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    Joaquim de Carvalho

    Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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    Empresário que denunciou festa da cueca é alvo de ações violentas da PM do Paraná

    Vítima de acusação falsa, Tony Garcia foi cercado por policiais com fuzis, e o filho levou soco, teve celular quebrado e foi injustamente acusado de tráfico

    Tony Garcia, o filho e Sergio Moro: perseguição (Foto: Arquivo pessoal | Divulgação | ABR )

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    O empresário Antônio Celso Garcia, o Tony, autor da denúncia que expôs o método criminoso de Sergio Moro e abalou os alicerces da lavajatismo, está sendo constrangido por policiais militares do Paraná. Cerca de quinze dias depois da entrevista que deu à TV 247, em maio do ano passado, em que denunciou a festa da cueca, entre outros crimes, seu filho caçula, de 21 anos, foi parado pela Polícia Militar em Curitiba. 

    Era final de noite, e ele e amigos voltavam de uma festa, em mais de um carro, mas apenas o do filho de Tony foi revistado por PMs, que encontraram uma pequena quantidade de maconha no carro e um cogumelo. Levado para a delegacia, o filho de Tony permaneceu detido até as 10 horas da manhã do dia seguinte, e foi enquadrado por tráfico. O Ministério Público concordou com o enquadramento, apesar da pequena quantidade de maconha encontrada no carro, 43 gramas.

    Há cerca de um mês, depois que um amigo do filho de Tony levou nota do cogumelo e provou que era dele e usado por recomendação médica (teve leucemia) e também em razão da pequena quantidade de maconha, a Justiça o absolveu, mas o estrago na vida do jovem já estava feito. 

    Tony Garcia contratou advogados, ficou com o filho na delegacia até ele sair, e o orientou a passar a gravar policiais que, eventualmente, voltarem a abordá-lo. E não recuou das denúncias que, a essa altura, já estavam sob jurisdição do ministro Dias Toffoli, do STF, com Moro sendo investigado. 

    Algumas semanas depois, o jovem voltou a ser parado na rua por duas viaturas, quando voltava sozinho de Caiobá, cidade litorânea para onde havia levado sua namorada. Os policiais o revistaram e, quando ele tentou gravar, teve seu celular quebrado. 

    Tony denunciou o caso à Secretaria de Segurança, mas o filho continuou sendo alvo de policiais. Há cerca de quinze dias, quando tentou entrar numa das mais conhecidas baladas de Curitiba, o Club Vibe, foi agredido por um PM que fazia bico de segurança. Levou um soco e foi jogado ao chão. A confusão começou porque o jovem queria conversar com o dono, para que um amigo também pudesse entrar.

    Todas essas agressões são apenas coincidência? Quando se sabe o que aconteceu com o próprio Tony Garcia, em abril deste ano, fica difícil acreditar nessa hipótese. O empresário estava numa clínica, no bairro do Batel, quando quatro policiais armados de fuzis bateram na porta. Com postura agressiva, perguntaram quem era dono de uma Mercedes conversível estacionada ali.

    “Sou eu”, disse Tony, diante da secretária da clínica. Os policiais deram ordem para que ele os acompanhasse para que revistassem o carro. Tony começou a gravá-los, perguntou o nome de todos e quis saber a razão da abordagem. “É que recebemos várias denúncias anônimas de que o dono do carro apontou uma arma para alguém na avenida”, responderam os policiais. Tony disse que era mentira e quis saber se tinham alguma evidência das “denúncias anônimas”. Sempre gravando, perguntou o nome de cada um, e lembrou que aquilo era um abuso. Diante dessa postura firme, os policiais foram embora.

    Tony falou pela primeira vez sobre essa rotina de perseguição. “É uma violência muito grande o que estão fazendo. Mas que todos saibam, esses policiais e também o mandante ou mandantes: eu não vou recuar”, declarou. 

    Há alguns meses, um inquérito foi aberto na Polícia Federal por determinação do ministro Dias Toffoli, que hoje está sob a supervisão do desembargador Carlos von Adamek, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Moro é oficialmente investigado.

    Adamek assumiu o posto de magistrado auxiliar de Toffoli em agosto deste ano. Antes disso, ele já tinha trabalhado como assessor do ministro Luis Felipe Salomão, que foi corregedor nacional de Justiça e, nessa condição, fez uma correição na 13a. Vara Federal de Curitiba e também no TRF-4, a partir de uma representação do juiz Eduardo Appio e também das denúncias de Tony Garcia

    O empresário encaminhou as fotos e os vídeos das agressões contra ele e o filho para as autoridades que investigam Sergio Moro e outros agentes públicos envolvidos nos casos que denunciou. 

    Como se sabe, o empresário contou ao 247, em maio do ano passado, que foi agente infiltrado de Sergio Moro, e que, nessa função, não prevista pelo ordenamento jurídico, cometeu crimes, inclusive concedendo entrevista mentirosa para a revista Veja, com falsas acusações contra José Dirceu. 

    Também ajudou Sergio Moro a apreender a gravação de um encontro de desembargadores do TRF-4 com prostitutas, no hotel Bourbon, uma orgia que ficou conhecida como festa da cueca. Essa gravação foi entregue a Sergio Moro, mas foi mantida sob sigilo, num processo que, há pouco tempo, acabou sendo localizado por policiais federais que investigam o ex-juiz, com a colaboração de Tony Garcia.

    Não houve investigação sobre a razão da festa da cueca, que estaria ligada a lobby no Tribunal. Nos bastidores do Judiciário do Paraná, comenta-se que esta foi uma das provas que Moro acumulou para controlar a segunda instância da Justiça Federal no Sul. Moro foi procurado pelo 247, em mais de uma ocasião, mas não quis se manifestar.

    Quando Tony Garcia aceitou participar de uma rotina de ilegalidades comandada por Moro, com ajuda de procuradores da república, nomeadamente Januário Paludo e Carlos Fernando dos Santos Lima, que mais tarde, seriam uma espécie de mentores de Deltan Dallagnol, ele era um empresário de 52 anos de idade. Era novembro de 2004.

    Tinha sido deputado estadual e quase eleito senador duas vezes. Era bem-sucedido nos negócios e influente na política, desde a eleição de Fernando Collor, em 1989. Membro da elite do País, especialmente do Paraná, cedeu à pressão de Moro para gravar autoridades com prerrogativa de foro.

    Nunca tinha sido preso, mas, por um caso antigo e controverso, Moro cassou sua liberdade e, para sair da cadeia, Tony aceitou assumir o papel de agente infiltrado. Quando seus algozes atacam agora sua família e a ele próprio, talvez imaginem que cederá. Só que hoje, aos 72 anos, Tony Garcia está mais maduro e decidiu que deve à esposa, filhos, irmão e demais familiares e amigos revelar toda a verdade sobre Moro e seus aliados (ou cúmplices?). 

    “Não sou bandido. Bandidos são eles, e estou mostrando ao Brasil”, afirmou. Tony Garcia e a família precisam ser protegidos.

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    PS: A imagem do filho caçula de Tony, numa ligação ao pai depois de ser agredido por um PM, está sendo publicada com autorização. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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