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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

288 artigos

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Fim do pesadelo: cadeia neles!

Condenações históricas mostram que a democracia venceu a ousadia golpista do bolsonarismo

Jair Bolsonaro e o STF (Foto: Reuters I Antonio Augusto/STF)

Não foi fácil e não foi sem percalços, incluindo o voto de Luiz Fux. Mas chegamos lá. O Brasil precisava de uma resposta enfática aos quatro anos de desvarios bolsonaristas e aos apelos por golpe de Estado. Pressões internas (de direitistas extremados) e externas (de trumpistas inconformados) se mostraram insuficientes para comprometer o caráter de juízes formados na busca por justiça. Com ânimos inquebrantáveis, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Cristiano Zanin, do início ao fim, não deixaram a peteca cair. Na última sessão, ainda contamos com a presença de Gilmar Mendes, na plateia, e Luís Roberto Barroso, o presidente da Corte, à mesa, para demonstrar solidariedade ao grupo formidável que atingia a conclusão dos seus trabalhos. Nunca mais o país será igual.

Fascistas e ressentidos, naturalmente, não gostaram. Planejam desdobramentos com projetos de anistia sabidamente inconstitucionais. Para o alarde que pretendem conservar aceso, pouco se lhes dá que a medida tenha ou não substância legal. Podem imaginar, no entanto, que, sem a presença do Chefe, encarcerado em regime fechado, não se lhes revelará simples prender as atenções do seu público pouco brasileiro, adorador da bandeira norte-americana.

Da experiência, fica-nos a sensação de dever cumprido, com a certeza de que soubemos defender o sistema democrático contra baderneiros civis e militares. As penas não parecem irrelevantes. No tempo em que permanecerem enjaulados, aqueles infratores aprenderão que calcularam errado e que, no quesito cidadania, não estamos para brincadeira. O escândalo provocado pela complacência pusilânime de Fux logo se fez sufocar pela qualidade das argumentações que os demais membros da 1ª Turma expuseram. Vieram dotadas de inteligência, sabedoria jurídica e habilidade na condução das coisas em todas as suas etapas. E nem se permitiram macular com exibições de indignação fora de contexto, abundantes na hora das emoções, além do recinto do tribunal. Ali, reconhecidamente, não é lugar para isso. O que se diz e se pratica possui compromisso inabalável com a elegância e o respeito mútuo.

O pesadelo terminou! Com efeito, o que parecia impossível — que nossos costumes terceiro-mundistas se perpetuassem na falta de compostura política — não aconteceu. Ninguém se arvorou em dono da verdade, lutando em contracorrente contra o império da lei. O clã Bolsonaro deblatera, é claro. Não aprendeu com a crítica futebolística e os aforismos do nosso velho Gérson, segundo o qual “quem reclama já perdeu”. Para chorar o leite derramado, contarão com todo o tempo do mundo, nas visitas à cadeia.

Sem dúvida, ainda temos problemas. E não se resolverão num passe de mágica graças a um conjunto notável de magistrados. É certo, contudo, que guardaremos a convicção de que os conspiradores, sob controle, perderão patentes e disposição destrutiva para as suas maquinações. E que se cuidem os integrantes do clã. Aqui ou no “exílio”, saibam que normas de comportamento devem ser obedecidas. Afinal, o Chefe, o Ex, que se esmere e se distraia no jogo de cartas com companheiros de cela. No lado de fora, a política adquiriu novas regras de conduta.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.