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Sara Goes

Sara Goes é jornalista e âncora da TV 247 e TV Atitude Popular. Nordestina antes de brasileira, mãe e militante, escreve ensaios que misturam experiência íntima e crítica social, sempre com atenção às formas de captura emocional e guerra informacional. Atua também em projetos de comunicação popular, soberania digital e formação política. Editora do site codigoaberto.net

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Entre selfies em Washington e prejuízos no Ceará: a era Trump vista por aqui

O Ceará virou vítima involuntária do trumpismo

Presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca - 04/02/2025 (Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz)

Mal se recuperou da hipotermia causada pelas ruas gélidas de Washington, Priscila Costa (PL), a vereadora mais votada de Fortaleza e devota da seita bolsonarista, viu suas selfies envelhecerem mal antes do previsto. Menos de três semanas depois de se esgoelar aplaudindo Donald Trump, o presidente estadunidense (importante não confundir com cearense, caso seja o engano da vereadora) anunciou um aumento de 25% nas tarifas do aço. E assim o Ceará virou vítima involuntária do trumpismo. 

Priscila, líder da oposição na Câmara Municipal de Fortaleza, foi a única representante cearense na cerimônia de posse de Trump, em 20 de janeiro. Com seus impressionantes 36 mil votos, fez questão de documentar cada momento da viagem. Outras figuras locais, como Carmelo Neto (PL), Dayany Bittencourt (União) e Capitã Cloroquina (Mayra Pinheiro) (PL), até cogitaram ir, mas desistiram. Priscila não só embarcou como transformou a visita num reality show ruim nas redes sociais. Em vídeos e postagens, surgiu emocionada em videochaamada com o inviajável e inelegível Bolsonaro. Seu marido também estava lá, afinal, nada diz "missão diplomática" como um passeio turístico com o “conje”.

Mas enquanto Priscila ainda aproveita as imagens em #TBTs, o Ceará sente os primeiros golpes das políticas que ela tanto idolatra. O estado, altamente dependente das exportações de aço para os EUA, vê suas perspectivas econômicas minguarem com o anúncio das novas tarifas anunciadas em 10 de fevereiro. Em 2024, o aço representou quase 40% das vendas externas cearenses, cerca de US$545 milhões, sendo 80% do destino delas para os Estados Unidos. Especialistas já estimam uma queda de 20% nas exportações para o mercado americano. Isso pode significar uma perda de mais de R$ 600 milhões para a economia local — meio bilhão escorrendo pelo ralo de más decisões. Se depender da vereadora, ela fará a America great às custas do próprio estado.

Mas o estrago não para aí. A arrecadação estadual deve sentir o baque, com menos negócios sendo fechados e uma queda considerável no ICMS - aquele imposto que banca boa parte dos serviços públicos. Dinheiro que faria falta até para tapar os buracos das ruas de Fortaleza, quanto mais para investir em saúde ou educação. Até 20% dos empregos ligados à indústria metalúrgica podem evaporar, deixando famílias inteiras na fila do seguro-desemprego, enquanto as siderúrgicas tentam sobreviver em um mercado cada vez mais instável. 

Enquanto isso, Priscila Costa e sua seita bolsonaristas seguem exibindo seu patriotismo peculiar e prometendo que o dia 16 de março (não mais 20 de janeiro, menina?) será a próxima data cabalística cósmica ungida que livrará o país do comunismo e o alinhará com as doutrinas econômicas trumpistas que desempregam cearenses e desequilibram as contas do estado. Genial. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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