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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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"Sentado à frente do meu teclado, me encontro diante de um outro dilema: tenho assuntos em excesso e não sei qual deles usar nesta crônica"

(Foto: Morguefile)
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O clássico do chavão em crônicas são as histórias sobre falta de assunto. O autor declara que não consegue alinhar nenhuma ideia razoável e, através do famoso “palavra-puxa-palavra”, vai moldando sua teia de nadas.

Enfileira a ida à padaria, discorre sobre a bituca do cigarro lançada no cinzeiro, descreve o metrô cheio, e até as escarradeiras com pintura de flor.

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Rubem Braga foi mestre no estilo. Contudo, muitos fizeram o mesmo: Machado de Assis, Antônio Maria, Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos. Todos puxaram palavras. 

Comigo já aconteceu o fenômeno, não nego. Mas agora, sentado à frente do meu teclado, me encontro diante de um outro dilema: tenho assuntos em excesso e não sei qual deles usar nesta crônica.

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O leitor não vá pensar que minha existência seja feérica. Houve tempos em que chegou a ser até um pouco mais admirável, mas atualmente não passa de uma vida como a de qualquer outro mortal.

Acontece que, ao me colocar à disposição deste texto, me acorreram muitas possibilidades. Talvez pudesse cometer uma crônica, no estilo ensaio, sobre a história da estupidez. Montaigne se orgulharia de ver como sua invenção medrou no século XXI. Há ensaios sobre tudo e todos. A revista Serrote fez inclusive um número especial com 12 ensaios sobre o ensaio. No entanto, desisti da minha crônica ensaística sobre a obtusidade. Ficaria extensa demais para o espaço que ocupo aqui. Para tratar a patetice com o devido rigor, em especial a brasileira, só num livro nas dimensões de um “Minha Luta”, de 

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Karl Ove Knausgård, com mais de seis mil páginas.

Logo em seguida, me ocorreu redigir algo invulgar na forma. Pensei num escrito feito quase inteiramente de links da internet. Não me lembrava de ter batido os olhos em nada parecido. Sem dúvida, ficaria impactante. Faltava apenas a premissa e o final. Para ganhar tempo iniciei a busca dos links. No meio da pesquisa, vi que aquilo não levaria a lugar algum. Ou melhor, levaria a lugares demais.

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Então, pensei, que tal uma crônica sobre a pandemia do ponto de vista de uma máscara? Humanizar objetos costuma dar bons efeitos cômicos. Já sai esboçando algumas possibilidades para o monólogo interior. Foi quando me dei conta de que as máscaras acabaram de ser abolidas em São Paulo. Seria desperdiçar um trabalho como quem lança uma 3M Aura novinha no lixo.

Mas, como disse, vivo um momento de exorbitância de assuntos. Temas não me faltam. Seria tentar apenas mais um tópico, ver se parava de pé. Caso não se sustentasse, tiraria da manga algo que tinha certeza de que não falharia.

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A penúltima tentativa seria ir na contramão do mainstream e falar de um ponto positivo do Brasil. Só um, mas benéfico e esperançoso. Foi a ideia que caiu mais rapidamente. Na verdade, não caiu, despencou da tela do computador e foi ao chão.

Então, não houve alternativa. Decidi puxar palavras e escrevi esta crônica. Por pura falta de assunto.

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