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Mateus Mendes de Souza

Bacharel em Geografia pela UFF e mestrando em Ciência Política – Política Mundial pela UniRio, professor da rede municipal de Duque de Caxias e diretor do Sepe-Duque de Caxias

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FHC e a metamorfose de um golpista

Pouco importaria se para o retorno ao Planalto a situação na Venezuela se deteriorasse. FHC não teve escrúpulos quanto aos meios, porque julgava que valiam a pena os seus fins: fazer do Planalto novamente poleiro de tucano e fazer da pinguela do Temer uma ponte para passado

(Foto: NACHO DOCE - REUTERS)
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O telefone toca no Palácio da Alvorada. É domingo de manhã. Na outra ponta da linha, um presidente sul-americano agradece ao presidente brasileiro pelo empenho na costura diplomática que frustrou, dias antes, um golpe de Estado urdido desde Washington. Não era para menos. Assim que as Forças Armadas daquele país empossaram os oligarcas, o ocupante do Planalto liderou a contraofensiva que isolara os golpistas, deixando esses pendurados quase que exclusivamente nos Estados Unidos, patrocinadores do golpe, e em mais um, quiçá três governos latino-americanos.

“Nós da região, da América Latina, das Américas, não podemos ficar contentes quando há um processo como o que está ocorrendo [...] O continente é democrático e não aceita governos de força”, dissera nosso então presidente, na antevéspera do tal telefonema.

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O domingo em questão é 14 de abril de 2002. No Alvorada, estava Fernando Henrique Cardoso. Na outra ponta, Hugo Chávez, que havia sido deposto do Miraflores no dia 11 de abril. Faltavam ainda seis meses para Lula ser eleito.

Dezessete anos depois, também num domingo, o Brasil e o mundo ficam sabendo de uma ação daquele mesmo FHC, mas agora em prol do golpismo na América Latina. Sua participação no golpe no Brasil em 2016 já era mais do que evidente. Contudo, apesar de haver intenso diálogo do PSDB com os golpistas venezuelanos, o tucano de mais elevada plumagem vinha se mantendo preservado. Por mais que fosse improvável que os golpistas daqui e de lá trocassem figurinhas sem que o príncipe dos sociólogos anuísse.

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No dia 7 de julho de 2019, FHC foi mais uma vez depenado. O Intercept mostrou que Fernando Henrique achou uma boa ideia que a Laja Jato estendesse o law-fare para Venezuela, ou seja, para além das fronteiras brasileiras, o que acabou acontecendo. Ou seja, por baixo da plumagem de democrata (que engana poucos, é bom que se diga), há um golpista incorrigível.

O que teria feito FHC mudar tanto? Como alguém passa de defensor da democracia na região, com disposição de adotar uma postura de enfrentamento em relação a Washington, para alguém que conspira para golpes aqui e em outros países?

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Teria sido a vaidade? Afinal, alguém que esperava retornar em 2006 nos braços do povo e que, na verdade, acabou sendo escondido das campanhas presidenciais do seu partido deve estar muito frustrado.

Teria sido um cálculo egoísta? Sendo ícone de um período e de um receituário que não trazem saudade a ninguém – e, portanto, não conta com votos –, FHC apostou no golpismo aqui para tirar o PT do governo, e voltar por meio de um dos seus na eleição de 2018. Também frustrou-se.

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Só que, quando compactuou com a Lava Jato no ataque jurídico, político e geopolítico contra Caracas, FHC ainda não sabia que o monstro que ele alimentara e soltara não estaria disposto a voltar para a jaula. A extrema-direita não toparia ser coadjuvante e fagocitaria a direita tradicional.

Pouco importaria se para o retorno ao Planalto a situação na Venezuela se deteriorasse. FHC não teve escrúpulos quanto aos meios, porque julgava que valiam a pena os seus fins: fazer do Planalto novamente poleiro de tucano e fazer da pinguela do Temer uma ponte para passado. Usou meios escusos e não atingiu seu fim. Parodiando Winston Churchill, entre a desonra e a derrota, FHC escolheu a desonra e saiu derrotado. 

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