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Cesar Locatelli

Economista e mestre em economia.

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Entre lucro e verdade, Spotify escolhe o primeiro

60 anos de música de Neil Young ficaram de fora da plataforma que decidiu continuar com podcast negacionista, escreve César Locatelli

Neil Young e Joe Rogan (Foto: Reuters | Reprodução/Youtube)
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Aos poucos destaca-se a combinação perniciosa, nos aplicativos de comunicação da internet, entre a busca de lucro com franco incentivo a uma inundação de discursos de ódio, desinformação e celebrações de violência.

Recentes informações internas, os chamados Facebook Papers, trazidas ao conhecimento público pela ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, dão conta que os algoritmos utilizados por essa empresa, para manter seus usuários mobilizados, acabam por incentivar publicações com esse tipo de conteúdo malévolo.

Ao buscar entender o que resultaria se um usuário genérico seguisse as orientações dos algoritmos do Facebook na Índia, uma pesquisadora interna da empresa conta o que apareceu em sua linha do tempo: “seguindo o feed de notícias desse usuário de teste, vi mais imagens de pessoas mortas nas últimas três semanas do que em toda a minha vida”.

“O feed de notícias do usuário de teste tornou-se uma enxurrada quase constante de conteúdo nacionalista polarizado, desinformação, violência e sanguinolência”, acrescentou a pesquisadora.

O confronto de Neil Young com o Spotify parece revelar outra face da mesma questão. Desgostoso por estar lado a lado, na plataforma Spotify, com o podcast de um negacionista antivacinas e divulgador de notícias falsas e teorias da conspiração, o músico canadense sentiu-se na obrigação de agir e convocar aqueles que sustentam a plataforma, os músicos, para fazerem o mesmo.

“O Spotify tornou-se, recentemente, uma força muito prejudicial por sua desinformação pública e mentiras sobre a COVID”.

Neil Young refere-se ao podcast Joe Rogan Experience (JRE), distribuído exclusivamente pelo Spotify, com estimados 11 milhões de ouvintes a cada episódio. “O Spotify tem a responsabilidade de mitigar a disseminação de desinformação em sua plataforma”, acrescentou Young.

O músico conta que foi alertado para essa divulgação de informações falsas por meio de uma carta aberta, assinada por 270 especialistas de saúde, preocupados com as teorias da conspiração infundadas e a transmissão de desinformação, especialmente em relação à Covid:

Diz a carta dos profissionais de saúde: “Ao permitir a propagação de afirmações falsas e socialmente prejudiciais, o Spotify dá, à mídia hospedada em seus domínios, a possibilidade de prejudicar a confiança do público na pesquisa científica e semear dúvidas na credibilidade da orientação baseada em dados oferecida por profissionais médicos. O podcast JRE, episódio #1757, não é a única transgressão a ocorrer na plataforma Spotify, mas um exemplo relevante da deficiência da plataforma em mitigar os danos que está causando”.

Young escreveu: “Eles podem ter Rogan ou Young. Não ambos”.

O site Daily Beast relatou que Rogan assinou, em maio de 2020, um contrato de exclusividade como o Spotify, para veicular seu programa, no valor de 100 milhões de dólares. Valor que parece evidenciar que a decisão do Spotify de permanecer com o podcast de Rogan passou a milhas de distância de qualquer preocupação ética.

Segue a íntegra da carta de Neil Young publicada em seu site.

* * *

Em nome da verdade

O Spotify tornou-se recentemente uma força muito prejudicial por conta da desinformação pública e das mentiras sobre a COVID hospedadas em sua plataforma.

Eu soube desse problema pela primeira vez lendo que mais de 200 médicos uniram forças, opondo-se às perigosas falsidades sobre a COVID que colocam vidas em risco e são encontradas na programação do Spotify.

A maioria dos que ouvem as informações não factuais, enganosas e falsas sobre a COVID no Spotify tem 24 anos. Uma idade em que são impressionáveis e podem, facilmente, oscilar para o lado errado da verdade.

Esses jovens acreditam que o Spotify nunca apresentaria informações grosseiramente não factuais. Eles infelizmente estão errados. Eu sabia que tinha que tentar trazer esse assunto à luz.

Todas as minhas músicas estão disponíveis no Spotify, sendo vendidas para esses jovens, pessoas que acreditam no que estão ouvindo porque está no Spotify, e pessoas como eu estão sustentando o Spotify, apresentando minha música lá.

Percebi que não poderia continuar apoiando a desinformação que ameaça a vida, promovida pelo Spotify para o público amante da música.

Antes de contar aos meus amigos da Warner Bros sobre meu desejo de deixar a plataforma Spotify, fui lembrado por minha própria assessoria jurídica que contratualmente eu não tinha o controle da minha música para fazer isso. Eu anunciei que estava saindo do Spotify de qualquer maneira, porque eu sabia que estava. Eu estava preparado para fazer tudo o que pudesse e mais um pouco para garantir que isso acontecesse.

Quero agradecer à minha grande e solidária gravadora Warner Brothers – Reprise Records, por estar comigo na minha decisão de retirar todas as minhas músicas do Spotify. Obrigado!

O Spotify representa 60% da veiculação da minha música por plataformas de streaming para ouvintes ao redor do mundo, quase todos os discos que lancei estão disponíveis – a música de toda minha vida – uma grande perda para minha gravadora absorver. No entanto, meus amigos da Warner Brothers Reprise me apoiaram, reconhecendo a ameaça que a desinformação sobre a COVID no Spotify representa para o mundo – principalmente para nossos jovens que pensam que tudo o que ouvem no Spotify é verdade. Infelizmente não é.

Obrigado Warner Brothers por, em nome da verdade, me apoiar e levar o golpe – perdendo 60% da minha renda mundial gerada nas plataformas de streaming.

O Spotify tornou-se o lar da desinformação, que coloca vidas em risco, sobre a COVID. Mentiras sendo vendidas por dinheiro.

Há uma vantagem para meus ouvintes, pessoas que podem estar ouvindo os 60 anos de música que fiz na minha vida até agora. É isso: muitas outras plataformas, Amazon, Apple e Qobuz, para citar algumas, apresentam minha música hoje em toda a glória de alta resolução - da maneira como ela deve ser ouvida, enquanto infelizmente o Spotify, continua vendendo a qualidade mais baixa na reprodução musical. Uma decepção para a arte. Mas agora isso é passado para mim. Em breve minha música viverá em um lugar melhor.

Eu realmente quero agradecer às muitas, muitas pessoas que me procuraram agradecendo por assumir essa posição - pessoas que são profissionais de saúde na linha de frente, pessoas que perderam entes queridos para a COVID ou que estão preocupadas com seus próprios filhos e famílias. Nunca senti tanto amor vindo de tantos.

Espero sinceramente que outros artistas e gravadoras saiam da plataforma Spotify, e parem de apoiar a desinformação mortal do Spotify, sobre a COVID.

Em nome da Verdade.

Neil Young

“Eles podem ter Rogan ou Young. Não os dois.”

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