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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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Enquanto o mundo se divide entre amor e ódio por Trump, aqui na Alemanha quase todos anseiam por comemorar a sua queda

Nestes momentos de incerteza e apreensão é confortante saber que há potências mundiais que abominam este cidadão e anseiam por sua decadência

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Uma vez que neste meu artigo ainda não posso oficialmente celebrar o desmoronamento de Trump – algo com o qual sonho há quatro anos – decidi trazer ao leitor e à leitora uma imagem de como está o ambiente com relação a este tema na Alemanha.

Como país que encabeça a União Europeia, sua opinião pública com relação aos EUA é de suma importância para o mundo inteiro. Por isso, é com satisfação que posso lhes comunicar que por aqui, fundamentalmente falando, quase todos possuem verdadeira repugnância a Donald J. Trump.

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Tal realidade me é clara desde 2015, durante a asquerosa campanha eleitoral do nova-iorquino, e mostrarei a vocês como esta não somente se manteve, mas se potencializou ao longo dos últimos quatro anos. Mas antes gostaria de traçar um panorama acerca da imagem que possui o povo da Alemanha com relação aos EUA como um todo, independentemente de Trump.

Bem, essa imagem nunca foi favorável, primeiramente por motivos históricos, afinal os EUA estão entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial. Após a vitória, os estadunidenses se instalaram em Berlim e em outras cidades e até hoje pode-se notar os resquícios dessa presença, que continua a estampar o retrato de uma época que ainda atinge muito profundamente a psique do alemão. Além disso, há – não somente na Alemanha, mas em toda a Europa ocidental – o típico sentimento eurocentrista que considera o americano fútil, vazio, consumista, produtor de um capitalismo selvagem que o autodevora e de uma cultura descartável vendida em enlatados. É postura prepotente e arrogante por parte do europeu, confirmando seu esteriótipo? Sim. Mas que a crítica aos ianques é – ao menos em grande parte – real, também é verdade.

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Mas além do “alemão alemão”, há também todos os outros habitantes da Alemanha (sejam cidadãos ou não), de ascendência estrangeira, que correspondem a cerca de um quarto da população. Entre estes, o mais presente é o povo de descendência turca, seguido dos russos e eslavos de modo geral. E todos esses povos possuem motivos históricos e contemporâneos (religião, guerras, imperialismo etc) para desgostar dos EUA.

Assim, os estadunidenses são a princípio malvistos aqui desde sempre. Porém há uma clara flutuação nesta temática. Lembro-me de grande aprovação de Obama por aqui e recuperei uma pesquisa de 2013 intitulada ‘In Germany, they still love Obama’ (“Na Alemanha eles ainda amam Obama”, Pew Research) que indica que de 2008 a 2013 a confiança do alemão em Barack variava entre 88% e 93%.

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Pois bem, com Trump a história é simplesmente oposta. O mesmo instituto de pesquisa publicou em janeiro deste ano dados de diversos lugares do mundo. De toda a Europa ocidental, a Alemanha é o país em que há menos confiança no cidadão em questão, 13%. E mais interessante ainda é a enquete atual (instituto Civey), feita durante três meses e concluída exatamente em 3/11, dia das eleições nos EUA. Perguntados sobre como avaliam a presidência de Trump, 77,4% dos que responderam afirmaram considerar “péssima”, enquanto 8,2% assinalaram “ruim”. Somente 14% escolheram as opções “boa” ou “muito boa”.

E os números não mentem: a extrema-direita alemã constitui justamente este valor, com poucas variações. Estipula-se, graças a muito frequentes pesquisas e constantes análises sociais, que entre 10% e 15% da população alemã seja ultradireitista e/ou neonazista. Segundo os mais recentes resultados (uma média de pesquisas de diversos institutos), o AfD – partido neonazi de roupagem contemporânea – conta com o apoio de 10,7% do povo.

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Ou seja, não há dúvidas de que ao menos em terras alemãs, o “mais perigoso presidente da história”, como o caracterizou Bernie Sanders, é realmente detestado pela absoluta maioria. Inclusive, nos dias que antecederam as eleições, um dos inesquecíveis (e que entrará para a História) protestos artísticos anti-Trump se deu justamente em Berlim. A equipe da unidade alemã do museu de cera mais famoso do mundo, o inglês Madame Tussauds, simplesmente e corajosamente ignorou quaisquer protocolos, jogou a estátua de Trump em uma lixeira e expôs ao público. Esta, além de lotada de sacos de lixo que rodeavam o “clown de cera”, possuía placas que diziam ‘Fake News’, ‘You are fired’ (“Você está despedido”, referência ao jargão utilizado por ele em seu programa de televisão) e ‘I love Berlin’ (“Eu amo Berlim”). Abaixo do nome e do logotipo do museu, saltava aos olhos a mensagem ‘Dump Trump – Make America Great Again’ (“Despeje Trump – Faça a América grande novamente”) se utilizando ironicamente de seu próprio slogan.

Enfim, nestes momentos de incerteza e apreensão é confortante saber que há potências mundiais que abominam este cidadão e anseiam por sua decadência. Espero muito que possamos comemorar em breve aqui na Alemanha e em diversos outros locais do mundo a queda deste cidadão que abriu a Caixa de Pandora em nossos tempos. O país que passou pelo Nazismo sabe muito bem diagnosticar quando um novo projeto de Führer anda pela Terra. Queira então o destino que estejamos a testemunhar seus últimos passos em qualquer posição de poder e suas últimas oportunidades de disseminar e legitimar o ódio no planeta.

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