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Homero Gottardello

Jornalista, Bacharel em Direito, Música (habilitação em “Teoria Geral da Música”) e Belas-Artes (habilitação em “Cinema”)

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Elon Musk tenta, apenas, desviar foco da perda de R$ 2,56 trilhões

Ações da Tesla caíram 30% no 1º trimestre deste ano, pior índice entre 500 maiores empresas listadas em Wall Street; conselho está preocupado com uso de drogas

Perfil de Elon Musk na rede social X (antigo Twitter) (Foto: Reuters)
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Antes de entrar na mais infrutífera das discussões com um extremista qualquer, sobre o fanfarrão Elon Musk e seu ataque direto à democracia brasileira, o leitor deve ter uma coisa em mente: que a preocupação de Musk está longe, anos-luz, de ser a defesa da liberdade de expressão ou dos ditames de sua rede social, o “X” (ex-Twitter). O que pouca gente se deu conta, até agora, é que o maior negócio de Musk, a Tesla Motors, começou a “fazer água” em Wall Street e que, diante da desconfiança do mercado de ações, a forma como o sul-africano naturalizado norte-americano adota para não sair dos holofotes é sair atirando – e atirando para qualquer lado.

Cubro o setor automotivo como jornalista especializado há 30 anos, vi a empresa que tem seu quartel general no Texas se tornar a maior fabricante do mundo de veículos elétricos (EVs) e provo o que estou dizendo com alguns números: em 2021, a Tesla chegou a valer mais de um trilhão de dólares – US$ 1,06 trilhão ou equivalente a R$ 5,33 trilhões! – e, hoje, sua capitalização de mercado é quase a metade disso, US$ 547,5 bilhão (o equivalente a R$ 2,75 trilhões ou mais do que Porsche, Stellantis e todas suas marcas, Mercedes-Benz, BYD, Ferrari, BMW e Volkswagen, juntas). Mas para além destes números, que ainda são muito expressivos diante dos concorrentes tradicionais, há uma conjuntura desfavorável, com queda na demanda por EVs e altas taxas de juros.

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“Acreditamos que as preocupações com o volume comercial e os lucros podem inibir os investidores e desvalorizar ainda mais as ações da marca”, avalia o analista do Deutsche Bank, Emmanuel Rosner. Em entrevista à “Bloomberg”, Rosner chamou atenção para o fato de os títulos da montadora terem caído 30%, só no primeiro trimestre deste ano, o pior índice entre as 500 maiores empresas (S&P 500) listadas em Wall Street. Como se sabe, Wall Street é a porta-voz do mercado financeiro norte-americano e uma espécie de bússola para as bolsas de valores mundo afora. O problema para Musk é que seus analistas projetam um ponto de inflexão para a Tesla, com queda real nas vendas.

Longe dos Estados Unidos, a Tesla enfrentou contratempos na Alemanha, com paralisações na fábrica que fica no entorno de Berlim, reduziu a produção chinesa atrás da Grande Muralha, onde é acossada pela BYD e, de volta para casa, reconfigurou sua linha de montagem californiana, “segurando” a divulgação dos dados comerciais de seu mais recente lançamento, a picape Cybertruck. Analistas da “Bloomberg” estimam uma queda nas vendas da montadora de 6%, enquanto Elon Musk tenta convencer acionistas e investidores de que a marca está passando por um hiato “entre duas grandes ondas de crescimento”, prometendo para breve a ampliação do portfólio com um novo EV, significativamente mais acessível, que levantaria a curva no gráfico.

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É exatamente por isso que, na imprensa internacional, nominalmente na cobertura dos segmentos de economia e negócios, ninguém deu trela para a implicância de Musk com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Aliás, parece que o próprio Moraes só mexeu seu peão, no tabuleiro de xadrez, para devolver a vez ao falastrão.

SPACE X E STARLINK - Musk também se gaba de ser dono (possui 42% das ações) e controlador da Space X, conhecida como a primeira empresa privada do setor aeroespacial a construir foguetes de propelente líquido, o Falcon 9, que alimenta uma verdadeira constelação de satélites da Starlink – subsidiária que fornece serviços de banda larga em nível global. O problema é que as receitas da Space X ainda são “baixas”, US$ 4,2 bilhões (o equivalente a R$ 21,1 bilhões) ou 23 vezes menores que as da Tesla, e o leitor deve imaginar que montar veículos elétrico é mais simples e barato do que lançar foguetes para o espaço, levando satélites. Há mais de uma década, a marca revolucionou o setor automotivo com uma aposta arriscada para mais de uma década atrás: os EVs. Dos pouco mais de 30 mil modelos vendidos, em 2014, a marca ultrapassou 1,7 milhão de unidades, no ano passado. Mas nem tudo são flores e o problema é que o próprio Musk está “jogando contra o patrimônio”.

