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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

629 artigos

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Economia entra em colapso e divide economistas

É falácia completa a proposta neoliberal de que a crise fiscal decorre dos gastos da Previdência Social; evidencia-se isso quando se compara o desajuste produzido pela política monetária errada praticada há 45 anos, desde o Plano Real; juros sobre juros, anatocismo, condenado pelo STF, são as causas centrais do desajuste fiscal 

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Bolsonarismo em xeque

Os números da economia brasileira, divulgados essa semana, são de horror: relatório do BC aponta para paralisia: projeção de crescimento, sujeita a chuvas e trovoadas, em 2% e inflação 3,4%; desde 2016, o PIB está em torno de 1%, embora inflação esteja cadente; o desemprego pula de 12,5 milhões para 13,4 milhões; já são 13 milhões de desempregados, 60 milhões de inadimplentes, mais de 30 milhões de desocupados, ou seja, 100 milhões de não-consumidores; o BC continua com a estratégia economicida de manter a taxa de juros selic em 6,5%, bem acima do crescimento da economia, para tentar alcançar a quimera na qual ninguém acredita: equilíbrio dívida pública/PIB, para só, então, reduzir os juros; assim, dizem os neoliberais, haverá superávit primário(receita menos despesas, exclusive pagamento de juros) e tudo poderá melhorar; conto da carochinha.

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O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, especulador do mercado financeiro, quer resolver o problema, fazendo economia de R$ 1 trilhão; propõe cortar gastos sociais, congelados, por vinte anos, desde o golpe neoliberal de 2016; elegeu como causa principal do déficit os gastos com a Previdência; constrói-se discurso inverossímil de que realizados tais cortes, eliminada a Previdência, financiada pelo tripé solidário social democrata, governo, capital e trabalho, e substituída pelo regime de capitalização, em que o trabalhador faz sua própria poupança para aposentar, sem governo nem empresários para ajudar, tudo vai melhorar; o Congresso, claro, não engole esse receituário ultraneoliberal; está, portanto, instalada a crise, que se aprofunda e joga o governo Bolsonaro, apoiado pelos militares, em completa impopularidade; tudo isso em meio à crise internacional, detonada por guerra comercial global, que se aprofunda; nesse ambiente, os economistas se digladiam.

Bancarrota capitalista

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Sempre que o capitalismo enfrenta dificuldades conjunturais e estruturais, combinadas, os economistas entram em polvorosa, para explicar o que está acontecendo; o emprego deles depende: 1 – universidades e 2 – mercado; como ambos, mercado e universidades estão, praticamente, dominados pelo capitalismo financeiro hegemônico, eles giram em torno dos interesses dessa hegemonia; as contradições se ampliam, quando mais cresce a sobreacumulação de capital nas mãos dos bancos, de um lado, e a pobreza da população, de outro, para financiar a riqueza sobreacumulada, cujos efeitos para o bem estar social é zero à esquerda.

André Lara Resende, um dos pais do Plano Real de FHC, formado na mais famosa universidade americana, Harvard, resolveu colocar dedo na ferida; defende tese de que juro alto brasileiro mantém a economia paralisada; sintoniza-se com pregação dos bancos centrais dos países capitalistas desenvolvidos de que fracassou receituário econômico clássico, cuja eficácia, para explicar e conduzir a realidade, deixou de ser útil; ele agrava o desemprego e joga a política para temperaturas altas; estimula alternativas ao capitalismo e volta a acender a chama do socialismo, aprofundando social democracia.

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Teoria furada

Essencialmente, os bancos centrais colocaram abaixo a tese clássica segundo a qual a inflação decorre de excesso de demanda/consumo da população; para combater essa tendência, a saída era aumentar taxa de juro; com isso, equilibra-se, teoricamente, crescimento da dívida do governo e o crescimento do PIB; a crise de 2008 mudou tudo, porque a sua gênese decorreu de especulação exacerbada; a concentração de renda implícita ao desenvolvimento capitalista elevou taxa de pobreza e a riqueza sobreacumulada; sem poder se reproduzir, no consumo e na produção de bens e serviços, o capital sobreacumulado descolou para a bolsa, onde amplia a acumulação na especulação financeira; o resultado foi implosão financeira internacional, com quebra de bancos etc; o banco central dos Estados Unidos, economia mais poderosa, evitou bancarrota total fugindo da teoria segundo a qual a inflação cresce quanto mais dinheiro na praça existe; se tivesse que segui-la, a saída seria recolher o excesso de dinheiro em circulação; não foi isso que aconteceu; ao contrário, expandiu-se a oferta monetária e a inflação, em vez de subir, caiu; o juro, da mesma forma, despencou, ficou na casa dos zero ou negativo; o custo da dívida diminuiu e a economia respirou, fugindo do perigo de hiperinflação.

