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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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É real a chance de Netanyahu cair. Mas o que isso significa?

O fascista mora aqui (Foto: REUTERS/Amir Cohen)
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O primado de Binyamin Netanyahu na chefia do Estado Israelense, como primeiro-ministro chancelado pela Knesset, o parlamento de Israel, deve ruir nos próximos meses, já que na última semana o adversário de Netanyahu, Benny Gantz, venceu por margem apertada a segunda rodada de votos para a composição da Casa Legislativa. Lá, vota-se no partido, que indica seu líder para o cargo de primeiro-ministro, assim como ocorre no Reino Unido, sendo todo o país um só distrito, diferentemente do que ocorre na maioria das nações em que vigora o voto distrital.

Na primeira rodada, realizada na primeira semana de abril, o Likud, partido do líder de extrema-direita Netanyahu, comemorou timidamente uma vitória magra sobre o partido centrista Hosen L’Ysrael, ambos liderando uma frente de outros partidos políticos. Neste momento, os dois poderiam acordar um Governo compartilhado, visto não conquistada a maioria de dois terços do eleitorado. Entretanto, o acordo proposto por Netanyahu não foi aceito por Gantz, o que levou a Knesset a novas eleições realizadas em setembro, desta vez com virada no jogo e vitória apertada da coligação liderada pelo Hosen.

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A dinâmica da movimentação dos eleitores permite que, igualmente, Gantz e Netanyahu refutem um acordo de Governo compartilhado, visto que o líder da extrema-direita ainda crê, com razão, que pode virar o jogo. Gantz, por sua vez, também espera que se não atinja a maioria absoluta, ao menos possa ampliar a margem dos votos para assegurar um acordo mais vantajoso às forças que, dada a conjuntura política de mais de vinte anos em Israel, podem ser ditas progressistas. 

O que vale discutir é: o que pode mudar numa alteração de rumo que ainda não permite o retorno da esquerda ao poder em Israel? Parece estranho falar em esquerda israelense, mas é importante lembrar que o pai da nação, David Ben-Gurion, pertencia ao Partido Trabalhista e este está no marco da fundação e dos primeiros anos do país, tendo-o governado quase soberanamente de 1949 a 1977. É o pai de políticas como a dos assentamentos agrícolas coletivos denominados Kibutz, que beiram o modelo de forma agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) brasileiro. Hoje, o partido detém seis das 120 cadeiras da Knesset, fazendo dele praticamente um nanico, porém ressalvando que muitos de seus líderes históricos compõem hoje à frente “Azul e Branco”, que, a exemplo da “Frente Amplio” do Uruguai, reúne 35 representantes de diversas siglas para barrar a extrema-direita do Likud. Aí está, inclusive, situado o Hosen L’Ysrael de Benny Gantz. Dominante na Knesset, o Likud marcha sozinho com 38 parlamentares, o que dá a dimensão do desafio das forças progressistas israelenses.

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Fato é que a vitória do Hosen e sua “Frente Azul e Branco” não é caminho certo, embora os indicativos dos últimos meses assim o definam. E, em sendo assim, é necessário a Gantz estabelecer um Governo majoritário o bastante para passar suas pautas, entre elas o armstício com a Palestina, a suspensão dos programas de assentamento e de recuperação do chamado “território de direito” de Israel, ou seja, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (onde vivem os palestinos) e o reconhecimento da Autoridade Palestina. Veja bem: ainda não se fala em devolução dos territórios ocupados, desmilitarização das Colinas de Golã, política de Solução de Dois Estados e cidadania plena à população árabe, bandeiras do Partido Trabalhista.

Entretanto, esta é a alternativa viável para a transição do Governo mais violador de acordos internacionais e genocida que se conhece, hoje, entre os países ditos “centrais”, isto é, aqueles que integram ou orbitam proximamente o eixo Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão. Daí o eleitorado mover-se para a esquerda seria um delírio, impraticável, visto consensos coletivos não transformarem-se radicalmente salvo em traumas históricos: exemplo é a Alemanha do século XX, que da Social-Democracia esfacelada da República de Weimar saltou para o pior que a extrema-direita já produziu, o Nazismo, e em seguida à queda do regime retornou a uma coligacão que incluía a Social-Democracia. 

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Para o bem dos palestinos, em primeiro lugar, e da humanidade, pois Israel, embora um pequeno país de 8 milhões de habitantes à margem oriental do Mar Mediterrâneo, é um dos players econômicos e militares mais importantes do mundo, interessa a vitória de Gantz, que pode ser sacramentada na terceira rodada eleitoral, em janeiro. A esperança é de interrupção da política de assentamentos, possibilidade de armstício em Gaza e Golã, integração civil da população árabe em Israel e ampliação do direito de ir e vir da população palestina da Cisjordânia e de Gaza. 

Todavia, para a política global, serve como um pequeno referencial para o modelo de Governo à extrema-direita que se estabeleceu em países geopolíticos centrais como Estados Unidos, Reino Unido e Brasil. Ora, se aqueles que primeiro aderiram a este campo do espectro político, sedentos de soluções para o mesmo imaginário de insegurança (lá e nos Estados Unidos, terrorismo, aqui, violência urbana), nacionalismo torpe (“minha terra para os meus, não para os árabes”; “meu partido é o Brasil, fora os petralhas vermelhos”; “vou fazer um grande muro para separar os Estados Unidos do México, e fazer o México pagar por ele”) e fanfarronices sexistas, racistas e homofóbicas variadas, fomentando o conservadorismo que prende o cidadão médio à sua zona de conforto quanto aos valores sempre dinâmicos da sociedade, estão desembarcando da canoa furada, quiçá sirva de exemplo primeiro para os Estados Unidos, que têm suas próprias eleições no próximo ano. No Brasil, o cenário é mais complexo e as eleições são só em 2022, lamentavelmente.

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