Fora Tarcísio, já!
Tarcísio de Freitas tem que lidar com uma situação, no mínimo, incômoda na Assembleia Legislativa: um pedido de impeachment para retirá-lo do cargo
Enquanto avança na articulação para viabilizar seu nome como candidato da extrema direita, seja na disputa presidencial ou na reeleição para governador, Tarcísio de Freitas tem que lidar com uma situação, no mínimo, incômoda na Assembleia Legislativa: um pedido de impeachment para retirá-lo do cargo de governador de São Paulo.
Se a iniciativa vai ou não prosperar, melhor deixar o tempo dizer. Mas o simples fato de existir já traduz um sentimento que cresce nas ruas: um contragolpe contra o esforço de Tarcísio e da extrema direita em justificar o injustificável, em nome de uma anistia que nasceu fadada ao fracasso.
Tarcísio abandonou São Paulo à própria sorte e mergulhou de corpo e alma na articulação para livrar Jair Bolsonaro da cadeia. Saiu das sombras e passou para a linha de frente de um grupo que está disposto a qualquer negócio em troca de uma anistia cada vez mais improvável.
O governador de São Paulo sabe que está em uma missão impossível. E isso faz parte do seu cálculo. Com Bolsonaro fora da jogada, a esperança é ver seu o esforço para salvar o “mito” reconhecido, e receber, como retribuição, a indicação do bolsonarismo e da extrema direita para a disputa eleitoral de 2026.
Para azar de Tarcísio, a espera vai ser longa. O bolsonarismo move lentamente as peças de seu tabuleiro e tarda até o último minuto para tomar suas decisões. Até lá, o governador de São Paulo vai ver sua popularidade derreter nesse jogo duplo entre agradar os radicais e manter a imagem de ponderado.
E a última semana não foi boa para o Tarcísio. O tamanho das manifestações da esquerda no último domingo e as suas repercussões deram um recado claro ao bolsonarismo: o de que não vai ter anistia. O Centrão sentiu o baque e está recuando em sua posição, desidratando a proposta ao convertê-la em dosimetria.
Com isso, o projeto de Tarcísio de ser o elo entre o Centrão, que quer a blindagem, já enterrada pelo Senado, e o bolsonarismo, que defende a anistia, ficou menos factível, já que tanto um quanto outro tendem a fracassar. A Tarcísio, sobrou apenas o desgaste por suas escolhas.
A sustentação do pedido de impeachment nos dá uma pequena amostra da metamorfose do governador. Constam nele uma série de violações a preceitos legais, que incluem improbidade administrativa, desrespeito ao livre exercício do Poder Judiciário e incentivo ao descumprimento generalizado de decisões judiciais.
Essa é a nova imagem de Tarcísio. Goste ele ou não.
O pedido de impeachment tem a assinatura do PT e do Psol. As bancadas se uniram na elaboração do texto – do qual eu sou coautor. Ele foi protocolado no último dia 10 de setembro, logo após o fatídico discurso do governador na avenida Paulista para uma plateia de bolsonaristas reunida no 7 de Setembro.
Quem esteve ali ouviu Tarcísio chamar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes de ditador e tirano. O governador de São Paulo ainda incentivou a desobediência a decisões judiciais. O bolsonarismo foi à loucura, enquanto a sociedade ficou de cabelo em pé, surpresa com o que presenciava.
O discurso foi o ponto alto de uma mudança de tom que já vinha sendo desenhada dias antes, quando surgiram rumores na imprensa de que Tarcísio teria feito um telefonema para o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota, para discutir a possibilidade de colocar para andar o projeto de anistia aos golpistas.
Logo depois, ao ser questionado em uma entrevista ao jornal Diário do Grande ABC se concederia indulto ao agora já condenado Jair Bolsonaro caso fosse eleito presidente da República, respondeu na lata que o faria “na hora”, como seu “primeiro ato” no cargo.
Depois do 7 de Setembro na Paulista, Tarcísio seguiu empenhado em seu novo papel. Mobilizou aparato e recursos pagos pela população de São Paulo para uma viagem de dois dias a Brasília para cumprir uma única agenda oficial, uma reunião com um aliado na Aneel. Aproveitou o tempo livre para seguir na articulação pela anistia de Bolsonaro.
Enquanto Tarcísio avança em seu projeto personalista, São Paulo agoniza. O assassinato do ex-delegado geral da Polícia Civil Rui Ferraz Fontes demonstra o fortalecimento do crime organizado frente a uma política de segurança pública ineficiente.
Já a Sabesp, privatizada por ele, aumentou em mais duas horas a redução da pressão na distribuição de água, deixando bairros inteiros sem abastecimento por ainda mais tempo. Esses são apenas dois episódios registrados nos últimos 15 dias que mostram o tamanho da crise que enfrentamos na São Paulo de Tarcísio.
Não vai tardar para que a população comece a ligar os pontos: enquanto Tarcísio usa São Paulo como trampolim para alçar voos mais altos, o povo paga a conta do abandono de um governador que agora tem outras prioridades.
O pedido de impeachment que corre na Assembleia Legislativa ecoa esse sentimento. Em apenas um fim de semana, quase 4 mil pessoas aderiram a um abaixo-assinado pedindo sua saída do cargo.
Esse é o sinal de que São Paulo não aceita ser governada por quem virou as costas para o povo. Agora é hora de transformar indignação em mobilização. É hora de sair às ruas e exigir: Fora Tarcísio, já!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

