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Paulo Moreira Leite

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Filmaço de Jorge Furtado ajuda a pensar país que elegeu Bolsonaro

"Um dos mais premiados cineastas de sua geração, Jorge Furtado volta a Rasga Coração, obra-prima do teatro brasileiro, para fazer um filme sobre os impasses políticos e conflitos de geração entre militantes  de esquerda num país onde diretores de escola cultivam ideias que contém os germes da Escola Sem-Partido", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Num trabalho com imenso brilho próprio, o filme retrata a juventude radicalizada que ocupou as escolas e abre espaço para o debate sobre a política de alianças que marcou os anos Lula-Dilma". Assista entrevista com o cineasta

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Marco na dramaturgia que ajudou a escrever a história da resistência dos brasileiros à ditadura de 64, a versão cinematográfica de "Rasga Coração" estréia hoje, para auxiliar na reflexão sobre as dores e impasses sobre este país no qual Lula está na prisão e Bolsonaro prepara-se para assumir a presidência.

Se, em 1974, a versão teatral de Oduvaldo Vianna Filho debatia as conflitos e esperanças do universo político organizado em torno de um grupo de militantes do Partido Comunista Brasileiro entre os anos 1940 e 1970, a impecável versão cinematográfica de Jorge Furtado é um esforço pioneiro para encontrar as raízes da história política que produziu o Brasil de nossos dias. As referencias não são idênticas, é claro, mas alimentam uma discussão mais do que atual. 

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Encarnado por um conjunto espetacular de atores  -- Marco Rica, Drica de Moraes, Luiza Arraes -- o filme foi pensado e filtrado pelos protestos de 2013 e 2015, pelo impeachment, em  2016, para ser filmado em 2017. Rasga Coração, o filme, conserva o vigor da versão original, que o próprio Jorge Furtado assistiu aos 20 anos, quando era estudante de Medicina. Em nenhum momento o filme tem gosto de prato requentado.

Situando sua peça num dia qualquer de fevereiro de 1972, momento  particularmente cruel da ditadura, no prefácio à peça Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) explica que contou a história de "um lutador anônimo que depois de quarenta anos de luta por aquilo que acha novo, revolucionário, vê o filho acusá-lo de conservadorismo, antiguidade, anacronismo".

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Este conflito é fio condutor do filme mas não há uma cena que não tenha sido reexaminada e reconstruída para encontrar um frescor atual. Chegando ao perfeccionismo de acrescentar frases que o próprio Vianninha escreveu mas não incluiu na versão final, o roteiro que Furtado elaborou em parceria com Ana Luiza Azevedo e Vicente Moreno  chega a nossos dias com imenso brilho próprio.

Com momentos de passado e presente que aparecem com nitidez na tela, personagens de carne e osso e passagens importantes da construção do país atual estão ali. Cineasta de bom currículo, boa formação cultural e 13 prêmios na bagagem, Jorge Furtado é o criador e roteirista do bem sucedido seriado Sob Pressão, da TV Globo, ficção originalíssimo que tem como foco o universo da saúde pública. No filme, ele mostra um olhar sempre aberto para as mudanças e novidades trazidas pelo tempo.

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Momento importante no enredo -- e também na vida real -- a discussão sobre a política de alianças está lá, com seu impasse dilacerante, tanto na atuação da esquerda na década de 1970, como nos impasses do PT de nossos dias.

A ocupação das escolas -- marco próprio da mobilizacão estudantil em 2015 -- tem um lugar definido no roteiro. As novas abordagens da sexualidade também. O racismo, questão virtualmente inexistente no pensamento político -- mesmo de esquerda -- em 1970, emerge com toda clareza. Numa sequência marcante pela síntese, bastam três palavras para definir a vida e a morte de um personagem.

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Na versão teatral, um diretor de escola chegou a ser filiado ao Partido Integralista e era visto em cena com um capacete no estilo Mussolini. No filme de Furtado, a indumentária é outra mas seu discurso antecipa a Escola Sem-Partido. 

A peça e o filme ajudam a compor o retrato de um país dividido entre pessoas e cidadãos que se reconhecem e se respeitam, onde todos possuem uma noção clara dos problemas a enfrentar e dos adversários que precisam derrotar -- mas não conseguem falar a mesma língua para estabelecer uma ação comum. Chegam a viver momentos felizes nas tentativas de aproximação, retratadas com emoção e envolvimento. Mas a realidade é outra e a cena final não permite dúvidas a respeito. Olhando o mundo a partir da janela de seu pequeno apartamento, o protagonista Manguari Pistolão (Marco Ricca) examina com apreensão uma paisagem onde tudo pode acontecer.

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