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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Faxina em Brasília

"O clima dentro do palácio era de total bagunça", escreve Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o 247 

O pessoal da faxina chegou no palácio, mas não pode entrar imediatamente. Havia um corre-corre nos corredores e nas salas que eram ouvidos de fora. Sentados nos baldes, apoiados nas vassouras e rodos especiais para o serviço o pessoal da limpeza tentava disfarçar o constrangimento. Era um tal de “rasga isso agora, joga fora e puxa a descarga, engole, engole que ninguém acha”, que o clima foi ficando estranho.

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Depois de quase uma hora a porta se abriu e um oficial subalterno deixou o pessoal entrar. O clima dentro do palácio era de total bagunça. Papéis pelo chão, restos de comida, latas de leite condensado, picanhas, comprimidos azuis embaixo do sofá rasgado por marcas de pés e assim por diante. Até uma ema solitária vagava por entre os móveis maravilhosos e ameaçados de Sérgio Rodrigues. Ao longe se escutava uma música sertaneja e sons de tiros vindos do quintal de trás. O ruído de moto acelerando acabou por dar o tom anárquico àquela tarde de sábado.

O pessoal da faxina, muito bem treinado não quis nem saber. Foi adiante tentando dar ordem naquele caos. Recolheram o que acharam pelo caminho, colocando tudo em sacos pretos de lixo. Tentaram separar o seco do molhado e o reciclável do orgânico. De reciclável mesmo nada foi encontrado. O pouco que havia estava danificado ou era inútil, não dava para aproveitar nada.

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Os tapetes em péssimo estado escondiam por debaixo um monte de papéis amassados, riscados e picados. Até dinheiro acharam embaixo dos tapetes. Nos quartos os colchões estavam todos rasgados, com a palha para fora e os travesseiros sem as plumas espalhados pelo chão. A impressão que dava é que haviam tirado às pressas o que estava ali dentro. Armários vazios, quadros tortos e danificados nas paredes. Num dos armários encontraram uma coleção de armas e munições. Alvos com a cara do presidente eleito Lula e bonecos espetados com agulhas com a cara do ex-juiz Sergio Moro. Alguns funcionários da faxina mais supersticiosos quiseram se ver livres logo daqueles bonecos. Acharam uma caixa preta com um monte de documentos sigilosos dentro e juntaram os bonecos ao conteúdo.

Na cozinha do palácio a geladeira demonstrava o vazio existencial e cultural de quem habitou a casa. Não havia mais nada a ser consumido somente a ser lavado e arrumado. Pratos quebrados, garfos tortos por um imaginário Uri Geller, toalhas de mesa quadriculadas como a bandeira da Croácia e panos de chão com a cara do antigo ocupante jogados num canto. 

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Depois de percorrer todas as acomodações palacianas a turma se reuniu no meio do salão para tentar articular uma estratégia e terminar o serviço.

Chamaram o Mercadante, a Gleisi e o Alckmin e através de um memorando entregue a eles afirmavam que sem uma frente democrática de faxina o problema não ia se resolver. Foram prontamente atendidos e dali pra frente o que se viu entre aquelas muitas paredes e vidraças foi o clima de frescor, esperança e limpeza que promete ser o tom do futuro deste país em geral e deste palácio em particular.

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