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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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Explicando a grande, confusa e vergonhosa manifestação anti-medidas-Covid19 em Berlim

(Foto: Divulgação)
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Muitas pessoas me pediram que explicasse sobre a manifestação que ocorreu em Berlim contra as medidas do governo alemão relativas à pandemia de Covid-19. Em meio a um contexto sem precedentes, havia símbolos neonazistas, bandeiras antinazistas, conservadores, progressistas, formando uma verdadeira mixórdia de revoltados. Os números são incertos, mas ao que parece cerca de 15 mil pessoas se fizeram presentes.

Ok, é confuso mesmo, mas tentarei explicar.

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Jornais e sites brasileiros noticiaram este evento, mas infelizmente de forma simplória e incompleta. Mas não os culpo tanto, afinal é necessário um conhecimento especializado sobre Alemanha e sobre Berlim para entender o que de fato ocorre.

Vejam, nestas manifestações que vêm ocorrendo no país (em maior ou menor quantidade de pessoas), tomam parte ao lado um do outro – pasmem – extremistas de direita e extremistas de esquerda. Além disso há alguns “doidos” que não são nem de um lado nem de outro mas também estão lá. Em alguns vídeos divulgados hoje pode-se ver isto claramente. E eu pessoalmente já vivenciei episódios semelhantes (mas muito menores) aqui em minha cidade, Hannover.

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A questão é que estas pessoas têm agendas políticas completamente diferentes umas das outras e utilizam estas manifestações para propósitos diversos também.

A extrema-direita, encabeçada pelo partido AfD (que nada mais é do que o partido neonazista com uma roupagem contemporânea – e também é o único partido político alemão que parabenizou o presidente brasileiro em sua eleição, óbvio...), e outros grupos declaradamente neonazistas amigos do AfD, se utilizam das manifestações para fins plenamente políticos. Propaganda pura mesmo.

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A extrema-esquerda não vem encabeçada por nenhum partido. Os manifestantes partem de um princípio (estúpido) de que a liberdade deles está sendo tirada por um governo de direita (o da Merkel). Isto não é absolutamente verdade. A Merkel tem mil defeitos, mas este não é um deles. As medidas para o Corona na Alemanha têm sido muito bem feitas, tenho acompanhado isto diariamente. Perfeitas não são, claro, mas acredito que estejam entre as melhores no mundo.

E os “doidos” nem de direita nem de esquerda, mas que amam acima de tudo teorias da conspiração também entram nessas jogadas de “liberdade sendo roubada”, “câmeras dentro da sua casa” e até “chips sendo instalados dentro de você”… Sim, existe esse pessoal aqui na Alemanha também. Em número muitíssimo menor que no Brasil, claro, mas existe.

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Então, em suma, a multidão era formada fundamentalmente por nazistas e por malucos. Deve-se levar em consideração também que considerável parcela dos alemães é extremamente ingênua. Então pessoas que defenderam a liberdade a vida inteira e são de fato antinazistas, agora entram em paranoia de que o nazismo está voltando através do “controle do estado”. Eu sei, trauma é trauma... Mas considero grande ingenuidade, pois se assimilassem de forma panorâmica a paisagem político-social do planeta, compreenderiam que este realmente não é o caso.

Por fim, é necessário ainda comentar sobre a demografia de Berlim. Berlim é uma cidade única. Um a cada seis moradores da cidade não vive de fato lá. São estrangeiros “moradores turistas”, que passam um ou alguns anos, e vão embora. Estão em trânsito. Se falarmos de pessoas com menos de 40 anos de idade, este número ainda aumenta: um a cada três moradores é “morador turista”. Estas pessoas “confundem” muito qualquer leitura demográfica, afinal esta situação é algo muito específico desta cidade. Por isso, Berlim – para o bem e para o mal – não reflete a população da Alemanha (praticamente nunca) em termos de demonstrativos de opinião e/ou posição política e social.

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Por fim, informo uma pesquisa de opinião do instituto Infratest Dimap sobre as medidas adotadas pelo governo: 74% dos alemães as consideram corretas, 9% acreditam que elas deveriam ser ainda mais estritas, e 15% são contrários a elas. Os eleitores do AfD variam entre 10% e 15% da população, ou seja, a matemática confirma minha explicação.

Espero ter esclarecido as dúvidas que surgem, afinal há um interesse compreensível por o que ocorre na Alemanha, um dos países mais importantes do mundo. Deste modo, espero que os brasileiros bebam das positividades e dos exemplos benéficos alemães, e não das maluquices!...

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