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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Exonerações na Fundação Casa de Rui Barbosa mobilizam meio intelectual

A colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, afirma que "mais um setor da Cultura entrou na mira deste (des)governo". Ela diz: "desta vez, os mísseis foram apontados para a Fundação Casa de Rui Barbosa, onde cinco funcionários foram exonerados dos seus cargos de chefia, ameaçando o funcionamento do núcleo de pesquisa, o coração das atividades da Casa"

Fundação Casa de Rui Barbosa (Foto: Daniel Silva Barbutti)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Esta semana começou com o meio cultural em estado de perplexidade. Não. Mentira. Em estado de perplexidade estamos desde o dia primeiro de janeiro de 2019. O melhor seria dizer que mais um setor da Cultura entrou na mira deste (des)governo. Desta vez, os mísseis foram apontados para a Fundação Casa de Rui Barbosa, onde cinco funcionários foram exonerados dos seus cargos de chefia, ameaçando o funcionamento do núcleo de pesquisa, o coração das atividades da Casa. A crítica literária Flora Sussekind, a jornalista Joëlle Rouchou, o professor Charles Gomes, o sociólogo José Almino de Alencar - que já dirigiu a Fundação - e Antonio Herculano Lopes, diretor geral do Centro de Pesquisa, foram os atingidos. 

Todos são funcionários concursados e dirigiam respectivamente as diretorias dos Centros de Pesquisa em Filosofia, História, Direito e o que é voltado para o acervo de Rui Barbosa. Eles perdem as funções de chefias, mas continuam na Casa. O que está sacudindo a intelectualidade brasileira, gerando uma série de manifestos e abaixo-assinados pela recondução do grupo, porém, é o ato político de desidratar um setor considerado uma verdadeira usina de ideias e debates dos mais variados assuntos de interesse da sociedade. A atual presidente, a jornalista Letícia Dornelles, que assumiu o cargo em outubro passado, não se deu ao trabalho nem sequer de comunicar as exonerações aos diretores, que souberam do ato pelo Diário Oficial da União. 

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Letícia, que não tem titulação acadêmica e tampouco trabalhos relacionados com a área de pesquisa, reage às críticas sobre o pouco fôlego intelectual, lembrando que já colaborou com o “Fantástico” e contribuiu com alguns roteiros de novelas, na TV Globo. Desde que assumiu a Casa tem se dedicado a promover atividades tais como conferência sobre astrologia, moda e, no final do ano, uma “chegada do Papai Noel”, aos jardins da Fundação. O que dá uma certa curiosidade, é saber o que Rui Barbosa acharia destas iniciativas.

Em conversa com o 247, o sociólogo José Almino de Alencar, um dos cinco exonerados, traçou um panorama do verdadeiro abalo sísmico que atingiu a instituição.

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247 - Está claro para toda a sociedade que este núcleo de pesquisa tem um peso muito grande dentro da instituição e que a exoneração foi mais um ato político. Houve a intenção de desmantelamento de um grupo que não se alinha às ideias desse governo?

- É importante destacar que nós continuamos como pesquisadores da Casa. O que acontece é que o gesto foi radical e feito à socapa. Parece indicar uma condenação das atividades de pesquisa aqui na casa.

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247 - Vocês foram surpreendidos pela notícia no DO... 

- Exatamente. Eu estava acordado quando às 8h um amigo ligou dizendo que constava do Diário Oficial que nós estávamos exonerados das funções. Foi um gesto de violência dizer olha: a equipe toda está fora da condução desses trabalhos. E não há à vista nenhum tipo de projeto alternativo.

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247 - Que projetos estavam sendo tocados e que serão mais atingidos?

- Nós temos alguns trabalhos em andamento. Ela (a presidente) nos cozinhou dizendo que sabia que o núcleo era formado por pessoas que discordavam do governo, e tal, mas que o importante era o trabalho executado. Acenou com uma convivência pacífica e produtiva. E isto foi traído. Nós temos em andamento alguns projetos que são públicos, como a organização de seminários como da questão urbana, uma vez por ano realizávamos seminários sobre temas de ponta na área cultural, enfim, cada setor de pesquisa tinha as suas atividades. 

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247 - O senhor estava desenvolvendo que tipo de atividade?

Eu estava ligado ao setor Ruiano e desenvolvendo uma pesquisa sobre a Velha República. Eu tinha uma produção de artigos e seminários organizados com regularidade. Houve a criação aqui, na Casa, de um mestrado profissional mais ou menos dirigido para pessoas que atuam nas áreas de arquivos e de biblioteca, que envolvia vários pesquisadores. Estamos já na terceira turma. É uma atividade do Centro que envolve o grupo, porque há um certo tempo não tem havido concurso para pesquisador. Muitos se aposentaram, e os que ficaram investiram nesse mestrado, que ainda está em período probatório, porque só tem três anos e corre risco.  

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Temos também pesquisadores que se dedicam ao acervo, à conservação dos textos e todos com trabalhos que dão divulgação e charme à Casa. Nós não somos aqui um Arquivo Nacional, que tem muito mais arquivos que a gente. Tampouco a Biblioteca Nacional, mas que, no entanto, não têm essa divulgação e esse charme que atrai gente para dentro do arquivo. Temos um grupo grande de bolsistas e um trabalho engrenado de tal qualidade que mantém a Casa acesa. De tal forma que um ato desses leva a uma repercussão como a que está tendo, agora.

247 - Há muitos manifestos e abaixo-assinados circulando e pedindo a recondução de vocês. Como o senhor está vendo isto?

- Eu falo agora em meu nome. O mais importante é a direção de pesquisa, naturalmente. Os outros cargos eles permanecerão no cronograma. São cargos pequenos. Não são os cargos, a remoção, é a intenção política do ato. A gente não sabe nem a que corrente de pensamento ela (a presidente) está ligada. O que ela representa dentro do governo. O próprio Olavo de Carvalho diz que eles não têm quadros. Não cobramos dela títulos acadêmicos, mas o mínimo de bom senso, para que pudéssemos estabelecer uma forma de convivência. Estamos preocupados é com esta levada política. Ela tentou estabelecer uma programação prosaico, como uma sobre astrologia, que acabou cancelada pelo secretário de Cultura, e uma aproximação com consulados europeus, com coisas que a gente não sabe bem o que pode sair dali. Se ela fosse uma intelectual de direita, nós passaríamos a ver aqui uma aproximação com pessoas desse meio. Mas não parece haver nada desta ordem. O próprio Olavo de Carvalho aponta que a esquerda está em vantagem nesse particular, uns cem anos à frente. E que eles não têm quadros para suprir esses cargos.

247 - Os cargos serão extintos?

- Há uma complexidade jurídica que não permite que seja assim. De modo que ela terá que arrumar pessoas para nos substituir, porque os cargos permanecem no organograma.

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