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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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É Lula que não desiste do povo ou o povo que não desiste de Lula?

"Lula está dizendo que a luta do PT não é ideológica: é humana. É daí que decorre o neofascismo brasileiro, essa doença que se apoderou de uma grande nação em construção - para sabotar sua construção: ao ideologizar o projeto humanista do PT, a direita teve que adotar o discurso fascista, pois o contrário de 'humano' não é conservadorismo: é 'desumano'. É nisso que o PSDB se transformou: em um partido 'desumano'", diz o colunista Gustavo Conde

Gleisi no lançamento da candidatura Lula (Foto: Gustavo Conde)
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A mensagem que Lula veiculou no início da noite de domingo para o Partido dos Trabalhadores, noticiada com exclusividade pelo Brasil 247, tem vários significados importantes. A cena política brasileira, sabotada pela imprensa, criminalizada pelo poder judiciário e desorganizada por partidos de direita e da falsa esquerda que não possuem agenda positiva (que sequer possuem agenda), não pode simplesmente ser eliminada do mapa como muitos gostariam. A política não é uma instância passível de aniquilação porque ela é a única via civilizatória para que as sociedades decidam o seu destino. Ela é incontornável. O ser humano fará política sempre, pois sem ela, o que resta é a barbárie. 

É essa barbárie que a imprensa, o golpe e o PSDB quiserem instalar no Brasil, para que o país voltasse a ser uma peça de decoração no cenário doméstico e internacional. O Brasil bom, para a imprensa e para a elite brasileira, é o Brasil exótico, o Brasil carnavalesco, o Brasil do futebol, o Brasil do favor, o Brasil do jeitinho. Foi exatamente a perda simbólica e narrativa desse Brasil grotesco que levou a nossa classe média a um desidentificação histérica e coletivamente perigosa. Nós nunca estivemos tão perto da desintegração social e simbólica como agora. O brasil corre o risco de desaparecer, de se cindir, de se fragmentar não apenas enquanto sociedade, mas enquanto território soberano. 

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O significado de pátria também foi criminalizado por nossas elites justamente por isso: ele é perigoso. Ele é o desdobramento natural da política que, por sua vez, é o desdobramento natural dos anseios do povo. O sentido de pátria e de nacionalidade é altamente mobilizador e o poder de fato, financeiro e violento, combate esse sentido com unhas e dentes. 

Vem daí a apropriação que a Rede Globo faz dos símbolos nacionais: futebol e carnaval. Ter a posse do sentido de nacionalidade através do futebol cumpre duas pusilânimes funções: neutraliza - por que recobre com sua saturação insuportável materializada na dicção de um Galvão Bueno, o maior salário da Globo - todo de qualquer sentimento de nacionalidade que não seja a catarse futebolística. Gostar do Brasil enquanto país produtor de tecnologia ou país que combate a miséria é a antítese da rede Globo de Televisão. 

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Em assim sendo, como ela poderia se esbaldar com seu Criança Esperança, uma mera fachada para lavagem de dinheiro, assistencialista e de péssimo gosto? Um país soberano e sem fome repele essas mixarias grotescas como o programa fraudulento e assistencialista da Globo e todas as suas variações espalhadas pelo Brasil, através de Rotarys Clubs, maçonarias e aparelhamentos de colégios de ensino básico. 

O Brasil assistencialista morreu com Lula e Dilma, foi exatamente o contrário do que o discurso tacanho, frustrado e ressentido da elite quis fazer acreditar. Eles se viram impedidos de dar a sopa para os moradores de rua porque o país já estava dando universidade para os moradores de rua. 

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O gozo da elite brasileira sempre foi muito mesquinho e pobre. Resume-se a Miami e a filantropia de quinta categoria, mero marketing para congraçamento entre congêneres solitários intelectualmente. Sergio Moro é a expressão máxima dessa pobreza intelectual, tirando semanas e semanas de licença para desfilar sua caipirice e subserviência mundo afora e envergonhar mais ainda o Brasil. 

Toda essa anestesia social pela qual o Brasil traçou parte de sua história é que alimenta a nova agenda da imprensa pós prisão de Lula. Para eles, é preciso manter a letargia política, a incerteza, o medo e a incompreensão. Como eles não aceitam Lula, eles preferem extravasar o sintoma através da ideia de "incompreensão". É mais confortável - a preguiça atávica do brasileiro não é do negro, não é do índio, não é do pobre; a preguiça intelectual brasileira é a da elite. 

