CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
João Paulo Pacífico avatar

João Paulo Pacífico

CEO Ativista do Grupo Gaia

7 artigos

blog

Estou devendo... e talvez você também esteja

Nos últimos anos, resolvi me aprofundar no tema racial e descobri que todos nós, pessoas brancas, temos muito a fazer... vem comigo!

(Foto: Reprodução)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por João Paulo Pacífico

O que está por trás da criminosa que insultou os filhos do casal Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso que disse para eles "voltarem para a África"? Qual o motivo real da cassação do vereador preto Renato Freitas, no último dia 5 de agosto?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Caso não tenha visto, Renato é um jovem promissor, mestre em direito, com uma incrível história de vida. O seu "crime"? Defender a vida. Protestar de forma pacífica em uma igreja contra mortes pretas. Alegando “falta de decoro” o tiraram da política por 10 anos. Em setembro o Papa Francisco irá se encontrar e se solidarizar com ele.

Nos últimos anos, resolvi me aprofundar no tema racial e descobri que todos nós, pessoas brancas, temos muito a fazer... vem comigo!

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Minhas férias

Nessas férias de julho, fui visitar as cidades onde começou o movimento dos direitos civis dos Estados Unidos.

Ao entrar no Museu da Rosa Parks, em Montgomery no Alabama, encontrei uma placa que dizia algo como: “Você acredita que na década de 1950 as pessoas negras não podiam frequentar os mesmos restaurantes, hotéis, hospitais e escolas que as pessoas brancas?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Tive vontade de escrever embaixo: “Você sabia que em 2022, no Brasil, as pessoas negras não frequentam os mesmos restaurantes, hotéis, hospitais e escolas que as pessoas brancas?”. 

Antes de você achar que estou exagerando:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
  1. Pense nos melhores restaurantes que você frequentou no último ano. Quantas pessoas negras estavam comendo nesses lugares?
  2. E nos hospitais particulares? Você já viu alguma pessoa negra sendo atendida? Aposto que nenhuma ou quase nenhuma.
  3. Me entristece muito não ver crianças negras na classe das minhas filhas.
  4. Nem vou perguntar sobre a diversidade racial no avião da sua última viagem internacional… e se tinha provavelmente não eram brasileiros.

Diferentemente do sul dos EUA nos anos 1950, atualmente as pessoas negras não são proibidas de frequentar esses locais no Brasil. Mas você já se perguntou o por que não frequentam?

Você já chorou em um museu???

Logo na entrada do Legacy Museum, também em Montgomery, tinha um aviso dizendo que algumas pessoas passam mal lá dentro. Achei que era exagero. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Ao entrar na primeira sala vi que não era nenhum exagero... em uma tela gigante com um mar revolto, eles contavam que europeus invadiam casas africanas e raptavam crianças, adolescentes e adultos. Essas pessoas eram colocadas como carga nos navios e levadas para as Américas.

Imagine que ladrões invadam a sua casa e raptem as pessoas que você mais ama. Familiares que você nunca mais irá encontrar. 

Me tocou ler o depoimento de um homem que sequer pôde dar um abraço de despedida na sua esposa.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Uma a cada seis pessoas morreu no trajeto de navio. Nessa parte do museu, colocaram esculturas de cabeças negras mortas na praia (algo forte, muito forte).

As que conseguiram sobreviver a dura viagem foram vendidas como bois, em leilões em praça pública. Nesse momento, fiquei lendo os anúncios que diziam algo como: “Ana, 8 anos, ágil”, “José, aproximadamente 30 anos, não reclama de trabalho”...

As pessoas escravizadas que não se comportavam “como desejado” eram linchadas, muitas vezes em locais públicos, com multidões aplaudindo, como se fosse um jogo de futebol de sábado à tarde. Ver a foto das costas em carne viva de um negro que sofrera linchamento me trouxe uma profunda tristeza.

Nesse museu, com os efeitos visuais e sonoros, pude entender um pouco da dor desse povo... esse pouco que senti, me doeu muito, muito mesmo...

