É preciso uma campanha de massas para derrotar o bolsonarismo
Será necessário envolver todo o campo democrático-popular na construção dos comitês populares, fortalecendo a organização da classe trabalhadora
Diante das eleições presidenciais mais importantes e polarizadas desde a redemocratização, os atos bolsonaristas ocorridos no dia do bicentenário da Independência foram uma demonstração de força que não pode ser menosprezada. Essas mobilizações terão consequências no processo eleitoral em curso e projeta uma evolução organizativa do bolsonarismo. Ao mesmo tempo, cabe identificar a melhor tática para que Lula ganhe as eleições e consiga aplicar um programa de reconstrução do Brasil.
Em Brasília e no Rio de Janeiro os atos foram massivos. Em São Paulo, o tempo chuvoso comprometeu, mas ainda assim foi um ato relevante. Todos com forte repercussão nos meios de comunicação. Nos demais Estados ocorreram mobilizações da militância e simpatizantes bolsonaristas com públicos consideráveis.
O objetivo imediato da campanha de Bolsonaro é levar a eleição para o segundo turno, mas também demonstrar apoio nas ruas. A eleição no segundo turno, além de ter outras características, é fundamental para que o líder da extrema-direita não reconheça o resultado oficial divulgado pelo TSE em caso de derrota. Esse é um elemento central da tática de desestabilização institucional que pretende, no mínimo, questionar a legitimidade de um possível governo Lula, aprofundando a crise política e institucional.
A definição de amplos setores da esquerda em não disputar o 7 de setembro abriu uma avenida para o crescimento do bolsonarismo. É preciso esperar para saber se as mobilizações da extrema-direita terão repercussão eleitoral, mas certamente foram combustível para mobilizar sua base e incidir sobre os indecisos.
Quem esperava um discurso com a mesma intensidade golpista como o de 2021 errou na previsão. Ao evitar o confronto e a agressão direta às instituições, desarmou parte das críticas da imprensa e não gerou um clima de indignação da sociedade. Mais do que isso, ao demonstrar força e moderar um pouco o discurso, coesionou mais o “centrão” ao redor de seu projeto de disputa pelo poder e também evitou, provavelmente, o imediato derretimento da candidatura Ciro Gomes em prol do voto útil para Lula.
O golpismo sempre esteve nitidamente no conteúdo de seu discurso, mas dessa vez o líder neofascista optou por priorizar a apresentação de suas ideias: pátria, família, liberdade, direito ao armamento, contra a chamada “ideologia de gênero”, além dos ataques ao seu maior adversário, o ex-presidente Lula. Além disso, sua campanha aposta na capacidade do Auxílio Brasil para disputar as camadas populares no plano eleitoral. Articula, portanto, uma mensagem programática didática com a mobilização de sua base social.
A crítica em curso de que Bolsonaro instrumentalizou eleitoralmente o dia da Independência é válida nos círculos republicanos e pode gerar algum desgaste no candidato da extrema-direita. Deve ser explorada, mas nada de novo para a senhora luta de classes. O Bolsonarismo também semeia o médio e longo prazo. Mesmo que Lula ganhe a eleição, tende a ser um governo constantemente pressionado por uma oposição de massas, com uma corrente militante e ideológica de extrema-direita. Ou seja, um cenário político totalmente diferente daquele de 2003 a 2013.
É muito arriscada a tática de jogar quase exclusivamente no campo eleitoral. O bolsonarismo nos impõe a tarefa de construir uma campanha de massas que pressupõe três variáveis: primeiro, um amplo engajamento de massas na campanha independente da presença física do Lula nos espaços; segundo, a mobilização de rua, quando necessário, para demonstrar força e defender um programa de mudanças; terceiro, priorizar cada vez mais no debate eleitoral a solução concreta dos problemas que impactam na vida do povo brasileiro: o desemprego, a fome e a qualidade dos serviços público Precisamos avançar nestes três aspectos.
A esquerda brasileira subestimou a capacidade de Bolsonaro canalizar o bicentenário da Independência. A ampla unidade nas ruas dos democratas, dos antifascistas e dos defensores de um programa de reconstrução do Brasil teria injetado mais ânimo na militância numa data simbólica para quem luta pela soberania nacional. A tarefa agora é construir fortes mobilizações, que devem ser preparadas com mais intensidade dada a demonstração de força do inimigo.
Não é possível prever o nível da evolução organizativa do bolsonarismo, mas certamente não podemos descartar, num futuro não muito distante, a constituição de uma organização com capilaridade social e de massas.
Os atos de Bolsonaro no 7 de setembro, além de acumularem para garantir o segundo turno, visam para o médio e longo prazo: a consolidação de uma base social de massas sob a influência do bolsonarismo e contando com a retaguarda dos setores reacionários e golpistas das Forças Armadas.
Diante dos resultados das pesquisas que sinalizam uma possível vitória de Lula na primeira rodada, a mídia comercial e a direita tradicional trabalharão para a realização de um segundo turno para desidratar ainda mais as diretrizes programáticas de Lula.
Uma campanha de massas é necessária para a vitória eleitoral de Lula, mas também para dar largada em uma longa jornada. Por isso, precisa fortalecer a linha de massas da esquerda, sair da situação de defensiva estratégica e efetivar um programa de reconstrução do Brasil.
Será necessário envolver todo o campo democrático-popular na construção dos comitês populares, fortalecendo a organização da classe trabalhadora no sentido de contribuir para a sustentação de um possível governo de reconstrução nacional sob a liderança de Lula.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

