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Luiz Alberto Gómez de Souza

Formado em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Ciência Política, doutor em Sociologia. Autor de mais de cem artigos em revistas brasileiras e internacionais e colaborador e organizador de vários livros

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Filemón Escobar: um sindicalista exemplar

Filemon nasceu em 1934, mestiço, mãe índia mineira e pai dirigente sindical. Órfão aos 12 anos, de certa maneira autodidata, tinha uma enorme clareza teórica e uma prática enraizada na sua situação de classe

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Em 1960 participei de uma missão da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), onde era funcionário, para preparar, a pedido do governo boliviano, um plano nacional de desenvolvimento. Terminado o mesmo, estava sendo impresso, quando o presidente J. J. Torres foi derrubado por um golpe de estado. Mais tarde seria assassinado em Buenos Aires pela Operação Côndor. Ficaram, de nosso trabalho, dois volumes com muita informação sobre o país. A parte social foi preparada por Anibal Quijano, peruano e por mim.

Na elaboração do documento, tivemos a satisfação de encontrar e ouvir um jovem dirigente mineiro que nos impactou pela clareza e lucidez. Trago aqui seu retrato. É um exemplo do que um movimento sindical maduro pode criar. O encontramos em Oruro, na mina Siglo XX, com uma classe mineira da maior importância. Eu costumava dizer, na ocasião, que quem não acreditasse em classe social e em conflito de classes, deveria ir a Oruro. Filemón era a melhor expressão de uma prática sindical poderosa. Depois, em La Paz, seguimos dialogando com ele, também conhecido pelo cognome de Filipo e muitas de suas ideias sobre um desenvolvimento desigual e combinado, de matriz trotsquista, foram a base de nosso trabalho.

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Filemon nasceu em 1934, mestiço, mãe índia mineira e pai dirigente sindical. Órfão aos 12 anos, de certa maneira autodidata, tinha uma enorme clareza teórica e uma prática enraizada na sua situação de classe. Quando o conhecemos era dirigente da importante Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros da Bolívia (FSTMB) e assessor da Confederação Operária Boliviana (COB). Com o golpe  foi para o Chile com parte do ministério derrubado. Tive a ocasião de oferecer um jantar para sete ex-ministros e para Filemón, a quem segui encontrando, amigo que teve de sair por ocasião do outro golpe. Naquele momento era dirigente do Partido Operário Revolucionário (POR-Lora, havia três POR!).

Em 1987, foi fundador do Movimiento al Socialismo (MAS) e seu maior teórico. Elegeu-se senador em 2002. Mais adiante, em 2005, rompeu com o MAS, por divergências com Evo Morales.

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Cito um texto  extraído de sua biografia, publicada por ocasião de sua morte  em 2017:

“En su desempeño como teórico de la revolución boliviana sostuvo que el pueblo boliviano se organiza de forma natural en sindicatos, y no en partidos políticos. De ello derivó la analogía de que la Central Obrera Boliviana (COB) era un órgano de poder, una especie de sóviet. En tal sentido, postuló que en Bolivia los sindicatos no son solo organizaciones económicas en pos de mejores salarios, sino órganos de auto-gobierno. En tal sentido se acercó al llamado marxismo concejalista y autogestionario. Para Escóbar, el sujeto de la revolución boliviana era la COB. Convertido en dirigente del MAS, afirmó que éste era en realidad el brazo político de los sindicatos campesinos. De ese modo, articuló la teoría de los órganos de poder con la lucha electoral. Recordó que la Federación de Mineros participó en las elecciones con su nombre y candidatos propios elegidos en asambleas por los trabajadores. De allí surgió la experiencia del Bloque Minero Parlamentario. Ello probaría que para los trabajadores bolivianos la vía más natural de la toma del poder era combinar las acciones de sus propias organizaciones con las coyunturas democráticas”.

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Escreveu uma crítica à política de  Evo:

“Evo, tu has sido educado en una escuela de izquierda  ¿no?, tu eres un aymara, tienes la filosofía de la complementariedad, de lo opuesto, no de la confrontación, menos de la división. Evo, tienes que volver a tu línea original, a una línea de consenso”.

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Passou a militar no Partido Verde, até sua morte em 2017.  Já doente, pensou em candidatar-se para as eleições de 2019 em dissidência com Evo, que buscava o quarto mandato.

Hoje, quando vemos o dinamismo do movimento social e sindical boliviano, que chamei, em texto anterior, o povo como poder, temos uma referência em Filemón. Partiu há pouco, mas sabemos que há muitos Filemón descendo do El Alto a La Paz, nessa rica tradição sindical e de classe popular, operária, mineira e camponesa.

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Filipo, presente!

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