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Michael Hudson

Economista norte-americano, professor de economia na Universidade do Missouri do Kansas e pesquisador do Levy Economics Institute do Bard College

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Estados Unidos intensificam sua “democrática” guerra do petróleo no Oriente Próximo

A intenção com o assassinato de Soleimani era intensificar a presença estadunidense no Iraque como fator de controle sobre as reservas petrolíferas locais e também apoiar os wahabis sauditas para manter o domínio dos EUA sobre o petróleo da região enquanto respaldo para o dólar

Flames emerge from flare stacks at Nahr Bin Umar oil field, north of Basra, Iraq September 16, 2019. REUTERS/Essam Al-Sudani - RC1F6B230B80 (Foto: Essam Al Sudani/Reuters)
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Publicado originalmente no site CounterPunch

Tradução: Regina Aquino e Ricardo Silveira

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Para começar o Ano Novo, a grande mídia está tratando de contornar o método usado no aparente desvario cometido pelos EUA ao executar o general Qassem Soleimani do Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica. A lógica subjacente é aplicar – como sempre! – a velha política global dos EUA e não apenas um trejeito compulsivo da personalidade de Donald Trump. Mandar matar o líder militar iraniano foi um ato unilateral de guerra em notório desrespeito ao direito internacional, mas não deixou de ser um passo lógico dentro da tradicional estratégia estadunidense. E foi explicitamente autorizado pelo Senado no projeto de lei orçamentária para o Pentágono aprovado pela casa no ano passado.

A intenção era intensificar a presença estadunidense no Iraque como fator de controle sobre as reservas petrolíferas locais e também apoiar os wahabis sauditas (Estado Islâmico, Al Quaeda no Iraque, Al Nusra e outras divisões do que são, de fato, a legião estrangeira dos EUA) para manter o domínio dos EUA sobre o petróleo da região enquanto respaldo para o dólar. Aí está a chave para essa política externa, que explica a escalada em lugar de uma retração.

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Eu participei de uma discussão sobre essa postura assim que ela foi formulada há quase cinquenta anos, quando trabalhava para o Instituto Hudson frequentando reuniões na Casa Branca e participando de encontros diplomáticos com vários núcleos das Forças Armadas junto à Organização das Nações Unidas. Como economista, eu fazia análise da balança de pagamentos a partir da minha experiência de uma década inteira trabalhando para o Chase Manhattan, para a Arthur Andersen e para diversas empresas nos ramos do petróleo e dos gastos militares. Eis, portanto, duas das três principais dinâmicas da política externa e diplomacia estadunidenses. (A terceira seria: como declarar guerra numa democracia onde os eleitores rejeitavam a convocação militar desde a Guerra do Vietnã?)A mídia e o debate público procuram desviar as atenções, especulando que foi o presidente Trump quem cometeu o ato, a menos que seja para rejeitar a ameaça de impeachment, ou não, com um contra-ataque às avessas ou para apoiar as invocações israelenses de lebensraum, ou simplesmente para submeter a Casa Branca à síndrome neoconservadora de ódio ao Irã. O verdadeiro contexto para a ação neoconservadora foi a balança de pagamentos e a importância que o petróleo e a energia detêm enquanto inesgotável mola-propulsora da diplomacia estadunidense.

A dimensão da balança de pagamentos

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O maior déficit na balança de pagamentos dos EUA há tempos são os gastos militares no exterior. Todo o déficit da balança, desde a Guerra da Coreia em 1950-51 até a Guerra do Vietnã na década de 1960, foi o que levou ao fim do padrão dólar-ouro em 1971. Os estrategistas estadunidenses tiveram que resolver a questão de como continuar sustentando suas 800 bases militares e manter o apoio às tropas aliadas sem perder a alavancagem financeira do país.

