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Egydio Schwade

Filósofo, teólogo, indigenista e ativista social

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É preciso animar Gilmar Mendes a seguir em frente

Não é o momento de Gilmar se retratar, como pretende o Mourão, mas é o momento do Exército, reconhecer as suas ações covardes, salvar a honra de muitos militares generosos e leais à sua missão primeira: a defesa dos mais desprotegidos

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Gilmar foi nosso aluno em Diamantino/MT, onde em 1963 ajudei a criar o
1º. ginásio do município e do qual fui alguns anos professor titular e
onde Gilmar iniciou seus estudos. Gilmar conhece o trabalho indigenista. E quando começou a trabalhar no Supremo, o visitei com os advogados do CIMI. Sempre esteve pronto a dar-nos apoio. Quando vim ao Amazonas, continuei a manter contato com ele. Mas desde o governo
Collor, quando começou a ter mais poder começaram as discordâncias que não deixei de lhe manifestar, como o Marcelo sabe.  Mas acho que a
atitude de Gilmar, de questionar da forma que o vem fazendo, o Exército, merece todo o nosso apoio. Não é por nada que sofre duras críticas do louco Governo Bolsonaro e da ala genocida do Exército. Acho que bate no cerne da questão.

A covardia de muitos dirigentes do Exército Brasileiro, ao longo da História, tem sido preocupante, mas nos anos mais recentes tornou-se
insustentável, sobretudo quando ostensivamente se vem alinhando com
milícias e assassinos profissionais. Mesmo dentro do Exército há muitos oficiais que não concordam com este grupo dominante que se aliou ao poder central genocida. E pessoalmente conheço generais que levantam, com a mesma força, o questionamento que Gilmar levanta.

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Na minha casinha de madeira, aqui na BR-174/AM, Norte do Amazonas, já recebi a visita de dois generais que de forma contundente me formularam a necessidade de que o Exército Brasileiro precisa rever a
sua História, principalmente a sua História recente.

Um deles, já nonagenário, integrou a vitoriosa Campanha da Legalidade
de Brizola, nas fileiras do Gal. Machado Lopes, comandante do 3º Exército que evitou a 1ª. tentativa de golpe contra João Goulart, quando da renúncia de Janio Quadros.

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O outro é o Gal. Altino Berthier Brasil que participou da construção de pelo menos duas rodovias do Exército na Amazônia, rodovias que
desrespeitaram os territórios indigenas: A BR-163, Cuiabá-Santarem e a
Rodovia BR-174, Manaus-Boa Vista. Ele reconhece o extermínio, o Genocídio, cometido pelo Exército contra os povos Waimiri-Atroari/AM e
Panará, ou Índios Gigantes/MT. O seu livro de memórias: O PAGÉ DA BEIRA DA ESTRADA dedicou “ao anônimo irmão Waimiri-ATroari, cujo
cadáver mal-enterrado, deparamos muitas vezes pela frente”, onde
levanta o véu da covarde ação genocida do Exercito, contra povos
indefesos durante a Ditadura Militar.

Desde quando atuei como professor no município de Diamantino/MT,
sempre olho o poder da República segundo a sua inserção na situação do
povo brasileiro mais injustiçado. Sempre achei que a matéria, razão de
ser do poder, da justiça e do próprio Exército, está na sua presença ali, nas camadas mais vulneráveis e necessitadas de Justiça e da presença do Estado e não na papelama dos Forums e Cartórios. E nesta caminhada topei, de Sul a Norte e de Leste a Oeste, mas principalmente nesta Amazônia, com dezenas de povos que nas últimas 5 décadas, tem
sido alvo de genocídio e quase sempre por omissão ou participação
direta do Exército.

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Já no primeiro ano de minha presença solidaria com estes povos injustiçados, em 1963, há 58 anos atrás, no Noroeste de Mato Grosso,
ao lado de um dos saltos mais lindos da país, o salto de Utiariti, no
Rio Papagaio, fui defrontado com uma grave ação de genocida, o conhecido - o Massacre do Paralelo 11 – contra os índios Cinta Larga,
onde vi envolvido o Governo do Estado de Mato Grosso. Crime praticado
com armas de fogo (revólveres, fuzis, granadas e ate metralhadoras,) sobre as quais li a inscrição: EXCLUSIVO DO EXÉRCITO BRASILEIRO. O
caixote de armas à minha frente, fora apreendido por um grupo de 39
seringueiros revoltados contra a firma da qual eles tambem eram vítimas. Todo este armamento em negociação ente a Policia Militar do Mato Grosso e os seringueiros revoltosos foi entregue, ali mesmo, nas mãos dos patrões genocidas. E uma década após, já em pleno Regime Militar, topei com o irmão do criminoso Sebastião de Arruda, Sr. Hélio de Arruda, como a autoridade máxima da questão agrária do país, ou seja,  residente do Instituto Nacional de Reforma Agrária. Isto para citar apenas um fato do passado.

Mas para citar tambem um fato mais atual. Desde o Regime Militar acompanho o privilégio da impunidade frente a ação genocida das empresas de mineração, contra os índios Yanomami, feita através da
garimpagem. Recentemente, um mês antes de completar 79 anos de idade, fui convidado para acompanhar um grupo de 13 guerreiros Yanomami que tomaram a resolução de destruir dois garimpos ilegais instalados nos confins do Rio Couto de Magalhães, próximo à Venezuela. Uma tarefa que aqueles índios e a sociedade brasileira e mundial há anos exigem, em vão, do Exército. Durante vários dias, de barco e a pé em solidariedade e apoio moral, acompanhei estes índios que de arco e
flecha se arriscaram e destruíram os dois garimpos, enfrentando uma
tarefa que o Governo com seu Exército, tão bem equipado, se acha
incapaz, de executar, como se “justificou”, ainda recentemente, o cínico Ministro da Justiça, Sérgio Moro: “o Governo está fazendo tudo para impedir a invasão das áreas indígenas”. E muitos, principalmente
autoridades, acreditam na  seriedade dessa gente.

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Acho que é preciso, neste momento animar o Gilmar Mendes a seguir em
frente em seu questionamento. As armas devem servir a fins diferentes
dos que estão servindo hoje. Não é o momento de Gilmar se retratar, como pretende o Mourão, mas é o momento do Exército, reconhecer as
suas ações covardes, salvar a honra de muitos militares generosos e
leais à sua missão primeira: a defesa dos mais desprotegidos.

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