Ex-comandante do COTER, que se dispôs a liderar 8 de janeiro, é sobrinho do ex-ministro César Cals
Mais do que nunca, vale a máxima popular: “quem sai aos seus, não degenera!”
Mais do que nunca, vale a máxima popular: “quem sai aos seus, não degenera!” Não por acaso, o chefe do Comando de Operações Terrestres, (COTER), Estevam Cals Theophilo Gaspar, se atrelou ao plano golpista de Jair Bolsonaro e se destaca logo na abertura da denúncia (pág 25) encaminhada pelo Procurador Geral da República, Paulo Gonet, enviada na segunda, dia 18/02, ao ministro Alexandre de Moraes. Como o sobrenome indica, Estevam Cals descende de uma linhagem de militares linha dura. Ele vem a ser sobrinho do ex-ministro de Minas e Energia César Cals, que serviu ao ditador João Figueiredo entre 1979 e 1985.
Fazendo jus ao termo “família militar”, empregado pelos integrantes das FAs para os que engrossam as suas fileiras, Estevam é o mais novo dos 5 irmãos Theophilos (Henrique, coronel; Manuel, general; José, coronel; Guilherme, general; Alexandre, coronel). Todos optaram pela “artilharia”, uma das carreiras de formação na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN). Todos, filhos do General Theophilo, casado com a irmã do coronel César Cals, ministro da Ditadura.
Estevam, tal como o tio, César Cals, também é natural do Ceará, e serviu no 10° Grupo de Artilharia em Fortaleza entre 1996 e 1998, quando seus irmãos se sucediam no comando, apesar da tentativa de interrupção desse “Theophilismo” pelo então ministro General Gleuber Vieira (Ministro e Comandante do Exército entre 1 de janeiro de 1999 e 1 de janeiro de 2003). Sem força para vencer a influência política da “dinastia Theóphilo” no Ceará, acabou transferindo o Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) para Boa Vista - RR.
Como mandava a tradição, chegou a vez de Estevam Theóphilo Cals assumir um comando. Em vez de pedir para comandar o GAC em Roraima, como fizeram seu pai e seus irmãos, todos ex-comandantes da unidade, Estevam optou pela chefia do Colégio Militar de Fortaleza, algo que nada tem a ver com um Coronel kid preto em que depois se transformou.
Como Kid preto e chefe do Comando de Operações Terrestres (COTER), aceitou coordenar o emprego das forças terrestres contra a população brasileira que discordasse do golpe engendrado por Jair Bolsonaro e sua turma, em 8 de janeiro, conforme as diretrizes do grupo. Acabou nas páginas da denúncia do PGR, onde aguarda destino nada nobre: ou a prisão – o mais provável –, ou a desonra de ter sido arrolado no processo, por ter ido contra a Constituição que jurou defender.
Inserido sob o guarda-chuva da “organização criminosa”, as atividades do grupo são descritas como “tendo a responsabilidade pelos atos lesivos à ordem democrática”. Seu nome vem logo no bloco abaixo da “cúpula” onde se destaca a explicação: “recai sobre organização criminosa liderada por JAIR MESSIAS BOLSONARO, baseada em projeto autoritário de poder. Enraizada na própria estrutura do Estado e com forte influência de setores militares, a organização se desenvolveu em ordem hierárquica e com divisão das tarefas preponderantes entre seus integrantes”.
E, deixando ainda mais claro qual era o seu papel no contexto golpista, o texto descreve assim, a atividade que lhe cabia: “As ações coercitivas foram executadas por membros das forças de segurança pública que se alinharam ao plano antidemocrático. ESTEVAM CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, como Comandante do Comando de Operações Terrestres (COTER), aceitou coordenar o emprego das forças terrestres conforme as diretrizes do grupo. HÉLIO FERREIRA LIMA, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, RODRIGO BEZERRA DE AZEVEDO e WLADIMIR MATOS SOARES lideraram ações de campo voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades públicas”.
O que diria o titio, ex-ministro César Cals, se por aqui estivesse? Cultuado pelos chargistas por ter grandes orelhas, na certa estaria com elas vermelhas de vergonha do fim escolhido pelo sobrinho Estevam que interrompe, assim, a dinastia dos Theophilos como garbosos militares.
César Cals foi um militar, engenheiro eletricista e empresário. De 1971 a 1975, na fase mais aguda da ditadura, governou o Ceará - entre 1971 e 1975 – escolhido por ninguém menos que o ditador Emílio Garrastazu Médici. Foi eleito senador da República entre 1979 e 1987 e, por fim, encerrou sua trajetória na vida pública como ministro de Minas e Energia entre 1979 e 1985.
Ao lado de Virgílio Távora e Adauto Bezerra, formou um triunvirato de coronéis que dominou a política cearense durante todo o regime militar. Coerente, transferiu-se para o PSD – antiga Arena, fundada pelos militares -, em 1980. Disputou sua primeira eleição direta em 1986, quando foi candidato à reeleição ao Senado Federal, mas perdeu a disputa para os oposicionistas Mauro Benevides e Cid Saboia de Carvalho, ambos do PMDB.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