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Ressalte-se que, antes do BC americano fazer isso, os japoneses já vinham agindo nesse sentido; o déficit público no Japão está na casa dos 200% do PIB; nem por isso, a economia japonesa implodiu; continua estável, com a dívida se ampliando, sem virar problema, porque é financiada por juro negativo, desvalorizando-a estruturalmente no compasso do tempo; o BC de Tio Sam copiou os japoneses, especialmente, depois do crash de 2008; assim, as receitas de que, diante da crise, a saída é aumentar juro, caiu por terra, em todos os lugares; no Brasil, Lula, na ocasião,  fez o que os japoneses fizeram: ampliou o crédito à produção e ao consumo e fugiu da crise; agora, com o capitalismo batendo biela, os bancos centrais estão todos na onda japonesa; ou seja: fixam a taxa de juro abaixo do crescimento do PIB, e tocam a economia nesse linha; é a chamada nova macroeconomia; o BC tupiniquim, porém, continua remando contra maré, impondo recessão e desemprego.

Bafafá tupiniquim

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André Lara Resende levantou o assunto, no Valor Econômico, e criou bafafá entre seus colegas, todos sobreviventes em empregos remunerados pelos banqueiros, como Edmar Bacha e Pedro Malan, ex-presidentes do BNDES e ex do BC, na Era FHC; foram eles que, com o Plano Real, em 1974, deram jeito na hiperinflação do governo Sarney, herdeiro da crise financeira dos anos 80; os Estados Unidos, para cobrar dívidas dos países subdesenvolvidos, propensos ao calote, aumentaram, absurdamente, juros e impuseram restrições ao crescimento; exigiram desestatização, desmobilização de ativos nacionais, moeda, artificialmente sobrevalorizada, desindustrialização, arrocho salarial etc e tal; a dívida pública, nesse cenário, tornou-se incontrolável e sob peso dos juros virou maior fonte do déficit público; de lá para cá, a política monetária tem sido a que, agora, Lara Resende desanca, ou seja, com o BC fixando taxa de juro bem acima do crescimento do PIB; na prática, juro especulativo impacta dívida e inviabiliza crescimento sustentável da economia.

Mesmo durante os governos do PT(2003-2014), de viés popular, o BC, sempre comandado pelos banqueiros, continuou a mesma política, embora Lula tenha enfrentado a crise elevando a oferta de crédito; com os juros nas alturas, a estabilidade econômica pagou o pato; em 2016, o mercado financeiro, diante das contradições entre a política restritiva, que impunha ao governo, e a tentativa deste de manter política social para atender demanda democrática da população, manobrou para derrotar governo democrático petista; instalou-se, com as forças políticas conservadoras, políticas neoliberais draconianas, como congelar gastos sociais por vinte anos, em nome do ajuste fiscal; ficou de fora do ajuste, a maior fonte de pressão sobre ele, ou seja, as despesas financeiras do governo, cujas consequências acumuladas vem desde o início da política do Banco Central, no tempo de FHC. 

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Pais da crise em crise

Os pais do Real, que hoje estão digladiando nas páginas do Valor Econômico(Lara Resende, Bacha, Malan etc), são, também, os pais da crise financeira atual; brigam, encarniçadamente, porque a solução que fixaram entrou em estresse total; está na contramão do mundo; a sua manutenção, pelas forças conservadoras do mercado, impede a reação da economia, desde o golpe de 2016; o PIB estacionou e o desemprego empinou em meio à inflação cadente; e, agora, que fazer: continuar subindo os juros acima do crescimento da economia, como critica André Lara Resende, ou mudar para resolver?: o presidente do BC diz que, por enquanto, trata-se de discussão acadêmica; mas, seus efeitos são reais, destrutivos, levando o país à morte econômica.

É falácia completa a proposta neoliberal de que a crise fiscal decorre dos gastos da Previdência Social; evidencia-se isso quando se compara o desajuste produzido pela política monetária errada praticada há 45 anos, desde o Plano Real; juros sobre juros, anatocismo, condenado pelo STF, são as causas centrais do desajuste fiscal que desorganiza a economia e a relação entre União e unidades federativas.

Os números do orçamento geral da União, de R$ 2,3 trilhões, para 2019, desmentem a tese de Guedes;  gasta-se R$ 400 bilhões anos em juros , sem nenhuma contrapartida desenvolvimentista; já a Previdência, acusada de todos os males, pelos neoliberais, não chega aos R$ 200 bilhões, embora seu retorno, no contexto da seguridade, seja superavitária, como demonstrou CPI no Senado, com elevado retorno social; Guedes foge da polêmica sobre quem realmente causa o déficit; como homem dos banqueiros, quer tomar a Previdência do povo para quitar a dívida pública; tenta, para tanto, substitui-la pelo regime de capitalização; essa experiência não deu certo em lugar do mundo; no Chile, os aposentados, quebrados, suicidam-se em pencas, desesperados; o modelo de Guedes é a canibalização total; os militares, com Bolsonaro perdido em políticas identitárias, não sabem o que fazer.

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