É tudo pelo tecnofeudalismo
Narrativa fantasiosa expõe o avanço do tecnofeudalismo e o interesse de Trump em proteger Bolsonaro e as big techs no Brasil
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Um comboio de Dodge Durango pretos, com vidros escurecidos, percorre as ruas do centro de São Paulo. Chega à 25 de Março. Dezenas de homens de terno preto, gravata e óculos escuros descem e se misturam à multidão que lota o comércio local em busca de presentes de Natal para toda a família — num Brasil em que a economia está bombando. Nada de compras pela Amazon. As pessoas querem tocar nos produtos antes de comprá-los. É da cultura local. Aqueles homens passam despercebidos.
Ao mesmo tempo, Seals — após dias de campana na Ilha das Cabras — desembarcam nas margens da Praia Central, em Balneário Camboriú. A faixa de areia, alargada recentemente, dificulta um pouco a operação dos fuzileiros norte-americanos, que avançam de forma camuflada, enfrentando o calor úmido do verão brasileiro com suas vestimentas adequadas. O objetivo: extrair, para investigação, dona Maria, que mantém uma lojinha no “Paraguaizinho”, bem no centro da cidade.
Quase dois mil quilômetros dali, um B-2 — aeronave “invisível” da Força Aérea dos EUA — sobrevoa o Setor de Indústrias de Brasília, capital federal. A missão? Bombardear a Feira dos Importados, considerada uma das maiores ameaças à economia americana em território brasileiro.
A coordenação de todos esses movimentos está a cargo de um tal Escobar. Não o Pablo — outro Escobar. O mesmo que, por R$ 15 mil, teria convencido um funcionário de uma empresa de tecnologia que atua com o PIX, semanas antes, a entregar acessos que permitiram o desvio de milhões.
Eu não disse que seria uma história fantástica? Quem dera Gabriel García Márquez a escrevesse. Restou a este simples mortal tentar.
Mas o que estaria por trás de tamanha tara pelo Brasil por parte do presidente norte-americano e autoproclamado imperador do mundo, Donald Trump?
Uma das respostas foi dada de forma bastante clara em sua carta (teria sido enviada, de fato?): salvar Bolsonaro da cadeia. Atendendo ao apelo da família lambe-botas. Mas há interesses ainda maiores — e mais duradouros — para o Cheetos.
A defesa das empresas norte-americanas de tecnologia. Não apenas pela concorrência representada pelo PIX ao WhatsApp Pay, ferramenta de Mark Zuckerberg. Nem apenas pelo desejo de que o Paraguai venda o excedente de energia de Itaipu para alimentar os data centers e projetos de IA das empresas americanas — e não para o Brasil, como manda o acordo bilateral.
O grande objetivo do tarifaço de Trump, penso agora, à luz das informações que vêm surgindo, é tentar impedir a regulamentação da atuação dessas big techs em solo brasileiro. O presidente norte-americano estaria atuando como lobista para que essas empresas sigam com seu projeto transnacional de fortalecimento do tecnofeudalismo.
No fim das contas, essa será a imposição de Trump sobre a mesa: vocês podem vender suas mangas e o seu café nos EUA — desde que não atrapalhem os meus amigos na expansão da vassalagem-impulsiva-desavisada que enche os cofres e alimenta o poder das big techs.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




