Escrever para não esquecer. Lembrar para que não se repita

Cinco anos atrás: agosto de 2018.

Começava a campanha eleitoral. O PT escolhia Haddad como vice de Lula que, preso desde abril daquele ano, ainda lutava pelo direito de registrar a chapa e candidatar-se à presidência da República, posto que liderava todas as pesquisas até então.

Com a negativa do registro pela Justiça Eleitoral, no mês seguinte Haddad seria o titular da chapa.

Naquele malfadado agosto, já três anos após o golpe que afastara Dilma da presidência, com o governo estadual em enorme dificuldade financeira (salários escalonados, atrasos nos repasses para municípios…), agravada pelo boicote do governo golpista de Michel Temer e pela absurda perseguição policial/judicial da tal “Operação Acrônimo” montada contra mim, eu era candidato a uma reeleição em Minas que, desde logo, sabia ser impossível.

Mas não havia outra opção. Eu não podia e não queria abandonar o barco no qual ingressara naquele longínquo 1968, quando a resistência à ditadura militar ganhara as ruas com as passeatas estudantis e mobilizações populares. O AI-5, no final daquele ano, nos empurraria para a clandestinidade e, no meu caso, para a prisão política. Essa era a minha militância, esse era o meu barco, e dele não me afastaria mesmo naquele momento de aparente naufrágio.

De fato, nenhum partido e nenhum homem público tinha sido até então tão fortemente atacado e desconstruído quanto o PT e Lula. Entre 2015 e 2018 todos os dias, toda a mídia, alimentada pela Lava Jato, tinha material farto para a “operação de destruição e apagamento” de Lula e do PT.

A canalhice da Lavajato, hoje totalmente exposta e comprovada pelos arquivos abertos no episódio do “hacker” de Araraquara, o reiterado e flagrante desrespeito ao devido processo legal, o conluio da midia e de parte considerável da esfera empresarial e política, tudo isso criou o ambiente para condenação absolutamente injusta e a prisão de Lula.

Ninguém poderia imaginar que, cinco anos depois, teríamos conseguido vencer a mais cruel batalha política e jurídica da história da Republica, pelo menos desde a perseguição implacável ao Presidente Getúlio Vargas na década de 50 do século passado.

Hoje, com Lula de volta à Presidência, totalmente inocentado, liberto e eleito pelo voto popular e, no meu caso, com as absolvições e encerramento de todas as Ações Penais originárias da famigerada operação Acrônimo, celebramos a posse do seu advogado de defesa, dr. Cristiano Zanin, como ministro do STF. É evidente o simbolismo desse fato: o triunfo da Verdade e do Direito, sobre a Mentira e a Injustiça.

O Brasil pagou e ainda paga um preço enorme pelos anos fascistas de Moro, Dallagnol e Bolsonaro, o afastamento da presidenta Dilma e a prisão e o alijamento de Lula das eleições de 2018. Tudo isso ainda precisa ser passado a limpo, examinado e julgado, não por ressentimento ou vingança, mas como parte do processo de reconstrução do Estado Democrático de Direito.

Saudemos portanto a posse do ministro Zanin à nossa Suprema Corte, desejando que esse ato seja parte da imprescindível reconstrução. E brademos, como o professor Adolfo Perez Esquivel (argentino premiado com o Nobel da Paz por sua luta contra a ditadura militar naquele país) ou como o nosso saudoso dr. Ulysses Guimarães, o “Senhor Constituinte” de 1988, em alto e bom som: “Ditadura, NUNCA MAIS!!!!”