Escândalo das criptomoedas: Milei, propaganda enganosa ou algo mais?
"O que leva um presidente a fazer parte de um ato de especulação financeira?", questiona a colunista Marcia Carmo
A primeira reação de Milei foi acusar a oposição, usando sua já tradicional artilharia de insultos. “Aos ratos imundos da casta política, que querem aproveitar essa situação, para fazer danos, aviso que só aumentam nossa certeza de tirá-los com pontapés no c...”.
Mas foi um tuíte dele, presidente do país, que gerou perdas e ganhos financeiros e uma série de questionamentos sobre ética pública e respeito (ou desrespeito) pela investidura presidencial.
Na noite de sexta-feira (14), o presidente argentino escreveu no X, promovendo uma criptomoeda: “Esse projeto privado será dedicado ao crescimento da economia argentina, apoiando pequenas e médias empresas. O mundo quer investir na Argentina $Libra”.
A até então desconhecida $Libra multiplicou seu valor. E desabou pouco depois, na mesma noite de sexta-feira. Quem percebeu que o negócio era insustentável, conseguiu sair no lucro, dizem especialistas. Mas a maioria que apostou na sugestão da palavra presidencial, perdeu, explicam. Milei só eliminou seu tuíte na madrugada de sábado e muito depois que os analistas do ramo já tinham alertado para os riscos dessa criptomoeda.
O ato de Milei é o principal assunto na Argentina. E levou setores da oposição à defesa de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue os vínculos do presidente com a KIP Protocol, da $Libra, de um empresário com origens em Cingapura, e suas ramificações. Ramificações que, como publica a imprensa argentina neste domingo, envolvem um espanhol com histórico de estafas e um estadunidense, que esteve cinco vezes na Casa Rosada, a sede da Presidência, e na residência presidencial de Olivos.
Segundo reportagem do La Nación, de Buenos Aires, Milei “conhece e até se reuniu e trabalhou para alguns dos empresários envolvidos com o empreendimento da criptomoeda $Libra”, nos últimos quatro anos.
Preocupado, Milei conversou com seus assessores do setor jurídico para saber as possíveis consequências – do tuíte, dos cerca de 40 mil seguidores que teriam perdido dinheiro, de acordo com a imprensa local, e diante da decisão da oposição de tentar instaurar uma CPI. Quando viram sua mensagem no X, muitos pensaram que a conta dele – onde passa horas tuitando – teria sido hackeada.
Mas Milei disse à agência Bloomberg que era ele mesmo o autor dos versos na rede social. “O episódio pode marcar o fim da inocência (entre os apoiadores de Milei)”, escreveu um colunista do Clarín, de Buenos Aires.
São várias as perguntas feitas agora nas rodas políticas e em setores empresariais, na Argentina. E uma das perguntas, sem dúvida, é: o que leva um presidente a fazer parte de um ato de especulação financeira? O governo determinou que o caso seja investigado, setores da oposição querem uma CPI e já surgiram as primeiras ações na Justiça.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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