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Lula segue impávido por entre a mediocridade do golpe e da imprensa brasileira. É o único que tem a coragem de enfrentar sua violência e sua limitação intelectual, tão bem traduzida por um Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo que não produziu nada de relevante e que sempre manifestou sua repulsa pelo Brasil, seja literalmente, seja através das entrelinhas de seu discurso errático e oportunista. A elite sente saudade de um "igual" instalado nos corredores de poder. Viu sua saciedade pelo medíocre ser parcialmente acalentada pelo ser das trevas que atende pelo significativo antinome de 'Temer'. Temer não tem um nome, Temer tem uma alcunha. 

A mensagem de Lula ao partido diz exatamente isso sem dizer. O que está subscrito na mensagem de Lula aos seus companheiros de partido e indiretamente ao povo brasileiro é que a missão de derrotar essa treva elitista e violenta que parasita o Brasil desde o descobrimento está mais viva do que nunca. Lula usou palavras contundentes que ele ainda não havia usado e isso marca claramente uma inflexão, a inflexão do confronto. Leiamos um trecho de sua mensagem: 

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"Apesar de todos os golpes que sofremos nos últimos tempos, apesar de terem rasgado a Constituição para depor a companheira Dilma Rousseff, apesar da campanha de mentiras da Rede Globo e da perseguição da Lava Jato, nosso partido está vivo, dinâmico, e representa hoje a esperança do povo brasileiro para superar uma das mais profundas crises do país."

 

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A palavra "rasgado" é muito forte. Ela demarca um novo momento retórico de Lula. Ele está cansado de contemporizar e conciliar diante de tanta violência e mentira. Todo homem tem um limite, até um homem diferente como Lula. Lula sabe - e sente - momentos propícios para elevar o tom e creio que ele percebeu um momento como esse exatamente agora. 

A inteligência desproporcional de Lula, investida de uma declaração de amor e lealdade cada vez maior do povo brasileiro - que o coloca no momento mais alto de sua popularidade -, ainda prepara o Partido dos Trabalhadores, em sua mensagem, para partir para cima do golpe e não se intimidar com o discurso fascista e residual de uma sociedade vítima do aniquilamento moral propiciado pela Rede Globo. Mais um trecho: 

 

"Agora é hora de se apropriar das lições que a vida nos ensinou, de reiterar e aprofundar seus compromissos históricos com o povo brasileiro, a inclusão social, a promoção dos direitos do povo, das mulheres, crianças, negros, indígenas, da população LGBT, das pessoas com necessidades especiais; a valorização dos salários e a geração de empregos; o apoio às pequenas e médias empresas, à agricultura familiar e à reforma agrária; a defesa da soberania nacional."

 

Lula está dizendo que a luta do PT não é ideológica: é humana. É daí que decorre o neofascismo brasileiro, essa doença que se apoderou de uma grande nação em construção - para sabotar sua construção: ao ideologizar o projeto humanista do PT, a direita teve que adotar o discurso fascista, pois o contrário de 'humano' não é conservadorismo: é 'desumano'. É nisso que o PSDB se transformou: em um partido 'desumano'. 

O grande 'defeito' de Lula é seu amor incondicional e desproporcional pelo Brasil. Isso também é insuportável para a elite e para o golpe, que não ama nada nem ninguém. Lula ama o Brasil como ama sua família, como ama seus companheiros de luta, como ama a lealdade, como ama a fraternidade, como ama Chico Buarque, como ama você, como ama a mim - o amor simplesmente 'está' nele. É por isso que todos esses seres e instâncias amam Lula e querem protegê-lo das trevas judiciais ressentidas, medíocres e sem um pingo de credibilidade que se apossaram do discurso do poder judiciário brasileiro, com intimidações e chantagens.

O cenário não é nada fácil, mas, afinal, quem disse que manter a democracia e a humanidade seria uma tarefa fácil? 

Neste domingo, com um Datafolha consagrador e com sua mensagem ao partido, que encarna seu sonho, e ao país, que simboliza sua luta, Lula foi mais uma vez o gigante habitual. Mostrou que está vivo, forte, amoroso e de posse do mais profundo e visceral sentido histórico.

 

 

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