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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Esquerdistas, petistas e lulistas – algumas diferenças

Qualquer um pode se irritar com o que quiser. Lula só não pode esquecer que o conceito de 'esquerda', mesmo a brasileira, não lhe pertence. Como também o conceito de 'petismo', a rigor, não é seu 'domínio' a ponto de querer que o partido não pensasse, só a sua opinião fosse correta

Qualquer um pode se irritar com o que quiser. Lula só não pode esquecer que o conceito de 'esquerda', mesmo a brasileira, não lhe pertence. Como também o conceito de 'petismo', a rigor, não é seu 'domínio' a ponto de querer que o partido não pensasse, só a sua opinião fosse correta (Foto: Jean Menezes de Aguiar)
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'Em geral, não contém a mentalidade conservadora, por si própria, predisposição teorizante', Paulo Mercadante, no livro A consciência conservadora no Brasil, p. 227. Esta verdade sempre foi incômoda à direita e a conservadores em geral. Parece não haver ali, mesmo, muitos intelectuais e pensadores.

Noticiou-se que Lula ficou 'irritado' com petistas e lideranças do Psol por terem discutido rumos da esquerda ou da governabilidade do país, na semana de 23.6.17.

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Qualquer um pode se irritar com o que quiser. Lula só não pode esquecer que o conceito de 'esquerda', mesmo a brasileira, não lhe pertence. Como também o conceito de 'petismo', a rigor, não é seu 'domínio' a ponto de querer que o partido não pensasse, só a sua opinião fosse correta.

Percebem-se aí diferenças possíveis e interessantes. Esquerda, petistas e lulistas.

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'Esquerda' é um conceito secular e mundial que filósofos políticos nunca deixaram de usar. Liga-se ao conceito de direitos em primazia. Exatamente por isso Norberto Bobbio, na obra Teoria geral da política, p. 475, abre o capítulo intitulado 'O primado dos direitos sobre os deveres' citando Kant num jogo circular interessante de conceitos. Entendendo 'o direito como a faculdade moral de obrigar outros', registra que 'o homem tem direitos inatos e adquiridos', mas o único direito inato, não transmitido por uma autoridade, é a liberdade.

A nobreza e a história da esquerda, ligada aos direitos do homem em oposição a um Estado originariamente opressor – e ainda é assim-, qualificou e comprometeu esta mesma esquerda com a liberdade. O jurista Celso Bastos ensinava que o Estado é um 'aparato de força'. Repare que em todos os países avançados e democráticos esta equação difícil Estado-liberdade nunca foi suplantada, e às vezes se agudiza.

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A gênese da esquerda antecede à vida do respeitável ex-presidente brasileiro Lula, no caso concreto do Brasil, mesmo sendo ele o esquerdista político mais proeminente de sua história. Se Lula 'deixou' de ser esquerdista para ser lulista, numa intensificação personalista concreta de o que seria uma esquerda prêt-à-porter de Lula é outro assunto. Mas esquerda como conceito é termo genérico e inapropriável, seja a Lenin, a Marx, a Fidel, a Lula.

E registre-se de passagem: se a imagem de Lula não se sujar com uma sentença criminal ligada à corrupção – o tema ainda beira à suspeição- o nome do brasileiro entrará, inegavelmente, para a ordem mundial da meia dúzia de líderes e pensadores esquerdistas que sonharam outra história para as relações sociais. Isto será um mérito para o Brasil importante.

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No Brasil da pós-ditadura última, o conceito de 'esquerda' se confundiu, ou foi apropriado, um pouco ou muito, pelo PT. Mas esta confusão não pode ser totalizada.

Em segundo lugar vem o conceito de 'petistas'. Na história da formação do PT, figuras clássicas e intelectuais compuseram sua criação. Em primeira hora, obviamente o próprio e aí operário Lula, mas também Apolônio de Carvalho, Mário Pedrosa, Antonio Candido, Sérgio Buarque de Holanda e outros. Se esses não contribuíram para a formação do 'conceito' atual 'petista', sem dúvida pensaram o partido, o que em muito definiu, à época, qual sonho sonhar.

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Por outro lado, o conceito atual de 'petista' pode ter sido seriamente influenciado pela 'geração' Lula, mas é sabido que mesmo dentro do PT há naturais discordâncias.

Por fim, o conceito de 'lulismo', quase que como um fator messiânico no sentido de Lula ser, para seus seguidores personalizados pela ideia do Lula-salvador, o dono da verdade e do destino da sociedade. O que Brizola já representou num passado recente para seguidores radicalizados em seu mantra político. Ou até Maluf com seus crédulos ingênuos não conseguindo acreditar – ou compreender- que ele possa estar condenado criminalmente na última instância judicial.

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Lula denota ter um autoritarismo conceitual sobre suas posições particularistas que parece abafar uma discussão partidária saudável. Algo do tipo 'tem que ser do meu jeito, se for, pode tudo'.

Ao mesmo passo que o Lula velho deve ter melhorado em muito sua visão de mundo, como FHC, Pedro Simon e outros, afinal viver é evoluir, não pode se irritar com a natural fuga do conceito de 'esquerda', mesmo dentro de seu PT, para outras possibilidades e modernidades. Isso só fará bem ao Brasil.

Com a apuração da corrupção aparentemente infinita nas entranhas do Estado brasileiro – partidos, políticos e Poderes-, é natural que a esquerda queira – e deva!- se reorganizar. Aliás essa reorganização já passou da hora.

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