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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Fantasma do velho comunismo ainda assombra

"O comunismo, que durante muito tempo assombrou o Ocidente, em especial os Estados Unidos, aparentemente hoje só preocupa brasileiros, em particular militares, que vivem o presente com a cabeça no passado distante", escreve o jornalista Ribamar Fonseca

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O comunismo, que durante muito tempo assombrou o Ocidente, em especial os Estados Unidos, aparentemente hoje só preocupa  brasileiros, em particular militares, que vivem o presente com a cabeça no passado distante. O mundo progrediu, o Brasil evoluiu, mas o atavismo dessa gente interfere de tal modo no seu comportamento que muitos conseguem ver perigosos comunistas até em quem veste uma roupa vermelha. Algumas pessoas, inclusive, já foram agredidas pelos anticomunistas mais radicais apenas porque usavam uma camisa ou um vestido de cor vermelha. E como o PT elegeu o vermelho para a cor da sua bandeira ficou fácil para os radicais rotularem os seus membros de comunistas e, portanto, seus inimigos, não adversários. Por conta disso e graças a uma campanha sistemática da mídia tradicional, além das redes sociais, os petistas passaram a ser confundidos com comunistas e tratados como inimigos a serem abatidos. O presidente Jair Bolsonaro incentivou, desde a campanha eleitoral, o ódio aos petistas, dizendo entre outras coisas que mataria os ”petralhas”. E mais recentemente afirmou, em evento no Piauí, que os “varreria” do Brasil. Com sua verborragia inconsequente, carregada de ódio, ele tem sido um dos principais responsáveis pelo incremento da violência no país, particularmente entre os seus seguidores na internet, os quais, à falta de argumentos, apelam para ameaças, inclusive de morte, contra os seus críticos. 

Ao invés de buscar soluções para os problemas do desemprego, da saúde, da educação, da segurança pública, da fome, etc, o que o capitão-presidente fez foi agravar a situação com o corte de recursos. Na verdade ele está preocupado apenas com o que chama de “viés ideológico”, perseguindo todos os que identifica, por suas declarações, como comunistas-petistas. Sua obsessão é tamanha que viu “guerrilheiros disfarçados” nos médicos cubanos do Mais Médicos e chamou de “general-melancia”, verde por fora e vermelho por dentro, um militar integrante do governo que discordou dele. Em oito meses de governo ele praticamente não fez absolutamente nada em favor do país e do seu povo, pois o que seria a sua grande obra, a reforma da Previdência, trará mais prejuízos do que benefícios aos trabalhadores. Com suas declarações irresponsáveis, ele passou a colecionar inimigos dentro e fora do país, sendo alvo de críticas severas no mundo inteiro. Enquanto isso, o Brasil entra em recessão e volta para o mapa da fome, de onde havia sido retirado por Lula; o ministro da Economia ameaça mexer nas reservas cambiais;  os financiamentos estão minguando, sobretudo pelo descontrole do desmatamento da Amazônia; o povo insatisfeito começa a sair às ruas e a inquietação cresce entre os militares, decepcionados com o despreparo de Bolsonaro inclusive para falar, envergonhados com as barbaridades que tem dito nos últimos dias. Percebe-se, sem dificuldade, um significativo silêncio entre os generais da reserva que até pouco tempo faziam muito ruído em favor do capitão. 

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O fato é que, além dos brasileiros mais esclarecidos, o mundo inteiro tenta compreender até hoje a eleição de Bolsonaro para presidir o Brasil. Sua eleição, que surpreendeu a muita gente, resultou de um conjunto de fatores que incluiu o comportamento antipetista da grande mídia, responsável por uma prolongada campanha destinada a criminalizar os petistas, particularmente o seu líder maior; à invasão das fakenews nas redes sociais com o uso de robôs; e a eliminação de Lula, o favorito do eleitorado,  da sucessão presidencial. Também contribuiu para a sua vitória a sua origem militar, já que muita gente considera os militares imunes à corrupção, e o apoio discreto das Forças Armadas. Na verdade, os militares sabiam e sabem que ele não era o melhor candidato, mas era o único identificado com eles, inclusive um defensor declarado da ditadura. E viram nele a oportunidade de voltarem ao poder pela via democrática, ou seja, pelo voto. 

