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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Exclusivo: Delgatti fala sobre o plano de hackear Alexandre de Moraes

Hacker diz que iniciativa foi dele, poupa Carla Zambelli, mas silencia sobre conversa que incrimina Jair Bolsonaro. Também conta por que mudou de lado

Walter Delgatti, Carla Zambelli e Alexandre de Moraes (Foto: Reprodução/Twitter | LR Moreira/Secom/TSE)
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O hacker Walter Delgatti silencia quando perguntado sobre o que disse a Veja: Bolsonaro teria lhe contado que havia grampeado o ministro do STF Alexandre de Moraes, e queria que ele assumisse o crime.

O objetivo seria desmoralizar o ministro do STF que, com rigor que alguns consideram excessivo, impediu todas as iniciativas de Bolsonaro e de seus aliados para melar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. 

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Pelo que se sabe, Delgatti não assumiu o delito – até porque nenhuma gravação ilícita sobre Alexandre de Moraes veio a público.

Mas o próprio Delgatti seria grampeado depois por um outro hacker, de quem tentou comprar um serviço ilegal de clonagem de chip, para invadir as comunicações do ministro do STF.

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O autor do grampo em Delgatti, que procurou a repórter Amanda Audi, do Brazilian Report, tem uma conta no Telegram em que se identifica como "Brocasito, o Original", com uma imagem de Leonardo DiCaprio.

O ator estrelou o filme "Prenda-me se for capaz", em que interpreta um estelionatário da vida real que, na década de 60, deu golpes milionários em bancos dos EUA e acabou contratado pelo FBI para evitar fraudes.

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O hacker "Brocasito" entregou o áudio a Amanda Audi, que o divulgou na reportagem "O plano para hackear o chefe da Justiça Eleitoral do Brasil". 

Delgatti diz a "Brocasito" que a ideia era clonar o telefone de Moraes, "e eu pegar o e-mail dele. Aí, tipo, tem um pessoal que vai pagar aqui por trás, e eu consigo te dar aí uns 10k (10 mil), fácil, isso é fácil".

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Delgatti diz que teria de fazer o pagamento por bitcoin. "Mas cai na hora, é só baixar aí a Binance", orienta.

Mandei mensagem a Brocasito pelo Telegram, que confirmou ter gravado Delgatti. "O que eu tenho para falar é o que saiu". Perguntei se sabia quem era o pessoal por trás de Delgatti, mas ele não respondeu.

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Quando o áudio já estava em poder do Brazilian Report, na segunda-feira, Veja divulgou uma gravação que teria sido feita em 14 de setembro do ano passado, semanas depois do encontro entre Delgatti e Bolsonaro no Palácio do Alvorada.

"Depois eu vejo uma forma de explicar, mas o que vai acontecer agora, eu vou te dar uma adiantada é que conseguiram grampear o Alexandre de Moraes", diz Delgatti na gravação.

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O repórter se espanta: "Você está brincando, cara."

"É sério", responde Delgatti. "E vai dar uma merda gigantesca, porque eles só podem apresentar isso com (inaudível), tipo, constitucionalmente falando, não podem. Só que aí eles precisam de alguém para apresentar e depois eles garantiram que limpam a barra, sabe?"

O repórter pergunta: "Eles conseguiram grampear e pegaram alguma coisa grave?"

"Pegaram", comenta Delgatti.

"Você viu o que que é?", indaga o repórter.

"Não, mas ele contou por cima, e ele falou comigo que chegou a esse ponto, e falou: 'A sua missão é assumir isso daqui. Só. Porque depois o resto é com nós. Eu falei: 'beleza'. Aí ele falou: 'E depois disso, você tem o céu".

A conversa de Bolsonaro com Delgatti, se houve, revela crime de coação no curso do processo, que tem reclusão de 1 a 4 anos. Nesse caso, o autor do crime seria Bolsonaro

Se não levou adiante a missão, Delgatti não cometeu crime, em princípio. Para ele, também não foi crime tentar hackear Alexandre de Moraes ao encomendar a clonagem do chip.

"O rapaz falou - era na na internet, no Telegram --: 'eu pego', mas era calote. Tem um pessoal na internet, eles falam que vendem algo. É padrão, é o que mais tem. E não têm nada. Então, eu mandei aquilo, ele gravou. Era coisa minha. Se fosse algo grande, ninguém ia falar 10 mil reais, falaria um valor bem mais alto. Eu falei esse valor porque é um valor que eu conseguiria pagar, para eu fazer. Mas é aquela coisa que o Xandão falou: pensar, falar… Não aconteceu, não tem crime nenhum", afirmou.

Ao trazer para si a responsabilidade, Delgatti poupa a deputada federal Carla Zambelli, que atualmente lhe paga R$ 6 mil por mês para atuar na sua rede social. Delgatti diz que não é responsável pelo conteúdo das postagens da deputada, mas pela "automação".

E por que Delgatti teria tentado grampear Moraes sem que fosse uma encomenda? Ele diz que queria mostrar que o ministro do STF está agindo como Moro na Lava Jato. Não é crível, mas é o que diz.

Quando acessou as mensagens da Lava Jato, em 2019, arquivadas nas nuvens por Deltan Dallagnol, Delgatti agiu sem ter recebido nenhuma recompensa, como mostrou o inquérito da Polícia Federal.

Mas agora ele presta serviços a Carla Zambelli.

A deputada federal comemorou ontem a liberação de suas contas na rede social por Alexandre de Moraes, justamente em meio à polêmica sobre o grampo que teria sido feito por ordem de Bolsonaro e sobre o plano de grampo que teve Delgatti como protagonista.

Delgatti também foi perguntado sobre a razão de passar a prestar serviços para a extrema direita depois de ter tido papel decisivo no desmascaramento de Sergio Moro, com a revelação das mensagens que demonstraram que a Lava Jato era um conluio entre o juiz Moro e procuradores para atingir alvos políticos, principalmente Lula.

Delgatti considera que houve ingratidão. "Fui despejado, com uma filha para cuidar, sem emprego, sem nada. Ninguém me ajudando. Apenas prometendo. Nunca pedi nada além de um emprego qualquer."

Já a extrema direita o socorreu. "Eles me ajudaram com emprego, com tudo."

Walter tenta, claramente, proteger Carla Zambelli. Quem seria o pessoal por trás, citado na conversa com o hacker "Brocasito"? 

"Eu disse o 'pessoal'. Padrão de conversa de hackers. No jornalismo isso dá a entender gente por trás. No hackerismo, não. E eu não minto. Apenas não respondo o que me comprometer", disse.

O áudio não deixa dúvida sobre pessoal por trás dele ("tem um pessoal que vai pagar aqui por trás").

Minha conversa com Delgatti foi pelo WhatsApp e insisti para que ele falasse sobre a conversa que incrimina Bolsonaro, mas ele não respondeu.

Pouco antes, havia escrito: "Tudo que eu fizer ou falar agora poderá e será usado contra mim." 

 

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