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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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É PT versus Bolsonaro. O resto é secos e molhados

O linguista e colunista do 247, Gustavo Conde, afirma que a polarização PT-Bolsonaro começa a ser hegemônica no cenário eleitoral e que tal enquadramento é favorável à democracia: "a equação é até simples: já que Bolsonaro não aceitou a total domesticação imposta por esses grupos de mídia, bastou e bastará reorganizar a narrativa: os arroubos verbais apopléticos consagrando tortura, morte e genocídio serão “faceta folclórica” de sua excelência, o verme"

Ricardo Stuckert | Reprodução (Foto: Ricardo Stuckert | Reprodução)
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A indigência prossegue. As elites brasileiras e os grandes jornais continuam apoiando Bolsonaro e fingindo que não apoiam. É o mesmo protocolo usado quando o PT era governo: eles atacavam o PT e a democracia e fingiam que estavam sendo técnicos, imparciais e republicanos.  

O Brasil não é para amadores e o jornalismo brasileiro idem. É para profissionais. Aliás, eles gostam de ser chamados assim: jornalismo profissional.  

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Profissional em obedecer o patrão, profissional em criminalizar a política, profissional na autodomesticação disciplinada que se refestela na prepotência e no arbítrio.  

Para não dizerem que não dou margem ao contraditório - e que pratico o mesmo jornalismo de cabresto desses arautos da dissimulação editorial - menciono uma excelente matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo de ontem, assinada por Flávio Ferreira.  

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Trata-se da reportagem sobre a avalanche de processos que recaem sobre o escritor João Paulo Cuenca, muito provavelmente orquestrados pela Igreja Universal. A reportagem é equilibrada e faz jus ao conceito “jornalismo investigativo”. Ouviu todas as partes e não pendeu para nenhuma delas, oferecendo ao leitor a oportunidade de constituir juízo de valor e de, igualmente, ponderar e aguardar desdobramentos sem incitações editoriais de ódio.  

A exceção faz a regra. Se a Folha, por exemplo, tratasse dos processos contra Lula com essa mesma integridade, certamente não teríamos Bolsonaro a nos destruir enquanto país, enquanto povo, enquanto economia e enquanto natureza neste preciso momento.  

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Há portanto, jornalistas íntegros e jornalismo responsável, mesmo nos grandes jornais. O que não há é o ‘negócio do jornalismo’ íntegro - seria ingenuidade demais acreditar que houvesse (nem os publishers acreditam nessa lorota que, para eles, é ‘moralista’).  

O fato relevante, no entanto - e a despeito de toda essa precarização e covardia embutidos em nosso modo institucional de conceber a produção de informação - é o alinhamento sub reptício das elites brasileiras (cuja voz está incrustada em nosso jornalismo profissional) ao projeto Bolsonaro 2022.  

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Como Bolsonaro é o produto mais bem acabado deste jornalismo de guerra, a aliança ontológica entre as duas entidades consagra apenas o curso natural da história.  

A equação é até simples: já que Bolsonaro não aceitou a total domesticação imposta por esses grupos de mídia, bastou e bastará reorganizar a narrativa: os arroubos verbais apopléticos consagrando tortura, morte e genocídio serão “faceta folclórica” de sua excelência, o verme.  

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Serão apenas um lado cômico e perturbador do ‘presidente’ e da representação política que simboliza o pós-PT, esse escândalo de democracia e soberania popular que alçou o Brasil a uma das maiores potências do mundo e que, agora, é apenas uma vaga lembrança do passado.  

Não se avexem com tal prognóstico (ele é enunciado por mim para que lutemos, não para que nos acovardemos). A movimentação nas elites e no jornalismo de cabresto é forte. Eles perceberam, enfim, que as possibilidades de João Doria, Luciano Huck e Sergio Moro escoaram pelo ralo insidioso os cenários imprevisíveis pós-golpes.  

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À elite e a esse jornalismo não há mais opções. É Bolsonaro ou Bolsonaro. A alternativa à sequência de horrores seria o PT, mas tais segmentos são prepotentes demais para enfiar a viola no saco e reconhecer que, se há algum líder político anti-Bolsonaro nesse país, esse líder é Lula.  

A evidência olímpica a essa percepção é o empuxo narrativo em todas as colunas editorializadas dos grandes jornais. Ali, “Bolsonaro se aproxima do centrão” e “ocupa o lugar de Huck, Doria e Moro”.  

Eles enunciam essa fatalidade quase em tom de lamento - é divertido ler.  

Isso significa duas coisas: 1) que eles não têm candidato para 2022, e 2) que entre PT e Bolsonaro, mais uma vez, eles escolherão Bolsonaro.  

Isso é motivo para lamentarmos ou comemorarmos?  

Depende.  

Se for para julgar e processar o papel histórico da imprensa brasileira, é para lamentar aos prantos. É uma vergonha muito grande ver os grandes jornais de um país supostamente republicano apoiando um genocida confesso e mentiroso obsessivo.  

Mas se for para interpretar o fenômeno à luz da história e dos desdobramentos eleitorais, abram a champagne: os setores anti-democráticoestão assaz demarcados com Bolsonaro: elites e jornalismo de cativeiro de um lado e Lula, PT e defensores da soberania e do meio ambiente do outro.  

É a tal da ‘polarização’ tão temida e combatida por esta imprensa cativa: eles temem a polarização porque a polarização evidencia quem é quem - e fortalece um campo democrático ‘desambiguado’, longe das contemporizações frenteamplistas e das suavizações intelectuais.  

O jogo, meus caros, neste sentido, está bom. Tudo se orienta para uma eleição hiper polarizada em 2022 entre PT e Bolsonaro. O centro, povoado pelo bolsonarismo, antes de representar uma ameaça, representa uma fragilidade (para a direita): não há muito como maquiar Bolsonaro. Sempre estará à mão suas declarações-atrocidades, sua índole fascista e sua vocação familiar a práticas corruptas e criminosas.  

Pari passu, estará a enxurrada de absolvições de Lula e de dirigentes do PT, bem como a execração nacional e internacional de Sergio Moro.  

O bom da história e da civilização, mesmo sendo elas tão violentas e pró sistêmicas, é que elas são relativamente espontâneas e não atendem a desejos classistas nem a percepções intuitivas contaminadas com os pressupostos neoliberais.  

Muitos marxistas nem suspeitam, mas a história atende às demandas simbólicas - linguísticas e semânticas - da própria história, não da dimensão que a oprime e controla, como o mercado financeiro e os grupos empresariais de mídia.  

Se assim o fosse, Lula jamais teria chegado à presidência da República.  

É bom lembrarmos disso antes de destilarmos nossos pessimismos e ceticismos de ocasião: historicamente, quem está encurralado é o bolsonarismo nativo e o jornalismo cativo, cânceres da mesma cepa, frutos do mesmo ódio, sobras da mesma xepa.   

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