Segundo o livro “Os onze – o STF, seus bastidores e suas crises”, dos jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber,  prestes a ser lançado, em 2018 teria havido um “golpe branco”, com uma pressão militar sobre o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral para impedir a libertação de Lula e garantir a vitória do capitão. Quem antecipa o conteúdo do livro é o jornalista André Barrocal, na revista Carta Capital. Segundo o livro, de acordo com Barrocal, juízes do TSE se reuniram reservadamente com o ministro Dias Toffoli, do STF, e o general Sergio Etchegoyen, chefe da Abin no governo Temer, para tratar do processo eleitoral. E mais: comandantes da campanha de Fernando Haddad, do PT, à Presidência da República, teriam sido informados de que estavam sendo monitorados pelo órgão de inteligência, assim como o próprio Toffoli. Se verdadeiras tais informações, desde o golpe de 2016 que destituiu a presidenta Dilma Rousseff que o país vive sob um mascarado regime de exceção, em que a eleição presidencial sofreu interferências dos militares para que Lula fosse impedido de concorrer ao pleito e Bolsonaro tivesse a vitória assegurada. Juntando essa informação também com a interferência do então juiz Sérgio Moro no processo, ao condenar e prender o ex-presidente sem provas, fica claro que a eleição de 2018 está passível de ser anulada. Resta saber se a Corte Eleitoral teria coragem de promover a anulação, pois isso significaria o fim do governo Bolsonaro que, ao que parece, ainda tem o apoio, embora já enfraquecido, dos militares, que já não conseguem esconder a decepção com ele. Os militares provavelmente não contavam com o deslumbramento do capitão com o poder e muito menos com o seu destempero verbal, o que vem criando constrangimentos e o receio de que o seu comportamento possa refletir negativamente no conceito das Forças Armadas, até hoje a instituição melhor avaliada pela população. 

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Não há dúvida de que Bolsonaro não tem mais a unanimidade entre os militares, se é que algum dia chegou a tê-la, e, também, já não tem o mesmo apoio dos empresários, como consequência dos prejuízos que causou por suas agressões a países importadores de produtos brasileiros, o que significa que sem essa sustentação poderá cair antes do término do seu mandato. Por enquanto, por conta de suas verbas para emendas parlamentares, tem assegurado o apoio do Congresso às suas propostas, mas ele não conseguirá suprir por muito tempo a fome de dinheiro dos congressistas, perdendo gradativamente o apoio no Legislativo. Aliás, até membros do seu partido, o PSL, já o estão abandonando,  decepcionados com o seu comportamento.  Muitos dos seus aliados já não escondem seu desagrado com a postura agressiva de Bolsonaro, com uma linguagem chula  que não casa com a austeridade do cargo. Ultimamente ele só fala em “cocô”, comparando seus críticos ao excremento, depois de sugerir aos ecologistas  uma evacuação dia sim e outra não para preservar o meio ambiente. Também chamou de “cocô” os nordestinos, o que significa que obteve a aprovação da reforma da Previdência na Câmara graças ao voto dos deputados-cocôs do Nordeste que votaram favoravelmente à proposta. O mesmo rótulo serve para os senadores nordestinos que aprovarem a reforma no Senado, onde a proposta tem como relator o senador nordestino Tasso Jereissati, que pediu para Bolsonaro fechar a boca a fim de não atrapalhar a votação. 

Já apelidado de “exterminador do futuro do Brasil”, Bolsonaro parece que chegou ao Planalto com a missão de destruir o país, a começar pela floresta amazônica, onde o desmatamento, estimulado pelo seu discurso destrutivo de ódio, vem crescendo numa velocidade espantosa, provocando a suspensão dos recursos da Alemanha e Noruega destinados à sua preservação. O capitão parece estar estimulando a devastação deliberadamente, para provocar uma intervenção internacional na região, já que o resto do mundo não esconde a sua preocupação com os efeitos danosos da destruição da floresta para a sobrevivência do planeta, ameaçado também por uma guerra nuclear que Trump promete todo dia. Além da questão amazônica, o capitão-presidente também provoca uma divisão do país, ao agredir continuamente o Nordeste, ao mesmo tempo em que destrói a educação, a saúde, a economia, as conquistas sociais e tudo o que o país construiu nas últimas décadas, incluindo a Petrobrás e outras grandes empresas. E todos assistem a esse processo destrutivo sem uma reação mais vigorosa, sem indignação. Apenas umas poucas vozes se levantam. Como será que estão se sentindo os que o elegeram e, portanto, se tornaram cúmplices dessa destruição? Muitos já se arrependeram mas, infelizmente, o estrago já foi feito. Até quando vão presenciar, de braços cruzados, essa catástrofe?

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