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Marlon Marques

Mestre em História Social Pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do Laboratório de Economia e História (Lehi) e do Núcleo de Estudos sobre Capitalismo, Poder e Lutas Sociais (Necap)

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Escola sem Partido é escola sem História

O que os censores querem não é modificar o conteúdo escolar, mas impedir as abordagens libertadoras, cercear o direto do professor de instigar a contradição e o debate de ideias

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Marc Bloch, um dos cânones recentes mais importantes para a ciência histórica contemporânea, dizia que o historiador deve interpelar o passado de forma crítica não para julgá-lo se ele foi bom ou ruim, mas para compreendê-lo. Faz algum tempo que cientistas da história de várias gerações se esforçam para entender as diferentes sociedades humanas, suas peculiaridades, suas formas de vida, seus problemas e suas realizações.

Essa dedicação produziu trabalhos respeitados pelo mundo afora, pesquisas que desvendaram horrores e belezas sobre o resultado da atuação humana no tempo. Por esse motivo a história continua sendo uma disciplina importante nos sistemas de educação mais avançados do mundo. A historiografia é capaz de confrontar-nos com outras sociedades distantes e distintas produzindo de fato uma contraposição humana entre o que já fomos e o que somos.

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É claro que historiadores não têm mais a pretensão de serem mestres da vida e nem entendem que a história humana esteja sempre em rota evolutiva. Mas a disciplina histórica continua sendo uma forma de demonstrar para aqueles que estão nos bancos escolares que não existe só uma sociedade humana, não apenas um modo de viver e de existir e de que nosso próprio modo de vida terá um fim no tempo. Sendo assim a história tem a responsabilidade de desnaturalizar tudo.

Mas para cumprir seu papel os historiadores e os educadores precisam talvez de uma das ferramentas mais básicas que se possa reivindicar: liberdade de pensamento e de cátedra. Justamente os dois princípios que agora são duramente atacados pelo movimento "Escola sem Partido", que mais adequadamente foi rebatizado pelos professores de Escola com Mordaça.

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Dizem os defensores da mordaça que o professor não deve ter liberdade de cátedra porque seus alunos são ouvintes cativos e não possuem força para contestar o que é dito ou não dito pelo professor. Os censuradores de nossa época, que talvez não tenham nem sequer pisado em uma ou duas reuniões de pais, não sabem que os professores, a escola e os livros didáticos não são e nunca foram as únicas ferramentas que formam os discentes. Talvez pudessem saber se tivessem lido Paulo Freire, pedagogo no qual demonizam mesmo desconhecendo completamente.

A liberdade de cátedra permite que os professores possam escolher a melhor abordagem de um determinado conteúdo. O conteúdo a ser ministrado, por sua vez, não é elaborado pelo docente e sim pelas secretarias municipais, estaduais e pelo próprio Ministério da Educação. Portanto, o que os censores querem não é modificar o conteúdo escolar, mas impedir as abordagens libertadoras, cercear o direto do professor de instigar a contradição e o debate de ideias.

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Mas a agenda dos defensores da mordaça tem uma razão de existir: querem que formemos discentes alienados, serviçais do grande capital, indivíduos cuja existência se resuma ao trabalho e à pregação religiosa. Nesse projeto de educação cabe apenas a pedagogia tecnicista dos anos 70, que enquadra todos nós ao propósito do mercado. Por isso, na "Escola sem Partido" também não há espaço para a Sociologia ou a Filosofia e, claro, muito menos para a história.

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