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Carol Proner

Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF

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Eu não durmo mais, mas não é sobre a minha cabeça que as bombas explodem

"O silêncio a respeito do que está acontecendo em Gaza é mais do que impotência, é derrota. Ou cumplicidade com a selvageria", diz Carol Proner

Campo de refugiados de Jabalia (Foto: Reuters/Fadi Whadi)
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Eu já não durmo mais. Mas não é sobre a minha cabeça que explodem bombas. Não posso fazer muito, mas o silêncio a respeito do que está acontecendo em Gaza é mais do que impotência, é derrota. Ou cumplicidade com a selvageria.

“A guerra será longa”, afirmou o Primeiro Ministro de Israel, e será por terra, ar e mar: “Nossa meta é destruir o inimigo e assegurar que eles não existam em nosso país. (...), nós garantimos que nós faremos tudo, absolutamente tudo, para que os reféns voltem para as suas famílias.”, diz B. Netanyahu.

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Hoje, dia 01 de novembro, os dados das organizações humanitárias divulgados após o último ataque a um campo de refugiados mostram a real natureza da guerra: 9500 massacres foram cometidos pelas forças israelenses desde 07 de outubro, o total de mortes confirmadas até o momento é de 8796, dos quais 3648 de crianças, 2290 de mulheres e milhares de feridos privados de água e comida. Os desaparecidos estão subestimados, apenas 2300 denúncias nos canais de acesso, dos quais 1130 são crianças. A cada ataque, somem corpos sob os escombros e não há possibilidade de resgate ou estimativas de números.

Entre alvos especialmente protegidos pelo direito humanitário, 98 centros médicos ou hospitais foram atingidos e 60 estão fora de operação, 25 ambulâncias foram destruídas,130 médicos foram mortos. 

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O Hospital Turco, especializado em tratamento de câncer, neste exato momento não possui combustível. Os pacientes estão sentenciados à morte em algumas horas. O estreito de Rafah foi aberto essa madrugada, mas a ajuda não chega a 1% do necessário para evitar morticínio.

Também têm sido alvo de ataque planejados os campos de refugiados, espaços habitados por centenas de civis já cercados e agora deliberadamente atacados. E isso combinado com o infame uso da fome e da sede (starvation crime) como arma de guerra. Israel usa o deslocamento forçado para limpar o terreno de acesso ao território já ocupado e sabe que essas pessoas não têm saída. 

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E como se fosse o bastante, constata a Anistia Internacional e outras agências especializadas, o uso do fósforo branco como arma sobre civis. Isso vai além de um debate sobre se é ou não genocídio, é uma estratégia total de desumanização de qualquer regra jurídica e dos seres humanos escolhidos como alvo.

Fósforo branco (Willy Pete, na primeira guerra mundial), foi aprimorado, é feito de um material químico que, em contato com a pele, não cessa de queimar até chegar nos ossos. Trata-se de arma química e incendiária absolutamente proibida pelo direito internacional. 

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O grupo político que conduz a resposta militar de Israel, aparentemente não distingue entre civis e militares. Todos são terroristas, sejam crianças ou mulheres, idosos, médicos, funcionários humanitários, jornalistas, todos são inimigos. Sendo um homem, jovem ou não, trata-se imediatamente de um terrorista. 

Certamente eu, enquanto escrevo e assim que publicar este desabafo, já serei considerada apoiadora de terroristas ou antisionista, uma inimiga do Estado de Israel. Em grupos de Zap vão me segregar porque escolhi meu lado. E mais inimiga ainda se ousar trazer dos escombros da racionalidade a questão palestina. Devo seguramente já constar em alguma lista de inimigos. Mas meus amigos, muitos deles judeus, estão como eu: sem dormir, chorando diante da impotência e da miséria humana. Hão de se lembrar do massacre de Sabra e Chatila.

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