Falece o caricaturista gaúcho Francisco Rocha
Ele já não está aqui, mas o preto e branco que explorou de uma maneira única, continuará para além do tempo
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Às vezes é muito difícil escrever sobre alguém, quando esse alguém nos toca o espírito, as sensações. Por essa vida passa muita gente, muitas memórias, então é preciso fazer aquilo que é necessário. E é preciso lembrar o amigo.
Conhecido simplesmente como Rocha, exercitou seu traço exímio nas páginas de jornais e revistas brasileiros e estrangeiros como o L’Express (França), Independente (Portugal), El País (Espanha), Estadão, Folha e O Globo. Legou-nos uma obra exemplar, que só o infarto fulminante, ocorrido no dia 9 de maio, em Porto Alegre onde nasceu, poderia encerrar.
Conheci Rocha, em Lisboa, no início dos anos 90, quando colaboramos para criar uma associação de brasileiros, que dava (e ainda dá) apoio aos brasileiros que aterrissavam em Portugal. Com sua habitual simplicidade e a simpatia característica, nos tornamos amigos e falávamos de tudo um pouco. Colaborei no jornal português, o Independente, onde muitas vezes seu traço manchetava a primeira página. Era admirável passar pelas bancas lusitanas e vislumbrar suas obras em destaque. Não tinha qualquer laivo de vaidade, e só aperfeiçoou seu traço com o passar dos anos. Aquele gaúcho baixinho e discreto, detinha uma talento enorme que o seu país, talvez, nãoo tenha dado o devido valor.
Rocha era arquiteto, tendo se formado na Universidade do Vale dos Sinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Mudou-se para Portugal no início dos anos 90. Após essa temporada, regressou ao Brasil e se estabeleceu em Goiânia. Em 2019, voltou para sua terra natal, onde veio a falecer.
Perdi seu contato ainda em Portugal, e só nos reencontramos virtualmente, nas páginas de uma rede social. Continuava o mesmo, mas seu traço se apurara ainda mais.
Um artista como Rocha merecia a admiração contínua. Mas parece que isso não acontece no Brasil, sobretudo quando alguém enceta uma carreira internacional, como a que Rocha levou a cabo. Apesar disso, não se deixou abater, manteve seu lápis apontado direto na perfeição daquilo que representava. Seu olhar sagaz conseguia captar com profundidade a alma de cada personagem. Produziu genuínas obras primas que deveriam ser estampadas regiamente. Observem o olhar lânguido de Wilde, a sisudez de Bernard Shaw ou o distanciamento perdido do olhar de Beckett...
Ele já não está aqui, mas o preto e branco que explorou de uma maneira única, continuará para além do tempo.
Amava esta terra como eu, por isso voltou para cá. Apesar de tudo, do ostracismo, do desprezo, seu lápis desenhou as coisas, as pessoas, com a força genuína. Foram sessenta e sete anos de vida e quarenta e sete de pura beleza.
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