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Falta luz no Complexo do Alemão

Pequenino, morador da favela, o mundo podia não esperar muito de Eduardo, mas certamente ele esperava algo melhor desse mundo

Pequenino, morador da favela, o mundo podia não esperar muito de Eduardo, mas certamente ele esperava algo melhor desse mundo (Foto: Talita do Lago Anunciação)
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Falta luz no Complexo do Alemão. Eduardo não está mais lá para fazer brilhar seus sonhos de criança. Com apenas 10 anos ele era um pontinho de esperança que poderia nos ajudar a tecer um mundo melhor. Pequenino, morador da favela, o mundo podia não esperar muito dele, mas certamente ele esperava algo melhor desse mundo. Segundo a professora, ele era um menino carinhoso e participativo na escola. Segundo os pais, era estudioso e queria ser bombeiro. Talvez naquele dia Eduardo só tivesse planos de brincar, ver TV com os pais ou fazer suas tarefas da escola. Quaisquer que tenham sido os seus planos de menino para aquela quinta-feira, véspera de feriado, eles foram duramente interrompidos.

A morte é sempre lamentável, traz pesar e sofrimento para os próximos e deve despertar compaixão nos distantes. No entanto, a partida de Eduardo não foi apenas uma fatalidade, uma tragédia ou o desenrolar natural da existência. A partida dele possui graves causas políticas e sociais e se isso não fizer sangrar nossos corações estamos falhando enquanto seres humanos. Estamos falhando se não nos importarmos com o fato de que para as nossas instituições, para grande parte da sociedade e da mídia, Eduardo se tornará mais um número, um dado da violência urbana ou apenas o alívio de um menino do morro a menos.

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Estamos falhando quando vemos a professora de Eduardo vindo a público esclarecer que o menino não era bandido ou que não merecia morrer. Essa atitude da professora se deu devido ao fato de que logo após a divulgação da notícia da morte do garoto, a foto de um menino supostamente armado foi atribuída ao pequeno Eduardo e passou a ser compartilhada pelas redes sociais. Não era ele. Mesmo assim, aqueles que jamais se dariam ao trabalho de lamentar o destino trágico de Eduardo passaram a ofender sua pequena memória baseados na filosofia rasa e insensível de que "bandido bom é bandido morto". De fato, estamos falhando.

Imagens fortes como a do corpo de Eduardo mergulhado em seu próprio sangue, nos levam mais uma vez a constatar a ineficiência do Estado nas ações que recaem sobre o tráfico de drogas e na garantia ao direito à infância e a juventude. Eduardo não merecia a morte dessa maneira, ele tinha direitos que não foram garantidos. Direito à vida, à educação, à segurança, à saúde e ao lazer. Seus colegas que continuam no Alemão têm os mesmos direitos e em tempos de discussão sobre a redução da maioridade penal, vale a pena questionar: um Estado que não consegue garantir dignidade e em muitos casos, a própria vida dos seus "menores", tem o direito de enclausurá-los?

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De qualquer forma, está consumado, Eduardo se foi. Seu doce sorriso de criança foi destruído em frente a sua própria casa, no quintal onde reinavam soberanas suas fantasias infantis. Eduardo menino se foi. Foi-se no momento em que o Estado lembrou-se dele. Não foi lembrado pela agenda da distribuição de renda ou da justiça social, mas pela bala de um fuzil. Na casa de dona Terezinha Maria de Jesus, mãe de Eduardo de Jesus, não vai ter ressurreição nessa páscoa. Eduardo não volta, falta luz no morro do Alemão.

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