A solução aconteceu de ser a substituição do ouro por títulos do Tesouro dos EUA como lastro para as reservas do banco central no exterior. Depois de 1971, os bancos centrais dos demais países quase não tinham outra opção para manter a entrada de dólares que não fosse reciclá-los junto à economia dos EUA através da compra dos seus “títulos”. Assim, o efeito dos gastos militares estadunidenses não afetava a taxa de câmbio da sua moeda; sequer forçava o Tesouro Nacional dos EUA a aumentar a taxa de juros como forma de atrair moeda estrangeira para compensar a saída de dólares do país para cobri-los. A bem da verdade, os gastos militares dos EUA no exterior ajudaram a financiar o déficit orçamentário doméstico em nível nacional.

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A Arábia Saudita e outros países da OPEP no Oriente Médio logo se tornaram um contraforte para o dólar. Depois que eles quadruplicaram o preço do petróleo (em retaliação ao preço igualmente quadruplicado que os EUA impuseram à sua exportação de grãos, o esteio da sua balança comercial), os bancos estadunidenses viveram uma inundação de depósitos estrangeiros – que eram repassados para os países do Terceiro Mundo num surto de empréstimos duvidosos que explodiu em 1972 com a insolvência mexicana e destruíram o crédito governamental do Terceiro Mundo durante uma década inteira levando-os a depender dos EUA através do FMI e do Banco Mundial.

E para culminar, é claro, o que a Arábia Saudita não retém em ativos dolarizados a partir do que ganha com a sua exportação de petróleo é gasto na compra de centenas de bilhões de dólares em armamentos exportados dos EUA. Essa estratégia trava o país num estado de dependência dos EUA para a troca de peças e manutenção desses armamentos e ainda permite que os EUA desliguem todos os equipamentos militares sauditas a qualquer momento, caso estes resolvam buscar independência da política estrangeira daquele país.

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Assim sendo, manter o dólar como lastro cambial no mundo inteiro tornou-se um porto seguro para os gastos militares dos EUA. Os demais países não precisam pagar diretamente ao Pentágono por esses gastos. Eles simplesmente financiam o Tesouro Nacional e o sistema bancário daquele país.

Por temerem tais desdobramentos, os EUA se voltaram contra a Líbia, cujas reservas cambiais eram lastreadas no ouro, e não em dólares, e que tentava convencer outros países africanos a seguirem o mesmo padrão para assim se livrar da “Diplomacia do Dólar”. Hillary e Obama invadiram a Líbia, tomaram suas reservas em ouro (ainda não temos a menor ideia das mãos onde foi parar essa montanha de metal) e destruíram o seu governo, o seu sistema de educação e demais infraestruturas públicas e ainda toda uma série de outras políticas não neoliberais.

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A grande ameaça aí é a desdolarização, na medida em que China, Rússia e outros países tentam evitar a reciclagem de dólares. Sem a função do dólar enquanto veículo para as reservas mundiais – efetivamente, sem que o Pentágono crie os débitos do Tesouro, veículo fundamental para as reservas dos bancos centrais do mundo dolarizado – os EUA ficariam tanto militar quanto diplomaticamente restritos, conforme era o caso sob o padrão dólar-ouro.

Trata-se, portanto, da mesma estratégia que os Estados Unidos seguiram na Síria e no Iraque.

O Irã estava ameaçando essa estratégia de dolarização e o seu pilar na diplomacia estadunidense do petróleo.

A indústria do petróleo como pilar para a balança de pagamentos e diplomacia dos EUA  

A balança comercial se assenta sobre o seu excedente de petróleo e produção agrícola. O petróleo é fundamental, pois é importado por empresas estadunidenses quase sem custo para a balança de pagamentos (os pagamentos vão parar finalmente em casa, nas mãos das empresas petrolíferas, sob a forma de lucros e pagamento para a diretoria), enquanto os lucros sobre as vendas efetuadas por empresas estadunidenses para outros países são remetidos para os EUA (através dos paraísos fiscais no estrangeiro, principalmente a Libéria e o Panamá há vários anos). E, conforme observado acima, os países da OPEP já receberam a ordem de manter suas reservas oficiais sob a forma de títulos dos EUA (ações e outros, bem como declarações de dívida do Tesouro, mas não sob a forma de compra de empresas estadunidenses consideradas economicamente importantes). Financeiramente falando, os países da OPEP são capacho na Área do Dólar.

A tentativa estadunidense para manter esse pilar explica o enfrentamento que o país faz a qualquer governo estrangeiro que se dedique a reverter o aquecimento global e os extremos climáticos causados pela dependência imposta pelos EUA aos demais países. Dá-se portanto que toda e qualquer movimentação nesse sentido – seja de países europeus ou de quaisquer outros, levaria a uma diminuição dessa dependência que todos têm do petróleo estadunidense e a uma consequente diminuição também da capacidade que aquele país tem de regular a torneira mundial do petróleo como forma de controle mesmo e de coerção – é vista como ato de hostilidade.

O petróleo também explica a oposição feita pelos EUA às exportações de petróleo russo através do Nord Stream. Os estrategistas estadunidenses querem tratar a energia como monopólio nacional do seu país. Outros países podem se aproveitar disso conforme fez a Arábia Saudita – enviando o seu excedente para a economia estadunidense – mas não para apoiar o próprio crescimento econômico e a própria diplomacia. Controlar o petróleo implica, portanto, apoiar o aquecimento global enquanto parte inerente da estratégia estadunidense.

Como uma nação "democrática" pode travar guerra internacional e terrorismo

A Guerra do Vietnã mostrou que as democracias modernas não podem pôr exércitos em campo para qualquer grande conflito militar, porque isso exigiria a convocação de seus cidadãos, o que levaria qualquer governo que tentasse tal projeto a ser expulso do poder pelo voto. E sem tropas, não é possível invadir um país e tomar posse dele.

O corolário dessa percepção é que democracias têm somente duas escolhas quando defrontadas com estratégias militares: elas podem engajar o poder aéreo bombardeando os oponentes; ou eles podem criar uma legião estrangeira, ou seja, contratar mercenários ou apoiar governos estrangeiros que fornecem esse serviço militar.

Aqui, mais uma vez, a Arábia Saudita desempenha um papel crítico, através do controle dos wahabi sunitas transformados em jihadistas terroristas dispostos a sabotar, bombardear, assassinar, explodir e combater qualquer alvo designado como inimigo do "Islã", o eufemismo para a Arábia Saudita agindo como estado cliente dos EUA. (A religião realmente não é a chave; não conheço nenhum ISIS ou semelhantes ao wahabi atacando alvos israelenses.) Os Estados Unidos precisam que os sauditas forneçam ou financiem loucos wahabi. Portanto, além de desempenhar um papel fundamental na balança de pagamentos dos EUA, reciclando seus ganhos com a exportação de petróleo para ações, títulos e outros investimentos, a Arábia Saudita fornece mão de obra ao apoiar os membros wahabi da legião estrangeira da América, ISIS e Al-Nusra /Al Qaeda. O terrorismo tornou-se o modo "democrático" da política militar dos EUA atual.

O que torna a guerra do petróleo da América no Oriente Médio "democrática" é que esse é o único tipo de guerra que uma democracia pode lutar- uma guerra aérea, seguida por um exército terrorista cruel compensando o fato de que nenhuma democracia, no mundo de hoje, pode colocar em campo seu próprio exército. O corolário é que o terrorismo se tornou o modo "democrático" de fazer guerra.

Do ponto de vista vantajoso aos EUA, o que é uma "democracia"? No vocabulário orwelliano de hoje, significa qualquer país que apoie a política externa dos EUA. Bolívia e Honduras se tornaram "democracias" desde seus golpes, junto com o Brasil. O Chile, sob Pinochet, era uma democracia de livre mercado ao estilo de Chicago. O mesmo aconteceu com o Irã sob o Xá e a Rússia com Yeltsin - mas não desde que elegeu o presidente Vladimir Putin, muito menos como a China com o presidente Xi.

O antônimo de "democracia" é "terrorista". Isso significa simplesmente uma nação disposta a lutar para se tornar independente da democracia neoliberal dos EUA. Isso não inclui os exércitos por procuração dos Estados Unidos da América.

O papel do Irã como a Nemesis estadunidense

O que bloqueia o caminho dos Estados Unidos nas políticas de dolarização, do óleo e de estratégias militares? Obviamente, a Rússia e a China têm sido apontadas como inimigos estratégicos de longo prazo por buscarem sua independência em políticas econômicas e diplomacia próprias. Mas ao lado deles, o Irã está na mira dos Estados Unidos há quase setenta anos.

O ódio americano ao Irã começa com a tentativa deles de controlar sua própria produção, exportações e ganhos de petróleo. Isso remonta a 1953, quando Mossadegh foi derrubado porque ele queria soberania doméstica sobre o petróleo anglo-persa. O golpe da CIA-MI6 o substituiu pelo flexível Xá, que impôs um estado policial para impedir a independência iraniana da política dos EUA. Os únicos lugares físicos livres da polícia eram as mesquitas. Isso fez da República Islâmica o caminho de menor resistência à derrubada do Xá e à reafirmação da soberania iraniana.

Os Estados Unidos chegaram a um acordo de independência do petróleo da OPEP em 1974, mas o antagonismo em relação ao Irã se estende às considerações demográficas e religiosas. O apoio iraniano à sua população xiita e ao Iraque e outros países - enfatizando o apoio aos pobres e às políticas quase-socialistas em vez do neoliberalismo - o fez o principal rival religioso do sectarismo sunita da Arábia Saudita e do seu papel como a legião estrangeira dos wahabi da América.

Os EUA se opuseram ao general Suleimani, acima de tudo, porque ele estava lutando contra o ISIS e outros terroristas apoiados pelos EUA na tentativa de vencer na Síria e substituir o regime de Assad por um conjunto de líderes locais em conformidade com os EUA - o velho estratagema britânico "dividir e conquistar". Na ocasião, Suleimani havia cooperado com as tropas americanas na luta contra grupos ISIS que ficaram "fora de linha", o que significa a linha fixada pelos EUA. Mas tudo indicava que ele estava no Iraque para trabalhar com o governo local que buscava recuperar o controle dos campos de petróleo que o presidente Trump se gabava tanto de ter agarrado.

Já no início de 2018, o presidente Trump pediu ao Iraque que reembolsasse os EUA pelo custo de "salvar sua democracia" bombardeando o restante da economia de Saddam. O reembolso foi feito sob a forma de petróleo iraquiano. Mais recentemente, em 2019, o presidente Trump perguntou: por que não simplesmente pegar o petróleo iraquiano. O gigantesco campo petrolífero tornou-se o prêmio da guerra do petróleo de Bush-Cheney após o 11 de setembro. “'Foi uma reunião simples e discreta, em geral'”, disse uma fonte que estava na sala para Axios. 'E então, no final, Trump diz algo de efeito, põe um sorrisinho afetado no rosto e diz: 'Então, o que vamos fazer com o petróleo?' ”

A ideia de Trump de que os EUA deveriam "obter algo" para seus gastos militares na destruição das economias iraquiana e síria reflete simplesmente a política dos EUA.

No final de outubro de 2019, o New York Times informou que: “Nos últimos dias, Trump estabeleceu sobre as reservas de petróleo da Síria uma nova lógica numa aparente direção contrária e dispôs centenas de tropas adicionais para o país devastado pela guerra. Ele declarou que os Estados Unidos "protegem" campos de petróleo no nordeste caótico do país e sugeriu que a apreensão do principal recurso natural do país justifica que a América amplie ainda mais sua presença militar no país. 'Pegamos e garantimos', disse Trump sobre o petróleo da Síria durante declarações na Casa Branca no domingo, depois de anunciar o assassinato do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi. ”[2] Um funcionário da CIA lembrou ao jornalista que tomar o petróleo do Iraque foi uma promessa da campanha de Trump.

Isso explica a invasão do Iraque por petróleo em 2003, e novamente este ano, como o presidente Trump disse: "Por que simplesmente não tomamos o petróleo deles?" Também explica o ataque Obama-Hillary à Líbia - não apenas pelo petróleo, mas por investir suas reservas estrangeiras em ouro em vez de reciclar sua receita excedente de petróleo para o Tesouro dos EUA - e, é claro, por promover um estado socialista secular.

