“Efeito Lula” aponta para nova virada na eleição da Bahia
Candidato petista ao governo chega ao empate técnico, pela pesquisa Atlas/Intel; e encurta 17 pontos a distância para o adversário, pelo Datafolha
Depois de amargar grande distância em pesquisas eleitorais diante do principal adversário – o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil, ex-DEM) –, na disputa para o governo da Bahia, o petista Jerônimo Rodrigues já está desfrutando de um confortável empate técnico, no primeiro turno: 40,3% contra 40,8% de ACM, segundo os números da última pesquisa AtlasIntel/jornal A Tarde, divulgados hoje, dia 15.
(O terceiro nome na corrida é o bolsonarista João Roma, do PL, que tem apenas 12,3% das intenções de voto. ACM Neto, matreiramente, foge como o diabo da cruz de ter seu nome associado ao de Bolsonaro. E não fala mal do ex-presidente Lula, diz que “tanto faz” quem seja o próximo presidente).
Uma das pesquisas anteriores, do mesmo instituto, divulgada em 17 de julho, já anunciava o bom desempenho do petista: no primeiro turno, Jerônimo aparecia com 32,6% das intenções de voto contra 39,7% de ACM Neto.
Tal façanha, claro, veio a partir da colagem do nome de Jerônimo, inicialmente um ilustre desconhecido do eleitorado (nunca tinha sido candidato a qualquer mandato eletivo), ao do ex-presidente Lula e também ao do governador Rui Costa, do PT, cuja gestão ostenta boa avaliação.
ACM Neto, ao contrário, é superconhecido na Bahia (e no Brasil). Como o nome está indicando, é neto do velho ACM (Antônio Carlos Magalhães), que mandou e desmandou na Bahia durante mais de três décadas (1970 a 2006). Foi, de fato, uma espécie de vice-rei da ditadura militar.
Datafolha na Bahia
Mesmo em pesquisas de outros institutos, com números bem diferentes – devido a critérios diversos, como a menção clara, ou não, do apoio de Lula na hora da pergunta ao entrevistado -, o crescimento rápido da candidatura de Jerônimo é patente.
É o caso, por exemplo, das duas rodadas de pesquisa do Datafolha, encomendada pela rádio baiana Metrópole. Da primeira rodada para a última, cujo resultado foi divulgado ontem, dia 14, Jerônimo conseguiu encurtar a distância para ACM Neto em 17 pontos (em apenas três semanas – a primeira foi divulgada no último dia 24):
De uma para a outra, o ex-prefeito de Salvador perdeu cinco pontos e tem agora 49% das intenções de voto, contra 28% do petista, que subiu 12 pontos em relação à rodada anterior. (O placar ficou, portanto, em 49% para Neto e 28% para Jerônimo. João Roma aparece com 7%).
Ao avaliar os números do Datafolha, Rui Costa lembrou a virada que representou sua vitória quando foi eleito pela primeira vez, em 2014.
Contou que faltando pouco mais de uma semana para o dia da votação, o Ibope (o instituto de pesquisa mais badalado na época) registrava 43% para Paulo Souto (ex-governador, o quadro mais forte do carlismo, do velho ACM) contra 27% para ele, Rui, então candidato do então governador Jaques Wagner (atual senador do PT).
“Faltando mais de duas semanas para a eleição, Jerônimo já está acima do patamar que eu tinha faltando uma semana. E eu ganhei no primeiro turno”, disse o governador, conforme declarações dadas ao jornal baiano A Tarde.
Outras lideranças do PT na Bahia, a exemplo do deputado federal Jorge Solla, acreditam também que a virada será uma consequência natural: “Jerônimo tem bons padrinhos políticos”, diz Solla, referindo-se a Lula e Rui Costa.
O “efeito Lula” é o que impulsiona tanto otimismo. Muitos inclusive esperam ganhar já no primeiro turno. O peso da influência do ex-presidente parece compreensível: pesquisas apontam que Lula, na Bahia – bem como em outros estados nordestinos -, no primeiro turno, tem mais de 60% da preferência dos eleitores, contra apenas cerca de 20% de Bolsonaro.
Por que “nova virada”?
Porque, além da virada de 2014 mencionada por Rui Costa, os militantes políticos da Bahia não esquecem a virada histórica de 2006, quando Jacques Wagner foi eleito governador pela primeira vez, enterrando o “reinado” de ACM. (Não esquecer que o antigo “cacique” era ainda vivo).
Parece o começo de uma tradição inaugurada na história recente da Bahia. Wagner tinha passado toda a campanha eleitoral amargando derrota avassaladora nas pesquisas para o candidato do então poderoso ACM, o mesmo Paulo Souto – então do PFL, que virou DEM, que virou União Brasil - derrotado por Rui em 2014.
Na noite de 1º. de outubro de 2006 (domingo de eleição), a grande surpresa (para todos habituados a confiar nas pesquisas): a contagem dos votos apontou a vitória de Wagner no primeiro turno.
Os petistas de Salvador inundaram o largo de Santana (conhecido também como largo da Dinda), no Rio Vermelho (bairro boêmio da capital baiana), onde costumam festejar suas vitórias (e chorar suas derrotas).
Foi uma noite de festa inesquecível não só para os petistas, mas para grande parte dos baianos que acalentou por décadas o sonho de varrer para a lixeira da história os tempos autoritários do “coronel” ACM (ex-prefeito de Salvador, ex-governador (duas vezes) - cargos nomeados pela ditadura -, ex-presidente da Eletrobrás, ex-senador, ex-presidente do Congresso Nacional, ex-ministro das Comunicações).
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

