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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Fino artesanato sobre um grande muralista

A insônia permaneceu, mas o artista Eduardo Kobra acordou também para a potência expressiva e política da arte de rua

Eduardo Kobra (Foto: Divulgação (Reprodução))
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KOBRA AUTO RETRATO

Em vez de nos saturar com as imagens acachapantes das obras do artista, KOBRA AUTO RETRATO nos mergulha num turbilhão de sensações visuais e sonoras.

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No belíssimo documentário de Lina Chamie, Eduardo Kobra menciona pelo menos duas vezes que não gosta de autorretratos. "Meu retrato está nas coisas que eu pinto", diz, como costumam dizer muitos pintores. Lina talvez tenha aproveitado essa deixa para intitular seu filme sobre um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. 

Diante da câmera, semblante sereno e até algo triste, Kobra fala de sua infância na periferia de São Paulo, dos tempos de pichador que lhe valeram a expulsão de casa, da transição para o grafite, dos períodos de depressão, bebidas e remédios para dormir. A insônia permaneceu, mas Kobra acordou também para a potência expressiva e política da arte de rua. 

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Hoje ele tem murais espalhados por 30 países, sendo 50 deles nos EUA, um na sede da ONU e um Davi na mina de mármore de Carrara preferida por Michelangelo. Seus hiperretratos hipercoloridos e compostos de figuras geométricas criticam o racismo, o armamentismo, os genocídios e os maus tratos a animais, entre outras causas. O garoto da pichação se tornou um homem de família e bons propósitos. Uma história de sucesso, pode-se dizer.

E essa história não podia estar melhor contada na tela do que por Lina Chamie (A Via Láctea, Tônica Dominante). Cineasta esmerada e de aguçado senso musical, ela compõe aqui uma peça de fino artesanato audiovisual. Em lugar de nos saturar com as imagens acachapantes das obras de Kobra, Lina nos mergulha num turbilhão de sensações visuais e sonoras, em que os murais parecem ser "encontrados" na arquitetura das cidades e logo somem de vista, deixando em nós uma lembrança fugaz e o desejo de ver mais. 

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A cidade é o corpo percorrido pela câmera, seja atrelada à bicicleta de Kobra, seja a bordo de drones em incursões surpreendentes pelas paisagens. O batismo do muralista no Play Center sugere a figura da montanha russa como mais um elemento de mobilidade e trepidação. Movimento, cor e formas são tão importantes quanto outros tipos de informação transmitidos oralmente.

A fotografia primorosa de Lauro Escorel, a montagem inquieta assinada pela própria diretora e um tratamento de pós-produção caprichadíssimo arrebatam o espectador por uma viagem repleta de boas surpresas e sentido político.

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Com seu jeito simples e afável, Kobra lamenta algo que assombra a arte de rua. Estará essa arte fadada à deterioração e ao apagamento? Assim como os acervos digitais hoje levantam questões graves quanto à sua preservação, o grafite dos grandes artistas merece cuidados que ainda não foram sequer inventados. Imaginar que alguns dos melhores (e maiores) murais de Kobra desaparecerão em breve é como prever a extinção de Van Goghs e Picassos. 

>> Kobra Auto Retrato foi lançado no ano passado em cinemas e logo deve chegar ao streaming.

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Conheça o site espetacular de Kobra

O trailer:

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