FHC - de príncipe a golpista

O trio era formado por ele, o seu professor Florestan Fernandes e o colega Otávio Ianni . Os três se destacaram na sociologia paulista com alcance em toda América latina e merecidas repercussões em terras européias.

Além de sua invejável carreira acadêmica, o livro 'Dependência e Desenvolvimento na América Latina', considerada a bíblia dos dependentistas, denunciava a subserviência do Brasil ao imperialismo americano. Escrito à quatro mãos com o chileno Enzo Faletto, lhe rendeu um imenso prestígio na esquerda latino-americana, e o epíteto 'O Príncipe dos sociólogos' lhe consagrou como um dos grandes pensadores do país.

Entrou na política cavalgando na luta contra a ditadura militar, ajudou a fundar o Cebrap ( Centro Brasileiro de Pesquisa e Planejamento ) e se fez senador pelas mãos de Franco Montoro.
Mas foi na política que se formou e consolidou o seu caráter, expondo suas profundas contradições ideológicas

O sociólogo, perseguido pela regime militar, com enorme prestígio no mundo esquerdista, começou a mostrar suas unhas conservadoras, ainda no movimento das Diretas Já, quando se empenhou diretamente para retirar a cor vermelha das manifestações, que sacudiram o país e forjaram o ocaso do regime militar..

O Cebrap que, acreditava-se,, passeava pela esquerda do calçadão ideológico, descobriu-se que seus cofres eram abastecidos com dólares da Fundação Ford, que mantinha cordões fincados na CIA americana.

Fez elogios rasgados à queda do Muro de Berlim, com o devido sepultamento do socialismo e a vitória final do capitalismo

O jatinho que conduziu o sociólogo em busca do conservadorismo mais radical, foi fretado durante as eleições de 1994 pela elite nacional , assustada com o carisma irresistível do sapo barbudo. Nos oito anos de seu principado, atracou-se feito sanguessuga ao direitismo do DEM e foi cumprir, com muita competência, a agenda neoliberal de Thatcher e Reagan.

Recentemente, durante os reboliços midiáticos para desapear Dilma do poder, vestiu sem qualquer inibição a camisa do golpismo e mesmo consciente de suas próprias pedaladas fiscais, escreveu 22 artigos no Estadão(reproduzido por outros veículos) estimulando a campanha de agressão à constituição e à vontade democrática de 54 milhões de brasileiros.

Mas, seu castigo (e de seu partido) veio montado na garupa do desastre econômico de sua gestão, que manteve o país em dependência plena ao Fundo Monetário Internacional. Junte-se a isso, o desempenho econômico e social do governo Lula e vamos entender as três derrotas seguidas dos neoliberais, que chegaram ao poder deslizando no tobogã do plano real de Itamar Franco e na compra de votos de parlamentares para a reeleição

Sua fama de golpista transpôs o além-mar e sua coroa de príncipe foi arrancada, vejam vocês, em plena Nova Iorque durante o Congresso Latin American Studies Association ( LASA ). Escalado para ser o ator principal do evento em palestra a ser proferida em sessão especial, o sociólogo foi forçado a desistir de sua participação, depois que 499 cientistas assinaram manifesto com veemente protesto à sua presença naquele evento.

O cientista argentino, Leandro Morgenfeld, membro da Clacso (Consejo Latino-americano de Ciências Sociales) definiu o sentimento de seus colegas em relação ao ex-presidente brasileiro: "por ter sido um dos principais articuladores do golpe contra a presidente Dilma é um desatino chamá-lo para falar em um debate sobre a democracia".

Profundamente lamentável, que o Príncipe dos Sociólogos, festejado pela esquerda latino-americana , na sua transição de cientista social para o mundo político, tenha se transformado num convicto golpista de direita.