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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Eu estava com Walter Delgatti quando o ministro do STF detonou a Lava Jato

Ele não deu entrevista, porque está proibido por um juiz federal, mas foi impossível não notar o seu sorriso quando Gilmar Mendes falou que é preciso mudar o Ministério Público, pilar de uma justiça totalitária, narra Joaquim de Carvalho

Walter Delgatti Neto e Joaquim de Carvalho (Foto: Walter Delgatti Neto e Joaquim de Carvalho)
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Enquanto Gilmar Mendes espinafrava Moro e a Lava Jato ontem, eu visitava Walter Delgatti Neto em Araraquara. 

Por decisão judicial, ele não pode dar entrevista, e não deu. Mas conversei com parentes dele e vi que Delgatti tem uma vida muito simples, humilde mesmo, o que derruba a versão de que acessou os arquivos de Deltan Dallagnol no Telegram por encomenda de alguém. 

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"Seu neto é herói ou criminoso?", perguntei a dona Otília Delgatti, uma senhora de 85 anos que é o arrimo da família -- na casa, além de Walter, vive o irmão dele, o Will.

"Criminoso nunca. Ele é muito bom, me ajuda até a limpar a casa. Nunca me deu trabalho", disse ela, sentada em um sofá no alpendre de uma casa pequena, mas com quintal grande, na Vila Xavier, um bairro de origem operária.

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No quintal, duas tartarugas passeavam -- uma tem mais de 100 anos -- entre duas árvores de ameixa (uma de fruto bem doce), uma árvore de cravo e um uma espécie de galinheiro sem galinha (estão lá as telas).

Em um quadro de madeira,letras bem esculpidas informam:

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"Chácara do Walter".

Esse Walter não é o Delgatti que nós conhecemos, mas outro, o avô dele, que nasceu na Itália e veio para o Brasil no colo dos pais. 

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Não é uma chácara, mas um cantinho bem agradável onde, em dias mais prósperos, a família deve ter feito muito churrasco.

Num canto, há um mural, com fotos antigas da família. Ali está a foto do advogado, Ariovaldo Moreira, que de fato é amigo dele.

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Tem foto do pai, também chamado Walter, já falecido, e do avô, também falecido. 

Tem até foto da mãe, em festinha de aniversário num passado já distante.

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Ele o abandonou ainda criança.

Um trauma sobre o qual ele fala pouco com os amigos, mas a avó e parentes relatam. A mulher o colocou no portão da casa, e foi embora, deixando para a ex-sogra criar. 

A mãe foi viver com outro homem, com quem teve outros filhos.

Delgatti já tinha dito em entrevista a mim que hackeou as mensagens da Lava Jato para provar que o sistema de justiça é corrupto, depois que ficou preso seis meses sob a falsa acusação de tráfico de drogas -- ele tinha três caixas do remédio Alprazolam (uso controlado) em casa, e um promotor o acusou de tráfico de drogas. Foi absolvido dois anos depois, quando a notícia já tinha sido publicada nos jornais da cidade, e hoje ele é considerado traficante por quem não o conhece.

"Eu quis provar que, se até um ex-presidente da república é perseguido pela Justiça, imagine o que pode acontecer com um cidadão comum, como eu". 

Por não poder dar entrevista, Walter não comentou a fala de Gilmar Mendes, mas era impossível não ver em seu rosto o sorriso quando o ministro do STF disse que é preciso mudar o Ministério Público, que se transformou no pilar de uma "justiça soviética", totalitária. 

Os arrogantes que vestem toga ou se sentam ao lado de quem veste toga nos tribunais mexeram com o "zé mané" errado. 

Apenas um registro: Delgatti não tem emprego hoje (não pode acessar internet e usa tornozeleira) e a renda da família são os dois salários mínimos que a avó, de 85 anos, recebe do INSS - um salário por ter trabalhado em uma tecelagem e um salário de pensão do marido, que trabalhava no comércio. 

Trancou a matrícula na faculdade de Direito depois que foi preso na Operação Spoofing, e não pode voltar a estudar porque as aulas são remotas.

Quando deixou a cadeia, no final do ano passado, um policial que o investigou e descobriu que ele não teve vantagem financeira alguma por hackear os procuradores, comentou: "Por que você fez isso? Você é louco?" 

Não é louco, só achava que tinha uma missão.

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Os amigos criaram uma vaquinha para ajudar na manutenção do Walter. E me pediram mais de uma vez para divulgar o PIX. Segue a chave: ajudeowalter@gmail.com

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Estamos produzindo o documentário para contar a verdadeira história de Walter e os "hackers de Araraquara". Fique ligado.

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