Em outro local avisavam que essas pessoas exploradas foram as que trabalharam para construir a riqueza das Américas!

E o Brasil???

O Brasil tem o título vexatório de país que mais importou pessoas africanas para escravizar. Mais de 4 milhões foram raptadas e trazidas para o nosso país.

Quando a escravidão acabou, depois de 338 anos, essas pessoas foram largadas na sociedade: analfabetas, sem escola, sem trabalho, sem terra, sem dinheiro e sem direitos.

A Lei mais absurda que você já viu

Em 1890, 2 anos depois da abolição, foi criada a Lei dos Vadios e Capoeiras, que dizia que os que perambulavam pelas ruas, sem trabalho ou residência comprovada, iriam para a cadeia. Bem como quem estivesse jogando ou portando objetos relativos à capoeira.

Essas pessoas são bisavós ou tataravós de mais de 50% da população brasileira (pense nisso).

E eu com isso?

“Mas eu não fiz nada disso!”, você talvez esteja pensando. Mesmo que seus antepassados não tenham escravizado, você, pessoa branca, possui os benefícios dessa exploração e os privilégios de não ser descendente da escravidão.

A escravidão “formal” acabou, mas a mentalidade supremacista continua presente.

  • “Supremacista é a ideologia que defende a supremacia ou superioridade de um determinado grupo de indivíduos e que reclama para os seus membros o domínio dos restantes indivíduos. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa”  

Seja na criminosa que atacou os filhos de Bruno e Giovanna; no caso do vereador Renato expulso da política ou mesmo nas falas racistas do presidente e do ministros do desgoverno federal.

Repare em como vários empresários lidam com seus funcionários e prestadores de serviço. Como políticos olham para a população preta e pobre. Como a polícia trata diferente quem tem a pele mais escura.

Explorar é uma estratégia consciente (ou às vezes inconsciente) de manutenção de poder, de privilégios e de obtenção de maiores ganhos financeiros. 

“Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor” ~ Desmond Tutu (Prêmio Nobel da Paz)

Quem diz que não é racista, mas não faz nada para mudar está sendo conivente com o racismo, portanto está ao lado do racista opressor...

Um convite...

Agora que você já sabe que vivemos situações de enorme injustiça racial, de dívidas históricas não reparadas, continuará quieto (apoiando o opressor), ou irá ser uma pessoa antirracista? 

A mudança só virá quando a população privilegiada, branca, entender que ela é responsável pelo problema.

Se você é uma pessoa branca, como eu, estamos devendo, e muito!

Salve Bruno, Gioh, Renato e todo movimento antirracista!

Com carinho,

joão


Ps1. Reflita, comente...

Ps2. E como reparar essa dívida histórica? Como ser antirracista? Vote em pessoas negras, contrate pessoas negras, não aceite comentários racistas, dê para as crianças livros de pessoas negras e bonecas negras. 

Ps3. Caso tenha se interessado pelas minhas ideias, não deixe de ler o meu livro: Seja líder como o mundo precisa (HarperCollins Brasil). Link aqui.

Ps4. Gratidão às mais de 125 mil pessoas que assinam essa newsletter que escrevo em datas aleatórias. Se quiser assinar é de graça, clique aqui.

Ps5. Dia 10 de agosto irei para um evento de quilombolas, o Aquilombar. No insta @joao_pacifico compartilharei esse dia nos stories.

Ps6. Bônus para você que eu até aqui:

“Semana passada fui com três Gaianas e um Gaiano visitar um quilombo perto de São Paulo. Colado na cidade de Itatiba. Fomos recebidos com muito carinho pela Lenira, Zé Roberto e tantas outras pessoas que, apesar das dificuldades ainda fazem algo que a população branca esqueceu: preservam a natureza e se ajudam numa comunidade.” (isso seria um trecho do artigo, mas na revisão, resolvi tirar... e depois colocar aqui... rsrs). Abaixo uma foto da turma que nos recebeu.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO