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Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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Fernández fecha campanha com unidade inédita e promete menos exclusão na Argentina devastada

"Mais unidade, mais solidariedade, mais flexibilidade, mais paz, mais amor e bem comum são as mensagens de Alberto Fernandez. Um país em desgraça não aspira senão a isso", diz Mario Vitor Santos, enviado especial a Buenos Aires

(Foto: Joaquin Salguero/Pagina 12)
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Por Mario Vitor Santos, enviado especial a Buenos Aires –O candidato peronista Alberto Fernández encerrou em Mar del Plata, a 400 km de Buenos Aires, sua campanha presidencial com um agradecimento especial a sua candidata a vice, Cristina Fernandez de Kirchner. Fernández atribuiu a ela, Cristina, a responsabilidade oficialpor tomar a iniciativa, em 18 de maio passado, de montar uma frente política, convidando-o para encabeçar a chapa e abrindo mão de sua precedência.

“Obrigado Cristina”, repetiu diversas vezes Alberto, dirigindo-se a ela, que o mirava sorrindo, sentada numa banqueta ao lado, com um poncho cintilante azul no grande palco montado à beira-mar diante da multidão compacta, salpicada de bandeiras também azuis e brancas. Não é desprezível o significado da ocasião desse fechamento da campanha eleitoral, embora circule que foi dele, Alberto a inciativa de formar essa chapa. 

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O ato de encerramento ocorreu como uma demonstração rara de unidade de diversas correntes desgarradas, fato inédito nas últimas décadas, quando o kirchnerismo teve que se mover num ambiente de aguda disputa de correntes internas ao peronismo. Nesse período, as alas mais conservadoras, setores provinciais, parlamentares e sindicais, chegaram a fazer oposição declarada a Cristina, a ponto de apoiar seus adversários políticos, em benefício até mesmo dos interesses do atual presidente Mauricio Macri.

Por isso, essa campanha foi considerada histórica, atingindo uma unidade peronista perdida havia décadas e que muitos consideravam descartada para sempre. A obtenção desse acordo foi impulsionada, é certo, pelo fracasso da gestão neoliberal de Maurício Macri, responsável por conduzir o país à insolvência econômica.

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O decisivo, porém, foi a decisão de Cristina de aceitar um caminho que contornasse sua rejeição eleitoral e os impasses políticos a que sua trajetória política havia chegado.

Como Lula, e não por acaso, Cristina foi alvo de conluio midiático e judicial em torno de acusações nebulosas de corrupção. O gatilho foi o surgimento de fotocópias de supostos cadernos que descreveriam a coleta de recursos de corrupção em seu governo. O noticiário a respeito, a que ela nunca deixou de se contrapor, fomentou intensa rejeição eleitoral de segmentos da população a Cristina.

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Para surpresa geral, esta aceitou indicar o antigo chefe de gabinete das gestões de Néstor Kirchner e de parte de sua primeira gestão. O gesto, mantido em sigilo e comunicado via twitter num sábado às 8h da manhã, causou surpresa generalizada alterou inteiramente o panorama eleitoral. Alberto Fernández renunciara à chefia do gabinete de Cristina ainda em 2008, tornando-se a partir de então crítico da gestão da presidenta. 

O resultado de sua indicação para a chapa foi a abertura de espaços de unidade entre as correntes do peronismo e mesmo de diversos independentes de esquerda, de posições semelhantes à do próprio Alberto Fernández. Essa acomodação tem ajudado a estreitar a chamada “grieta”, ou seja, a polarização política aguda que a Argentina, como tantos países, enfrenta entre antagonismos turbinados pelas redes sociais entre direita e esquerda.

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Alberto Fernández é visto como um político conciliador e flexível, um negociador hábil, o que não quer dizer que seja ambivalente, ou que não assuma com gosto atitudes firmes, éticas e morais como a solidariedade aberta à campanha pela liberdade de Lula, que visitou na prisão em Curitiba. Sua marca fundamental é permitir uma unidade ampla de rejeição ao modelo imposto pelo macrismo. Ele vive o paradoxo, ou a dupla vantagem, de ser uma espécie de novidade conhecida, uma espécie inusitada de político autônomo, desligado da disputa particular entre as diversas facções da oposição ao macrismo.

Em seu primeiro teste, a fórmula superou todas as previsões. Alberto Alberto Fernandez alcançou 47,7% contra 32,1% de Macri nas PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias) de agosto passado. Uma vitória tão expressiva que muitos analistas consideram irreversível, em especial por sua verticalidade estruturada pelas campanhas dos governadores provinciais, pertencentes às mesmas chapas.

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Ficou claro que a parcela indefinida do eleitorado estava disposta a aceitar um nome, como Fernández que sinalizasse uma relação um pouco mais frouxa com a liderança peronista para assim catalisar o vasto descontentamento com a gestão desastrosa de Macri. Alberto acena com a possibilidade de um ambiente de menor atrito, apelando à ideia de uma maior unidade e negociação para uma sociedade exausta pela divisão, o confronto e especialmente pela catástrofe econômica.  

Consciente disso, Fernández busca transmitir valores de solidariedade para mitigar as carências dos atingidos pela maior crise desta década, com falência de milhares de pequenas e médias empresas, crescimento do desemprego, da miséria e da fome, inclusive das crianças.

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Em contraponto a isso, Alberto prega a solidariedade humanista. O apoio aos pobres numa sociedade devastada por um capitalismo predador, , um expressar a opinião solidária, muito próxima da figura de um personagem pouco citado mas muito relevante nas eleições, o Francisco, o papa argentino, que jamais visitou o país na gestão de Macri, mas de quem Fernandez é não apenas próximo, mas um interlocutor frequente.

Foi justamente a ideia de uma solidariedade que se poderia dizer cristã que Fernandez enfatizou nesse seu último discurso em Mar del Plata. Também no palco, ao lado de Cristina, o franco favorito kirchnerista para governador da província de Buenos Aires, o jovem ex-ministro da Economia Axel Kicillof, discursou dizendo que não se pode gerir um país como se gere uma empresa, numa estocada em Macri, que vem de uma família de empresários. Contra isso, Alberto Fernandez valeu-se da imagem de um governo de viés solidário, que estenda de estender a mão aos que estão em dificuldades (praticamente toda a população) e ajude-os a sair do buraco em que foram atirados. Mais unidade, mais solidariedade, mais flexibilidade, mais paz, mais amor e bem comum são as mensagens de Alberto Fernandez. Um país em desgraça não aspira senão a isso.

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