Embaixador israelense copia Lincoln Gordon, do golpe de 64

Sistema político brasileiro enfrenta um universo mais áspero e traiçoeiro do que parecia possível imaginar, alerta Paulo Moreira Leite

Daniel Zonshine. Foto: Alan Santos - PR
Daniel Zonshine. Foto: Alan Santos - PR


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Brasileiros e brasileiras atravessaram a última campanha presidencial  convencidos de que as urnas presidenciais seriam capazes de limpar nosso sistema político da tragédia bolsonarista e abrir caminho para o renascimento de uma democracia construída após 25 anos de ditadura militar, num processo cujo marco histórico é a Constituição de 1988.

Nove meses depois da posse de Lula para cumprir um terceiro mandato presidencial, o sistema político brasileiro enfrenta um universo mais áspero e traiçoeiro do que parecia possível imaginar.

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O sinal mais evidente envolve a atuação do embaixador do Estado de Israel em Brasília.

Longe de cumprir qualquer missão aceitável pelos cânones  da atividade diplomática, o comportamento de Daniel Zonshine reproduz, em outro tempo histórico, e outra paisagem política,  o papel desempenhado por Lincoln Gordon (1913- 2009) no Brasil de João Goulart.

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Não custa lembrar. Há meio século, o embaixador dos EUA  teve um papel decisivo na montagem do golpe de Estado que ergueu uma treva de 20 anos sobre os destinos brasileiros.  

Sempre com um sorriso no rosto, modos afáveis e todo conhecimento necessário para bem desempenhar um papel de solista  na orquestra que preparou o golpe  no Brasil de  meio século atrás, Gordon sabia utilizar-se de sua formação universitária – tinha um diploma em Harvard – para impressionar platéias embasbacadas por títulos acadêmicos.

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Também valia-se da imunidade própria das funções para limpar o terreno que deu passagem aos tanques e baionetas de 1 de abril de 1964 e toda imundície que veio a seguir.

Enquanto os homens da CIA se ocupavam do jogo mais bruto e empresas imperialistas desembarcavam no país para estabelecer laços coloniais na economia local, o embaixador contava com as prerrogativas próprias da diplomacia para prestar serviços inaceitáveis na  verdadeira diplomacia em qualquer parte do mundo.

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Era solista de uma orquestra ocupada em sabotar os esforços progressistas de um país que lutava por recuperar um projeto de desenvolvimento industrial, reforma agrária e distribuição de renda, linha divisória que separa casos de sucesso de fiascos sem remédio no universo sócio-econômico no século XX.  

No Brasil de 2023, o esforço do governo Lula para proteger a vida de 34 refugiados expostos à selvageria medonha das tropas israelenses, reflete a realidade sombria, desoladora, de nossa época.

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Nos dias de hoje, a simples luta pela sobrevivência ocorre em cenário desesperado e desolador.

Impossível falar em disputa de projetos de sonhos e muito menos confrontos ideológicos.

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Na barbárie em gestação, a guerra é pelo resto, o fundo do prato, no esgoto a céu aberto.

Homem de confiança do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, uma das águias do fascismo mundial, o embaixador Zonshine exibiu uma ousadia jamais vista em diplomatas que, em outras épocas da história, fingiam que era possível manter as aparências e conservar a chamada liturgia do cargo.

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No apocalipse 2023, que produz os refugiados de Gaza e nenhuma perspectiva de progresso econômico nem melhoria social, apenas submissão e selvageria, chegou-se ao ponto de impedir o retorno de homens, mulheres e crianças a seu próprio país natal, num comportamento que só tem paralelo com os piores momentos da História humana.

A luta continua, sempre mais áspera.

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