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Bom, pelo menos é isso que sugere o mais recente estudo do Grupo Caliber, consultoria especializada na gestão de marcas e reputação corporativa. “Nossas pesquisas mostram que 83% dos norte-americanos conectam a figura de Musk diretamente à Tesla e não há dúvidas de que suas declarações públicas e controvérsias políticas, cada vez mais associadas à extrema direita, estão pesando sobre a marca”, pontua o presidente-executivo (CEO) da Caliber, Shahar Silbershatz. A Agência Reuters também conversou com especialistas em marketing, pesquisas e sobre o setor automotivo para saber como eles enxergam a Tesla. “Estimamos um crescimento de 15% nas vendas de EVs, nos EUA, neste primeiro trimestre e, deste deste bolo, as comercializações da marca não crescerão mais do que 3%. Em outras palavras, se há uma desaceleração neste segmento ela não é, de todo, dos veículos elétricos, mas da Tesla”, pontua a consultora Stephanie Valdez Streaty, da Cox Automotive.

Ao que parece, da mesma forma como a personalidade descomunal Elon Musk beneficiou sua marca, com uma visão ambientalista que reimaginou os automóveis, o contrário ocorre quando ele se mete em política. Uma pesquisa sobre consumo da CivicScience aponta que 42% dos entrevistados têm uma imagem negativa de Musk – há exatos dois anos, eram 34% por cento. No mesmo sentido, a consultoria Brand Finance descobriu que a reputação da Tesla caiu, em 2023, nos Estados Unidos, Holanda, França, Reino Unido e Austrália – na Alemanha e na China, esta percepção se manteve inalterada.

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“Um número modesto, mas crescente, de compradores de EVs está cada vez mais desanimado com o comportamento de Musk e seu envolvimento com questões políticas. E o pior é que, agora, estes mesmos consumidores encontram alternativas mais acessíveis no mercado do que um Tesla”, destaca o presidente da AutoPacific, Ed Kim. “Há quem não queira dar um centavo para ele”, acrescentou. De qualquer maneira, a Tesla segue com o maior índice de fidelização nas pesquisas do S&P Mobility, segmentado às principais marcas de automóveis, com um índice de retenção dos clientes de 68% - ou seja, proprietários de EVs da marca que os trocam por outros modelos da Tesla.

Sobre o “X” (ex-Twitter), é importante frisar que Musk sangrou a própria Tesla em quase US$ 300 bilhões – somando o valor de compra e a desvalorização de suas ações, na sequência do polêmico negócio – para comprar a rede social que, hoje, vale menos de US$ 42 bilhões (o equivalente a R$ 212 bilhões) ou 31,5 vezes menos que o Facebook (Meta Platforms) e o mesmo que a nossa Ambev. Mas os ataques dissuasórios e diversionistas em relação à suprema corte brasileira podem ser fruto de “aditivos”.

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CETAMINA "Y OTRAS COSITAS" - Desde o início deste ano, o “Wall Street Journal” vem destacando que membros do conselho da Tesla (que é uma empresa de capital aberto) e da SpaceX (empresa privada da que Musk tem 79% do controle de fato, por meio de voto) estam preocupadíssimos o uso de cetamina, cocaína, ecstasy e outras drogas pelo presidente-executivo (CEO) e isso, na prática, viola os contratos de ambas as empres com o governo norte-americano – é aquela história com todo mundo conhece, de uma empresa privada que, na verdade, vive pendurada nas barbas do Tio Sam. Musk respondeu a um relatório interno com uma inusitada postagem no “X”, dizendo que havia concordado com três anos de testes aleatórios pela NASA e, pelo menos até agora, que não foram encontrados vestígios de álcool ou substâncias ilícitas no seu corpinho. Sobre o uso – escandaloso – de cetamina, Musk disse que um médico receitou o opióide, que é um anestésico frequentemente abusado por suas propriedades alucinógenas, para tratar de depressão e que tem prescrição para isso.

Na prática, desde que começou a aditivar a língua e “investir” em redes sociais, Musk e seus investidores perderam mais de US$ 510 bilhões (o equivalente a R$ 2,56 trilhões), valor levado pelo vento junto com as palavras do parlapatão. Infelizmente, o bravateiro ainda é um dos cidadãos mais ricos do planeta e, em um mundo em decomposição, isso faz diferença. A impressão que dá é de que a tal “pequena quantidade” de cetamina, usada “uma vez a cada duas semanas” está escalonando aquilo que diz a própria bula do medicamento e passando da agitação à confusão, chegando às alucinações. Bom, mesmo, seria se ignorássemos seus delírios e nos limitássemos, apenas e tão somente, a aguardar a bem-aventurança de uma overdose.

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