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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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EUA-OTAN temerosos da ressurreição soviética armam superimperialismo contra Rússia-China

"O imperador americano, inquieto, comprometido com preservação instável das leis do capital, sente cheiro de comunismo nas ações de Putin"

Presidentes Joe Biden (EUA), Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) (Foto: Divulgação)

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O capitalismo ocidental sob financeirização especulativa total, cada vez mais em crise e, agora, inseguro pela derrota flagrante entre Rússia x EUA-OTAN, na Ucrânia, está temeroso com possível volta do comunismo com restauração da União Soviética, como objetivo do presidente Putin, como destacou, na última semana, o presidente Joe Biden.

O Império americano depois de desregulamentar a economia global, nos anos 1970 em diante, descolando-se do padrão ouro, e jogar o sistema capitalista no cassino financeirizado, que somente favorece expansão territorial e guerras, passa a desregulamentar, agora, acordos de desarmamentos e fortalecimento da aliança nuclear da Otan, para ter livre trânsito nas ameaças a qualquer tipo de paz, jogando o mundo na insegurança completa, como alerta a China.

A palavra de ordem na Otan, comandada pelos EUA, orientados não apenas para avanços imperialistas, mas em construção do superimperialismo oligopolizado, é guerra como reação à crescente incapacidade imperial ocidental de continuar sob orientação americana exercendo hegemonia mundial.

A permanente perda, para os chineses, de competitividade, na disputa comercial, impulsionou a financeirização capitalista para sua prioridade número um, não mais relacionada ao impulso das forças produtivas, mas especulativas, que não geram desenvolvimento sustentável, mas, ao contrário, expandem anti/subdesenvolvimento insustentável, potencializando guerras, produzindo incertezas generalizadas.

Ao lado dessa perda na corrida comercial para os chineses, o hegemon americano, também, não tem mais certeza de superioridade sobre a Rússia, em sua capacidade adquirida, depois da guerra fria, de defesa e ataque nuclear em todos os pontos do globo, de forma simultânea, estando, ao mesmo tempo, aliada à China, depois da guerra por procuração na Ucrânia que EUA-OTAN perde para os russos.

PAVOR DA UNIÃO SOVIÉTICA - O resultado desse novo status evidenciou-se no desespero de Washington de acusar Putin como real objetivador da restauração da União Soviética, o que serve de justificativa para ampliar o império de modo a incrementar mais guerra e, claro, distanciar-se da paz.

Está, portanto, em cena o superimperialismo, comandado pelo imperador Biden, temeroso da pregação de Lenin, em “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, 1916, de que as contradições capitalistas, expressas na financeirização econômica especulativa, que joga economia no perigo permanente de debacle, abrem espaço à nova etapa da humanidade: a socialização da produção e crise da propriedade privada, rumo ao comunismo.

Ressalte que “superimperialismo” oligopolizado não é termo criado por Lênin, mas pelo alemão Karl Kautsky, ao qual o ex-líder da revolução soviética denominou de “renegado” por abandonar o marxismo e se render ao capitalismo.

Lenin, porém, convertido à economia política marxista, que aplicou, na prática, para levar os sovietes ao poder, em 1917, colocou restrição ideológica ao “superimperialismo” teorizado por Kautsky.

Contrapôs ao teórico do partido social democrata alemão, dizendo que ele se equivoca ao vislumbrar paz mundial sob superimperialismo na medida em que esquece/renega a lógica marxista ancorada na dialética hegeliana de que a realidade é  negação de contrários em contradição entre si em busca de permanente superação.

“Tudo muda, só não muda a lei do movimento, segundo a qual tudo muda”, sentencia Hegel, ao alertar contra tendência conservadora do capitalismo.

Dessa forma, o “superimperialismo”, diz Lenin, caminharia para sua própria negação por meio do que ele provoca e acirra, isto é, a incessante luta de classes entre trabalho e capital, como móvel das mudanças, que são infinitas, enquanto, naturalmente, perdurar o capitalismo, processo essencial de exploração e acumulação de capital em detrimento do trabalho etc.

Pragmaticamente, o "superimperialismo" de Kautsky nega Kaytsky, porque não alcançaria, como imaginou, uma paz perpétua à la Kant; pelo contrário, encarna mais guerras, mais incertezas e insegurança globais, o que dá razão a Lenin em não ver resultado pacíficio no superimperialismo, mas mais guerras e conflitos no cenário capitalista em incansável processo de sobreacumulação de capital explorador do trabalho. 

BIDEN SENTE CHEIRO DE NEOCOMUNISMO - O imperador americano, inquieto, comprometido com preservação instável das leis do capital, sente cheiro de comunismo nas ações de Putin, embora o líder russo tenha como estratégia de ação fortalecimento do nacionalismo russo, calcado no capitalismo, depois que a União Soviética se desfez com queda do Muro de Berlim, em 1991.

A partir do desmoronamento do governo socialista soviético, emergiu o neoliberalismo, com a desregulamentação econômica global, seguida do armamentismo expansionista, objetivando nova repartição da Rússia, para ser efetivado domínio total do ocidente, o que não foi, até agora, alcançado por Washington e seus aliados europeus.

Washington, no comando do superimperialismo kaustskiano, estágio atual do capitalismo financeirizado, admitido pelo historiador José Luís Fiori, em recente artigo, no 247, está enredado nas contradições insuperáveis determinadas pela própria financeirização especulativa imperialista.

O sistema capitalista, conforme processo contraditório determinado pela dialética marxista-hegeliana, atua como freio ao desenvolvimento das forças produtivas, no processo de sobreacumulação de capital; nesse estágio, reduz taxa de lucro, enquanto perde, aceleradamente, corrida comercial e armamentista para os dois maiores adversários, agora, aliados, Rússia e China.

Eis onde se encontram as preocupações centrais do imperador Biden, depois da guerra na Ucrânia, na qual a aliança EUA-OTAN está, praticamente, derrotada.

Portanto, o alerta do líder chinês, Xi Jinping, de que os Estados Unidos insistem em negar acordos internacionais de desarmamento nuclear, ao lado do que já implementa, há mais de três décadas, isto é, a desregulamentação econômica, para continuar na hegemonia capitalista sob dólar especulativo, demonstra, essencialmente, o propósito imperialista americano: priorizar o que ainda pode sustentar o hegemon, mas não mais com exclusividade, a corrida armamentista via endividamento keynesiano.

A aliança Rússia-China, portanto, não deixa o imperador dormir sossegado: vê comunistas por todos os lados.

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