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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Forças Armadas buscam um divórcio amigável do governo

"Não, eles não irão peitar Bolsonaro, tampouco o seu ministro. Não quebrarão as regras, mas têm consciência de que quando a CPI voltar às atividades, virão à tona mais denúncias e escândalos", escreve a jornalista Denise Assis

(Foto: José Dias/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

O alto comando do Exército começou a semana discutindo e se movimentando para um descolamento suave do governo de Bolsonaro e dos generais que lá estão. A ameaça explícita do ministro da Defesa, o general Braga Neto, de que haveria um golpe no país caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não adotasse o voto impresso, foi a gota que faltava para fazer transbordar o tonel de paciência que a cúpula até então vinha mantendo, para não azedar de vez a relação. Levando-se em conta que o cargo é ocupado por ele, um general, ainda que da reserva, qualquer passo em falso pode trazer turbulência. Daí porque desde a redemocratização houve um acordo tácito para que este fosse um cargo a ser ocupado por civis, a fim de evitar que em momentos como esses as Forças Armadas não se tornem “vasos comunicantes”.  A independência entre si, e de cima para baixo, permite uma melhor mobilidade nas  decisões.

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Esqueçam o golpe, alertam os generais do comando. Mas aqui é preciso acrescentar: preocupem-se com um governo que adota estratégias milicianas de governar, embaralhando os poderes, as instituições e, principalmente, a forma como estabelece pontes e ajustes para se manter no poder. De preferência, (tal como aqueles que achacam as comunidades carentes), mantendo a sociedade em estado de medo e sob chantagem.  

O recado – e ele existiu -, teve autoria conhecida e em qualquer República em funcionamento próximo da normalidade, Braga Neto seria punido e retirado do cargo. O correto teria sido o presidente vir a público dizer que ele está blefando para, em seguida, afastá-lo. Porém, no regime de exceção a que estamos submetidos, dá-se à situação um caráter de normalidade, chacoalhando as posições do governo, e só. Além, é claro, de ecoar a chantagem do general, no chiqueirinho, como de costume.

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Internamente, entre os comandos, o brigadeiro da Aeronáutica - que respaldou a sandice de Braga Neto -, é considerado um “raso”, sem nenhum estofo para sustentar cinco minutos de diálogo sobre a história do Brasil ou alguma teoria política para reverberar, como fez, as maluquices do ministro. A leitura é a de que o seu gesto foi apenas de “puxa-saquismo” explícito.

Sobre a existência de um “partido militar”, aí mesmo é que, tal como na brincadeira infantil, os generais do comando diriam: “tá frio”. Alegam que há inúmeras divisões e diversidades nas fileiras, além, é claro, de não ser permitido a politicagem nos quartéis. (Mesmo que saibamos que elas existem). Os militares estão profundamente dispersos e já obtiveram o que queriam: privilégios do ponto de vista da Previdência e alguns “caraminguás”. Agora que já alcançaram, organizam uma saída “limpinha”,  sem se envolver ainda mais com este governo. Não só pela tragédia que Bolsonaro representa na pandemia – e a população já o percebe assim -, mas também pelo fracasso da vacinação, além de terem pressa de se divorciarem da imagem terrível que esta administração já construiu.

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O que eles fingem não saber é que agora é tarde. Tudo o que for apontado de negativo no atual governo, trará como apêndice as tropas do Exército. Em momentos cruciais, ou fizeram o silêncio covarde e conivente,  ou subscreveram as iniciativas, como cúmplices. (Lembrem-se do aumento de produção da cloroquina, para uso indevido na Covid-19).

Mesmo os que não esquecem dos 21 anos de horror iniciados por eles em 1964, têm mais vivo na memória os fatos recentes, que colam indelevelmente aos militares.  Qualquer tentativa de deslocamento desse governo, vai esbarrar em pistas, acusações, depoimentos, documentos e outros entraves que afloram no dia a dia da CPI, a ser retomada em breve. Lá estão os galões de oficiais, o verde oliva das fardas a se sucederem em escândalos inescapáveis. O reinício dos trabalhos em agosto pode trazer tudo o que os militares mais temem: um desembarque trepidante, com insígnias voando para todo lado.  

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Alocados no Planalto, por sua vez, estão três encrenqueiros: os generais Ramos, Braga Neto e Heleno, trêmulos só de pensar que esse desembarque explícito possa acontecer. Para evitá-lo, alimentam diariamente a mítica do golpe. Para eles, é fundamental colar a imagem das Forças Armadas ao governo de Bolsonaro. Assim, vão se equilibrando nos cargos, nos supersalários, executando para fins pouco lícitos a estratégia que aprenderam na cartilha do Estado Maior do Exército, sob o título de “Manual de Campanha – Operações Psicológicas”, cujos princípios fundamentais são: confundir e ameaçar para melhor administrar.

A atual pedra no sapato para o comando do Exército chama-se Braga Neto. Na posição de ministro da Defesa, ele torna-se o verdadeiro empecilho, pois entre os militares as noções de disciplina e hierarquia vão sempre prevalecer – embora no caso do general Eduardo Pazuello, tenham sido solenemente ignoradas.  

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Não, eles não irão peitar Bolsonaro, tampouco o seu ministro. Não quebrarão as regras, mas têm consciência de que quando a CPI voltar às atividades, virão à tona mais denúncias e escândalos. E, no final, quando o relatório ficar pronto e for encaminhado ao Ministério Público, indicando ações penais contra os seus quadros, a vergonha recairá sobre eles. Se é que ainda saibam o que é isto. Pelo visto, não consta mais dos manuais.

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