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Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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Fake news 2.0 ou como transformar um pária em um mito?

"Aparecer na foto ao lado de Putin e de Orban é o pico da carreira de um político cujo estilo é provocar vergonha alheia", escreve Marcia Tiburi

Viktor Orban e Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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A viagem de Bolsonaro é um ápice em sua carreira de presidente pária e que, por isso mesmo, sem poder e nem saber governar, servindo apenas aos interesses daqueles que o utilizam (neoliberais capitaneados por P. Guedes), segue com sua especialidade que é viver em eterna campanha política. Ele agrada aos patrões e aos filhos mimados, evita que sejam presos e também compensa seu narcisismo e seu sadomasoquismo no poder mirando mais e mais poder. 

O narcisismo fascista está intimamente ligado ao sadomasoquismo: servir ao líder autoritário é um gozo altamente compensatório que dá sentido à vida. Bolsonaro serve a Guedes e ambos servem ao rentismo neoliberal, ele mesmo uma economia política que, visando o lucro pelo lucro, apaga a chance de uma vida justa no planeta Terra. 

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Apesar da compensação emocional narcisista e sadomasoquista, a vida subjetiva das personalidades autoritárias, que viemos chamando de fascistas, é paupérrima. Imaginemos que algum desses tipos tenha consciência de si mesmo por um segundo e seu narcisismo se esfacelaria muito rapidamente. Mas a incapacidade de pensar sobre si mesmo é um traço constante das pessoas com a síndrome autoritária. Por isso mesmo conseguem fazer papelão e se darem bem. Seja Bolsonaro, Salles ou Guedes, Damares,  Moro ou Sergio Camargo, todos fazem uso do papelão – no limiar entre a estética e a politica - a seu favor.

Alguém perguntará: que importância pode haver na vida subjetiva de um presidente? Que importa que seja um narcisista, que tenha costumizado o nariz e depois tente disfarçar essa preocupação infantil com a própria imagem criando o personagem do tiozão mal vestido e ignorante? Ora, a vida subjetiva orienta a vida objetiva. Um personagem político é também uma pessoa psíquica a, portanto, moral. Em outros termos, a ética informa e forma a vida política, bem como as decisões que atingem a vida dos outros, inclusive subjetivamente. 

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Além da miserabilização a olhos vistos da população, da fome e da falta de direitos, do luto pelos mais de 600 mil mortos, uma imensa parte da população brasileira hoje vive em depressão cívica, ou seja, o país é um fator de sofrimento psíquico. Isso faz parte do que venho chamando de psicopoder: o cálculo do poder sobre o que as pessoas sentem e, portanto, pensam. Votar na extrema-direita é a ação esperada. 

Já dizia Espinoza que é preciso entristecer o povo para dominá-lo. A tarefa de Bolsonaro no plano de destruição do Brasil é tornar o povo triste e, assim, manipulável. Bolsonaro não teria essa engenhosidade sozinho: seus titereiros (oligarcas militares, religiosos e capitalistas) manipulam o Golem que ele é sem escrúpulos assim como ele manipula o povo. No círculo da manipulação geral, a irresponsabilidade se torna um fator a ser levado em conta na hora das eleições. O voto irresponsável sempre apoiou os candidatos que investiram no ridículo e no grotesco. 

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Aparecer na foto ao lado de Putin e de Orban é o pico da carreira de um político cujo estilo é provocar vergonha alheia em quem ainda tem algum respeito pela política, pela democracia e pela condição cidadã, a saber, viver com a expectativa de uma vida justa para si mesmo e para os outros. Bolsonaro não seria recebido por grandes líderes europeus, mas os parias da extrema direita abriram suas portas para o pobre coitado de Davos. O ar de concessão dos encontros era pesado e, tendo que se submeter a regras, o sadomasoquista, encontrou seu lugar na sombra espetacular que sua turma usa para animar as hordas fascistas das redes sociais, do Facebook ao Whatsapp. 

O clima de hipnose geral sob o governo de Bolsonaro é a regra. O estupor da população é inevitável. 

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A manipulação das massas se dá em um mundo de entretenimento. O terreno mental geral vem sendo há muito preparado para a imbecilização planetária. Desde o Big Brother Brasil até a igreja do mercado, a diferença em termos de manipulação mental e afetiva desaparece. Políticos que não tenham o prurido moral da ética são capazes de qualquer coisa e tendem a avançar no poder. 

A falta de escrúpulos virou regra. Por isso, a Fake News mais importante dessa semana não foi contra o PT ou a esquerda “comunista”, mas Bolsonaro posando de salvador da Pátria justamente em terreno comunista, como o enviado de Jesus para acabar com o conflito na Ucrânia que segue tenso. Bolsonaro posando de salvador nesse conflito é um ápice do ridículo para quem é capaz de raciocinar, mas é apenas a manifestação de Deus conduzindo o líder rumo ao seu destino sublime para os rebanhos bolsonaristas. 

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Que essa Fake News de autoria de Ricardo Salles tenha circulado nas redes sociais, mas também em jornais como a Folha de São Paulo sem que o jornal tenha desmontado a mentira, é um sinal dos tempos que virão justamente como eterno retorno da mentira. Sinal dos tempos que já começam a repetir 2017 e 2018. A produção de Fake News atinge uma nova fase, uma nova geração de mentiras, é a fase das Fake News 2.0.

As Fake News se alimentam do absurdo. Que o ridículo, o infame e o grotesco tenham se tornado um verdadeiro capital político e até mesmo uma tecnologia, no sentido da sua instrumentalização, é algo que venho tentando demonstrar desde 2017 (quem quiser ler uma versão acadêmica dessa tese, procure aqui: https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/14189/9656). A prova histórica da tese de que vivemos uma mutação politica, do registro “trágico” da politica, ou seja, o registro em que valores políticos sublimes estavam em jogo, passamos ao registro da farsa, e está sendo difícil sair dela, veio em 2018 e será repetido em 2022.

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As habituais análises históricas e positivistas perdem os aspectos estéticos de vista, eles mesmos fundamentais no teatro político.  A política foi reduzida à publicidade na sociedade do espetáculo, no qual a imagem é um capital fundamental, também no que concerne à politica. O “mito” Bolsonaro segue sendo construído agora com uma acentuação religiosa que alguém de esquerda dificilmente terá. É a remitificação do mito fascista. Se o projeto de poder da igreja do mercado, que manipula o nome de Deus e, assim, o povo, não for freado, não haverá saída para a esquerda senão investir em líderes religiosos como candidatos. Bolsonaro perde força diante da presença de Lula, mas cresce onde há mentes abertas à mistificação e manipuláveis em nome de Deus.

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