Isso explica por que os neocons dos EUA temiam o plano de Suleimani de ajudar o Iraque a controlar o petróleo e a resistir aos ataques terroristas apoiados pelos EUA e pela Arábia Saudita no Iraque. Foi isso que fez do seu assassinato um impulso imediato. Foi isso que fez do seu assassinato uma necessidade imediata.

Os políticos americanos perderam o crédito ao começar sua condenação a Trump dizendo, como Elizabeth Warren, quão "má" era uma pessoa como Suleimani, como ele havia matado soldados americanos ao planejar bombardeios nas estradas junto com a defesa iraquiana e outras políticas militares, tentando repelir a invasão dos EUA para agarrar o petróleo. Ela estava simplesmente parodiando a mídia estadunidense que retratava Suleimani como um monstro, desviando a atenção da questão política que explica por que ele foi assassinado agora.

A contra-estratégia para o petróleo, a diplomacia do dólar e do aquecimento global dos EUA

Essa estratégia continuará até que países estrangeiros a rejeitem. Se a Europa e outras regiões não o fizerem, sofrerão as consequências dessa estratégia dos EUA na forma de uma guerra crescente patrocinada pelos EUA via terrorismo, fluxo de refugiados e aquecimento global acelerado e clima extremo.

A Rússia, a China e seus aliados já lideram o caminho da desdolarização como um meio de conter o apoio da balança de pagamentos na política militar global dos EUA. Mas todo mundo agora está especulando sobre qual deveria ser a resposta do Irã.

A pretensão - ou, mais precisamente, a distração- pela mídia estadunidense no fim de semana foi descrever os Estados Unidos como estando sob ataque iminente. O prefeito de Blasio posicionou os policiais em cruzamentos importantes para nos informar o quão iminente é o terrorismo iraniano - como se fosse o Irã, não a Arábia Saudita que montou o 11 de setembro, e como se o Irã de fato tivesse tomado alguma ação contra os Estados Unidos. A mídia e os formadores de opinião da televisão saturaram as ondas do ar com avisos de terrorismo islâmico. Os âncoras da televisão estão sugerindo exatamente onde os ataques provavelmente ocorrerão.

A mensagem é que o assassinato do general Soleimani foi para nos proteger. Como Donald Trump e vários porta-vozes militares disseram, ele havia matado americanos - e agora eles devem estar planejando um ataque enorme que ferirá e matará muitos outros americanos inocentes. Esse posicionamento tornou-se o ponto de vista da América no mundo: fraca e ameaçada, exigindo uma forte defesa - na forma de um forte ataque.

Mas qual é o interesse real do Irã? Se é realmente para minar a estratégia do dólar e do petróleo, a primeira política deve ser tirar as forças militares dos EUA do Oriente Próximo, incluindo a ocupação dos EUA em seus campos de petróleo. Acontece que o ato precipitado do presidente Trump agiu como um catalisador, provocando exatamente o oposto do que ele queria. Em 5 de janeiro, o parlamento iraquiano se reuniu para insistir que os Estados Unidos saíssem. O general Suleimani era um convidado, não um invasor Iraniano. São as tropas dos EUA que estão no Iraque violando o direito internacional. Se eles partirem, Trump e os neocons perdem o controle do petróleo - e também de sua capacidade de interferir na defesa mútua Iraniano-Iraquiana-Sírio-Libanesa.

Além do Iraque, emerge a Arábia Saudita. Tornou-se o Grande Satanás, o defensor do extremismo wahabi, a legião terrorista dos exércitos mercenários dos EUA que lutam para manter o controle das reservas de petróleo e do câmbio do Oriente Próximo, a causa do grande êxodo de refugiados para a Turquia, Europa e onde mais se puder fugir das armas e do dinheiro fornecidos pelos apoiadores estadunidenses do ISIS, Al Qaeda no Iraque e de suas legiões aliadas wahabi sauditas.

O ideal lógico, em princípio, seria destruir o poder saudita. Esse poder repousa em seus campos de petróleo. Eles já foram atacados por modestas bombas iemenitas. Se os neocons dos EUA ameaçarem seriamente o Irã, sua resposta seria o bombardeio e a destruição por atacado dos campos de petróleo sauditas, juntamente com os do Kuwait e dos xerifados do Oriente Próximo.

