Papam
Faz muito tempo, muito tempo mesmo, que me afastei da Igreja Católica. Desde a minha primeira comunhão. Lá se vai quase meio século. Um pouco menos, mas também há muito tempo mantenho distância de toda e qualquer religião. Mas isso não significa dizer que não compreenda o papel que líderes religiosos operam em nossa sociedade. Alguns para o bem, outros tantos para o proveito material próprio ou para projetos políticos — esses, em profusão nos últimos anos, em especial no Brasil.
E, dentre aqueles que encarnam o trabalho e a representatividade na construção de um mundo melhor, com justiça, paz e igualdade, ganha destaque enorme o Papa Bergoglio, este argentino torcedor do San Lorenzo.
Francisco remou contra a maré, até mesmo dentro da sua própria casa. A Igreja de Pedro, que liderava, tem setores — que não são pequenos — de conservadores que resistiam às mudanças que ele propunha à postura da Igreja Católica no mundo.
Apesar de derrapadas em algumas falas, é inegável que o seu pensamento buscava um mundo trilhando por caminhos de justiça social. Defendeu as crianças, enfrentando com coragem os casos de pedofilia no interior da Igreja. Abriu espaço para o respeito às pessoas trans e à comunidade LGBTQIA+. Encorajou a participação ativa de leigos — homens e mulheres — na vida e administração da Igreja. Combateu com veemência as desigualdades econômicas, denunciou o avanço do capitalismo selvagem, criticou a idolatria ao mercado e se posicionou firmemente contra a destruição ambiental, colocando a mudança climática como pauta moral e espiritual. Não se omitiu diante das guerras e foi uma das poucas lideranças globais a condenar, com clareza, o massacre do povo palestino na Faixa de Gaza.
Posturas que sofreram oposição ferrenha da ala conservadora, principalmente da Igreja Católica norte-americana, muito ligada à direita daquele país e com forte atuação política, financiada por interesses externos. Não coincidentemente, o mesmo setor e o mesmo território onde mais casos de abuso contra crianças dentro da Igreja foram denunciados e comprovados.
A continuidade do avanço das ideias progressistas de Francisco e de seu grupo na Igreja Católica não é dada como certa. Apesar de a maioria dos novos eleitores que participarão do Conclave que escolherá o novo Papa ter sido indicada por ele, a vitória de um nome ligado ao campo progressista não está garantida.
Lá como aqui, me parece que o centrão terá papel definidor no voar da fumaça branca a indicar que Habemus Papam.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




