Ficções e apostas políticas
Entre ficções jurídicas e apostas políticas, o Brasil enfrenta a insânia bolsonarista que contamina instituições e ameaça a democracia
Agosto é mês de cachorro louco, diz o ditado e o artigo que Fernando de Barros e Silva publicou na revista Piauí do mês passado (Efeito Trump). A edição apenas reforçou a epígrafe folcloricamente, plasmando a “cultura do povo”. Por outra etimologia, a canina, temos um canalha na presidência norte-americana, o que reflete a insanidade criminosa que nos atinge e a boa parte do mundo. A loucura se traduz nos traíras da capa da edição, dura realidade, com exceção do Iscariotes pertencente à esfera das crenças, já que os demais nominados são de comprovação histórica. Traem a pátria e seu povo como coçam suas pulgas.
A biruta (que poderia ser o biruta) é alegoria perfeita para descrever o governador fluminense de São Paulo. Lembra o mato-grossense que governou estas plagas nos anos 1950 e foi alçado à Presidência do país, mas sucumbiu às “forças ocultas”. Da direita inocente de Jânio Quadros, passamos à direita dura da ditadura, chegando à chamada direita democrática dos tucanos, hoje politicamente extintos. A ascensão da extrema-direita usando Bolsonaro como fio condutor resultou em várias excrescências, uma delas a que habita o Palácio dos Bandeirantes, rumo ao do Planalto. Por mais rugoso que seja, é perfeito o retrato feito por Ana Clara Costa na Piauí. A edição segue nessa toada, de dura leitura, não pela forma dos textos, mas pelo conteúdo. Sobrevivi.
A aposta política que Tarcísio de Freitas faz é estúpida ou criminosa. Apoiar a anistia a criminosos apenas para computar supostos votos bolsonaristas é associar-se a eles na ignorância ou na inconstitucionalidade. Seria o mesmo que eu, por ser químico, seguisse carreira no refino de drogas por ser mais rentável. Dignidade não é apenas capacidade de fazer. Em qualquer das hipóteses, a movimentação do governador em Brasília nesses dias de verdadeiro patriotismo acontecendo na Suprema Corte e na Paulista – quando a festa seria por nossa Independência, não pela submissão à bandeira norte-americana – não condiz com a importância de estar à frente do mais rico estado brasileiro. Parece que somente em jogo simulado de futebol é que o governador Tarcísio de Freitas consegue dar uma bola dentro.
Rebatendo as robustas peças de acusação da PGR no julgamento da trama golpista no STF, os advogados de defesa dos réus apresentam um mundo de Nárnia em relação a seus clientes. Justiça deve haver sempre, mas duvido que os operadores do direito estejam acreditando piamente no que falam da tribuna. Como ficção, cada uma das horas de sustentação da defesa já seria de um enredo muito ruim. A semana é decisiva para trazer um pouco de realidade à sanha golpista, ainda que não atinja, por enquanto, o embaixador bolsonarista em São Paulo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

