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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Explosão social é toureada pela iniquidade crítica de uma geração covarde

"O mundo quer explodir. O fracasso do sistema capitalista chega a ser chocante de tão óbvio. A precarização do debate público em torno desse tema também choca pela inépcia dos debatedores, com suas carteiradas travestidas de títulos acadêmicos de cativeiro", diz o linguista e jornalista Gustavo Conde, acerca do impasse social gerado pelos nichos de poder

Protestos EUA (Foto: Reprodução)
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E a explosão social continua sendo adiada. Aliás, é para isso que consiste a atividade jornalística e o debate público: para adiar explosões sociais - para adiar a verdade, para adiar o povo, para adiar a democracia.

A ‘democracia’ defendida por jornais e por “intelectuais orgânicos” é uma democracia conceitual, de gabinete, bonita, limpinha e cheirosa. Eles têm pânico da democracia real de Lula e do PT. Eles têm pânico de partidos políticos que têm democracia interna e que funcionam bem quando governam - sabem gerar riqueza, emprego, soberania, autoestima e igualdade social.

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O mundo quer explodir. O fracasso do sistema capitalista chega a ser chocante de tão óbvio. A precarização do debate público em torno desse tema também choca pela inépcia dos debatedores, com suas carteiradas travestidas de títulos acadêmicos de cativeiro.

O mundo tenta explodir, mas as mídias não deixam, tampouco a “turma progressista do deixa disso”. Ver gente supostamente de esquerda defendendo a manutenção de estátuas de genocidas brancos espalhadas pelo mundo “pela sua significação histórica” dá uma sensação de desterro. Onde foi parar o espírito revolucionário dessa gente?

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O coronavírus é uma espécie de recado a essa overdose de acovardamento. E - pasmem - ele disparou mais uma rodada de covardia nos arautos do pensamento representados por especialistas, economistas, sociólogos e toda a sorte de pessoas brancas bem educadas com pós graduação que, é claro, entendem do que falam.

Pessoas que não saem de casa ‘respeitando a quarentena’ mas que pedem tudo pelo telefone e internet expondo entregadores. Não é óbvio que isso é mais uma faceta temerária da desigualdade sanitária que nos envergonha?

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Um pouco antes de o coronavírus aparecer na província de Wuhan, na China, o mundo via as maiores manifestações anticapitalistas da história. Chile, Colômbia, Bolívia, Equador e França eram a comissão de frente. A América Latina estava em combustão. Governos sofriam para produzir uma resposta democrática à altura.

O mundo estava prestes a explodir e o coronavírus freou o processo de maneira brusca.

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Chega a ser tentador pensar que a deflagração do contágio viral foi “providencial”, como de fato foi. Ao contrário do que se pensa, o coronavírus salvou o capitalismo, pelo menos nesse primeiro momento da pandemia.

E cá entre nós: capitalistas dão uma sorte danada. Milhões de pessoas nas ruas do mundo todo e uma pandemia vem para dar cabo do ímpeto popular. Pura sorte - até porque sabemos que os operadores subterrâneos do capitalismo jamais iriam cometer o abuso de produzir um mutação de vírus em laboratório para colocar “ordem na casa”. Eles são éticos.

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Mas esse debate, como sabemos, é interditado. Para isso foi criada a expressão “teoria da conspiração”, para que você não mexa em assuntos reservados (muita gente não sabe que uma mera expressão - seguida de suas derivações discursivo-semânticas - tem o poder de bloquear certos debates públicos).

Carimbe-se a tarja “teoria da conspiração”, e o assunto morre antes de nascer - e ele toma de arrasto toda a prática jornalística, hipersensível que ela é ao sentimento de ridículo e às institucionalidades temáticas (diga apenas o que se pode dizer).

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Fato é que o mundo está para explodir faz tempo e as cenas jornalística, intelectual, digital e viral vão adiando ao máximo essa deflagração.

A explosão antirracista nos EUA não é fato isolado. Ela responde ao fracasso do capitalismo como todas as suas antecessoras latino-americanas.

Afinal de contas, esse mundo vai explodir ou não?

A resposta é: se depender o povo, sim. Se depender das elites, é claro que não.

Povo na rua é bom para as elites só quando o governo é uma democracia real e popular. Tome-se as jornadas de 2013. Foram maravilhosas para elite brasileira. Foi esse movimento que nos trouxe até aqui, os 20 centavos mais caros da história da humanidade.

O que me aflige, de fato, como linguista, é ver a inépcia do debate público, da cobertura jornalística, do delay gigantesco entre o que ocorre no mundo e seus desdobramentos na dimensão simbólica e crítica.

Tome-se o Brasil, por exemplo. Discute-se se o governo vai dar o golpe ou não, se os militares são golpistas ou não. Discute-se se se deve assinar um documento nomeado por “Estamos Juntos” para combater o fascismo (fascismo?). Discute-se se a derrubada de monumentos ao genocídio procede ou não, se a abertura do comércio deve acontecer ou não (mesmo com o crescimento do contágio viral e das mortes).

Que debate público é esse? Só pode ser uma piada.

Mas não é.

O nome disso nem é diversionismo. ‘Diversionismo’ seria um elogio a essa monumentalidade ao status quo.

Trata-se, de fato, de efeito-manada. Quem se comporta como gado no Brasil não são os apoiadores de Bolsonaro: são os intelectuais com “formação superior” que aproveitam a oportunidade para se promoverem a si próprios enquanto o povo trabalhador morre de fome e de vírus.

Tome-se as milhares de lives em nome da ponderação e do equilíbrio que proliferam como vírus nas redes sociais já institucionalizadas, mundinho digital afora.

Você, caro leitor, pode morrer isolado no quarto de um hospital - com o celular em punho e sem ar nos pulmões - assistindo um analista de grife lhe pedir equilíbrio e ponderação numa simpática live que possivelmente será sua última lembrança deste mundo cruel e capitalista.

O debate público brasileiro institucionalizado é uma boiada de palavras e teses que pastoreiam todas as reses para o curral do bom comportamento: pedem equilíbrio e ponderação o tempo todo e evitam o disseminar o pânico - afinal de contas, para que serve o pânico, senão para desencadear a revolta da população?

Jornalismo alarmista só quando o povo soberano está no poder. É uma equação tão simples de formular, que resta até chocante (tudo que é óbvio demais é chocante).

Portanto, nós temos que combater um vírus, um genocida e um debate público gerenciado pela burocracia do pensamento, o grande anteparo que protege a aceleração das mortes e a manutenção do poder por militares assassinos.

Esse debate está “querendo” um golpe militar no Brasil. Ele pede, encarecidamente, que se dê logo um golpe militar para que se inicie o sempre tentador processo de vitimização de toda a sociedade, como em nossa ditadura genocida. Aí, teremos uma frente ampla.

Ignoram-se todas as táticas retóricas, toda a possibilidade de se construir uma soberania intelectual de fato no debate público e agir na esfera dos pressupostos, não na superfície do posto, nessa inocência tacanha de achar que se noticia ou se problematiza uma crise entre poderes aceitando a premissa do poder espúrio de militares velhos, brancos e assassinos.

Somos gado enquanto gente e somos gado enquanto discurso.

Ou melhor: não somos gado.

Porque quando o gado é acometido com febre aftosa, por exemplo, imediatamente se providencia a vacinação em massa e os cuidados sanitários para a que a população bovina possa ser abatida com toda a segurança e princípios éticos.

A carne humana vale muito pouco nesse mundo capitalista regado à hipocrisia do jornalismo institucional e de intelectuais de contenção.

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