Isso acabaria com o apoio saudita aos terroristas wahabi, bem como ao dólar dos EUA.

Tal ato, sem dúvida, seria coordenado com um apelo para que os trabalhadores palestinos e outros estrangeiros na Arábia Saudita se levantem e expulsem a monarquia e seus milhares de familiares.

Além da Arábia Saudita, o Irã e outros defensores de uma ruptura diplomática multilateral com o neoliberal e o neolateralismo dos EUA devem pressionar a Europa para que se retire da OTAN, na medida em que essa organização funcione principalmente como uma ferramenta militar centrada na diplomacia estadunidense do dólar e do petróleo e, portanto, opondo-se às políticas de mudança climática e de confronto militar que ameaçam tornar a Europa parte do turbilhão dos EUA.

Finalmente, o que os oponentes anti-guerra dos EUA podem fazer para resistir ao neocons que tentam destruir qualquer parte do mundo que resista à autocracia neoliberal dos EUA? Essa foi a resposta mais decepcionante no fim de semana. Eles estão batendo cabeça. Não foi útil para Warren, Buttigieg e outros acusarem Trump de agir precipitadamente, sem pensar nas consequências de suas ações. Essa abordagem evita reconhecer que sua ação realmente tinha uma justificativa - faça uma linha na areia, para dizer que sim, a América entrará em guerra, lutará contra o Irã, fará qualquer coisa para defender seu controle do petróleo do Oriente Próximo e ditar a política do banco central da OPEP, para defender suas legiões no ISIS como se qualquer oposição a essa política fosse um ataque aos próprios Estados Unidos.

Eu posso entender a resposta emocional ou ainda novos pedidos de impeachment de Donald Trump. Mas isso é para iniciantes, em parte porque foi obviamente um movimento partidário do Partido Democrata. Mas, o mais importante é a acusação falsa e egoísta de que o presidente Trump ultrapassou seu limite constitucional ao cometer um ato de guerra contra o Irã ao assassinar Soleimani.

O Congresso endossou o assassinato cometido por Trump e é totalmente culpado por ter aprovado o orçamento do Pentágono com a remoção do Senado da emenda à Lei de Autorização de Defesa Nacional de 2019 que Bernie Sanders, Tom Udall e Ro Khanna inseriram na versão da Câmara dos Deputados , explicitamente não autorizando o Pentágono a fazer guerra contra o Irã ou assassinar seus oficiais. Quando esse orçamento foi enviado ao Senado, a Casa Branca e o Pentágono (também conhecido como complexo industrial militar e neoconservadores) removeram essa restrição. Era uma bandeira vermelha anunciando que o Pentágono e a Casa Branca realmente pretendiam fazer guerra contra o Irã e / ou assassinar seus oficiais. O Congresso não teve coragem de discutir este ponto na vanguarda das discussões públicas.

Por trás de tudo isso está o ato de 11 de setembro inspirado na Arábia Saudita, que retira o único poder do Congresso para travar uma guerra - sua Autorização para o Uso da Força Militar, de 2002, tirada da gaveta ostensivamente contra a Al Qaeda, mas na verdade o primeiro passo no longo apoio dos Estados Unidos ao mesmo grupo responsável pelo 11 de setembro, os sequestradores de aviões sauditas.

A questão é: como fazer com que os políticos do mundo - EUA, Europa e Ásia - vejam como a política de tudo ou nada da América está ameaçando novas ondas de guerra, refugiados, interrupção do comércio de petróleo no Estreito de Ormuz e, finalmente, global aquecimento e dolarização neoliberal impostas a todos os países. É um sinal de quão pouco poder existe nas Nações Unidas que nenhum país esteja pedindo um novo julgamento de crimes de guerra ao estilo de Nurenberg, nenhuma ameaça de retirada da OTAN ou mesmo para evitar manter reservas sob a forma de dinheiro emprestado ao Tesouro dos EUA para financiar o orçamento militar estadunidense.

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