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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Errar por último

Supremo reafirma seu poder absoluto. A imprensa tropeça

Fachada do STF (Foto: Wallace Martins/STF)

Alexandre de Moraes errou feio — e em maiúsculas — no voto prolatado. Teve a hombridade de corrigir, mas (veja bem: mas) o episódio deixa aprendizados. Diz-se que a Justiça pode até errar, mas o STF tem o direito de errar por último — e, pelo jeito, o faz até na língua pátria. Quisera que o caso influenciasse todos os praticantes da comunicação escrita a revisarem seus textos antes de publicá-los.

Os jornalões são pródigos em errar no vernáculo, mas pouco ágeis na correção. O comentário que abre este texto foi até publicado pelo Estadão em sua versão digital, insistindo em escrever o STF por extenso, como se não soubéssemos seu significado. Até os Estados Unidos sabem. Dezenas de caracteres a mais em espaço, que antes era nobre e caro, traduzidos como centímetros quadrados de uma folha impressa de jornal. Primeiro, erramos no conceito e, depois, na grafia.

Falando em Supremo, o colunista Sérgio Rodrigues foi direto ao ponto, como sempre, em “A suprema desonra e outras penitências” (Folha de S. Paulo, 24/7), ao comentar a fala do mais recente portador de tornozeleira eletrônica, que usou a expressão para cutucar o STF, resgatando a origem da palavra humilhação. Talvez fique para uma próxima coluna falar da segunda parte da expressão — supremo, o mais elevado, acima de tudo — para traçar um paralelo com o slogan fascista que sempre acompanhou Jair: a familícia acima de tudo (ou suprema família).

E a suprema falácia atual é essa que Donald Trump tenta impingir aos brasileiros, entrando em disputa política disfarçada de guerra comercial e tarifária. Em qual outro lugar do mundo o discurso imperialista encontraria vozes que o apoiam? Até Folha e Estadão estão querendo a prisão de Eduardo Bolsonaro, por meio de editoriais publicados, e supostamente se afastam do extremismo de direita. E quem elegem como seu representante? Sim, o governador fluminense de São Paulo. Os Bolsonaros são criminosos, comprovado pelos fatos e pela Justiça — e, pelo jeito, isso já está sendo aceito pela imprensa e pelo mercado. No entanto, no editorial “Eduardo Bolsonaro, inimigo do Brasil” (31/7), a Folha falha ao se esquecer do boné MAGA usado pelo governador paulista quando do anúncio das retaliações norte-americanas — ele que é bolsonarista raiz. Esse erro da chamada elite empresarial será de todos nós. E, infelizmente, não será o último.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.