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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Fórum Esfera, a Davos brasileira, consolida um novo ambiente de diálogo, que é condição básica para o desenvolvimento

O empresário João Camargo tem construído pontes entre os setores público e privado e ajudado a quebrar preconceitos ideológicos

João Camargo, do Fórum Esfera (Foto: Divulgação)

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Deve-se ao empresário João Camargo, criador do Fórum Esfera, que ocorreu neste fim de semana, no Guarujá, em São Paulo, a consolidação de um novo ambiente na economia brasileira, com um diálogo mais saudável entre os setores público e privado, após uma década marcada pela radicalização e pela polarização política. Ainda que os empresários tenham uma inclinação natural ao discurso liberal, já há um reconhecimento maior em relação às conquistas econômicas dos governos petistas e os benefícios de uma economia com maior equilíbrio entre capital e trabalho – o que é a marca central da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em seu painel deste encontro que vai se consolidando como a Davos brasileira, o empresário Wesley Batista, controlador do grupo J&F, relatou que seu grupo empresarial possui unidades industriais em 25 países e que, em todos, há problemas semelhantes aos do País, mas destacou que, em nenhum há tanto autoflagelo quanto no Brasil por parte das classes empresariais. "Todos nós estamos investindo e apostando no crescimento", disse ele. Wesley também relatou uma viagem recente à cidade de Primavera do Leste, no Mato Grosso, e disse que se surpreendeu com a transformação da cidade. "As pessoas estão trabalhando, crescendo, produzindo e muita gente não tem ideia do que está ocorrendo no interior do País", destacou. Batista lembrou que o agronegócio cresceu 11% no primeiro trimestre deste ano. "Não podemos negar a realidade e não devemos falar mal do Brasil", afirmou.

No mesmo painel, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, destacou que o Brasil hoje reúne as melhores condições macroeconômicas de sua história e ressaltou pontos como o superávit comercial de US$ 100 bilhões, as reservas internacionais de US$ 380 bilhões e a maior massa salarial da história. Ele lembrou momentos do passado em que os títulos de dívida do setor público não conseguiam ser colocados com prazo superior a dois anos e as taxas de juros reais chegavam a 25% ao ano. "Hoje o debate é como trazer o juro real de 6% para 3% ao ano", diz ele. "Mudou o padrão de qualidade". Neste tema, o também banqueiro Rubens Menin, do Banco Inter, fez uma cobrança direta ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre um ritmo mais rápido da queda da taxa de juros. "Com essa taxa, muitos empresários não conseguem investir", disse ele, que é também um dos maiores construtores do País, por meio da MRV.

O empresário, que é também o controlador da CNN Brasil e da Rádio Itatiaia, de Minas Gerais, abriu um debate numa roda de conversa sobre uma divergência que tem com o cientista político Felipe Nunes, de quem é amigo pessoal. Sócio da Quaest, Nunes defende a tese da "polarização calcificada" entre direita e esquerda. Menin argumenta que a grande maioria dos brasileiros adota posições centristas, mas que os extremos dos dois pólos políticos são mais vocais, falam mais alto nas redes sociais e sustentam uma polarização artificial. Ele defende que tanto o governo se aproxime mais do centro, assim como os potenciais candidatos mais vinculados à direita radical. 

No campo crítico ao governo Lula, a posição mais dura partiu do empresário Rubens Ometto, da Cosan, que criticou a medida provisória do Ministério da Fazenda, que reduz o espaço para a utilização de créditos tributários por parte dos grandes grupos empresariais. Ainda que essa declaração tenha sido fartamente explorada por setores da mídia mais hostis ao petismo, ela não reflete propriamente o ambiente do encontro. Pouco depois da declaração, Ometto procurou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ponderou sua crítica e ressaltou os investimentos que seu grupo tem feito – na inauguração mais recente, de uma usina de etanol de segunda geração, o próprio presidente Lula esteve presente. "Sou parceiro do desenvolvimento", disse Ometto a Mercadante. 

O presidente do BNDES, por sua vez, liderou a defesa das medidas do governo Lula, ressaltou a importância da parceria entre os setores público e privado e disse que é fundamental parar de depreciar o Brasil. Ele lembrou que nos próximos dias haverá um grande encontro empresarial no âmbito do G20, com a presença de grandes fundos de investimento, e disse que o interesse internacional no Brasil é crescente. "O destino do Brasil é ser a grande nação, que vai liderar a transição energética", afirmou. 

Mercadante também prestou uma bela homenagem à economista Maria da Conceição Tavares, que faleceu neste sábado aos 94 anos, e destacou que não faz sentido que a visão dos empresários nacionais contraste com a dos grandes investidores internacionais, que estão chegando com força para não mais sair do País. O ministro dos Transportes, Renan Filho, enfatizou que o governo Lula tem feito mais concessões para o setor privado do que os governos anteriores – e em condições melhores para os usuários dos serviços. Assim com ele, Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União, destacou as medidas que vêm sendo tomadas para um melhor ambiente de investimentos e Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda, enfatizou o compromisso do governo federal com a estabilidade fiscal. 

Em outro painel, Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, defendeu o estado necessário e criticou o desmonte e a venda de empresas públicas para beneficiar o mercado. “Dos projetos de país que foram colocados nos últimos anos, ganhou o projeto que entende que nós temos que buscar o estado necessário, que compreende perfeitamente a necessidade da gente cada vez mais dar estabilidade jurídica, dar previsibilidade. Não se consegue buscar previsibilidade sem a boa política, que é a política de sentar-se na mesa com o empresariado, com setores da sociedade civil organizada para poder buscar soluções para os problemas do país”, disse o ministro.

Alexandre Silveira ainda reforçou que o governo vai fazer o país crescer mais do que cresceria sem a indução do estado. “A nossa visão é de que para se combater uma doença grave, precisa de ter um bom diagnóstico. E o diagnóstico é que o país precisa crescer, gerar emprego e renda. Precisa criar oportunidades de toda essa estabilidade jurídica regulatória, já que nós temos um país geopoliticamente muito bem colocado e que tem estabilidade social e política. E demonstrou isso inclusive o ano passado, com as máximas turbulências possíveis que poderiam ter acontecido. É necessário que a gente busque soluções para que voltemos a investir. E nem todos os problemas podem ser resolvidos exclusivamente com o estado ultraliberal, que acredita apenas no investimento privado”, disse.

Fora do palco, também houve muitos encontros interessantes, inclusive com personalidades que serviram no governo de Jair Bolsonaro. O ex-ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que hoje atua no Tecnobank, uma empresa voltada para a digitalização de contratos, oferecia uma visão positiva da economia. "Quem está pessimista vai errar. O impacto das reformas microeconômicas está surtindo efeito e neste ano, mais uma vez, o crédito vai crescer a uma taxa de dois dígitos", disse ele. Em outra roda de conversa, o empresário Lucas Kallas, do grupo Cedro, destacava o sucesso de seus empreendimentos na mineração e no agronegócio e também na indústria farmacêutica. Kallas é sócio do empresário Walfrido dos Mares Guia na Biomm, uma farmacêutica mineira que irá produzir o "Ozempic brasileiro", remédio dinamarquês que virou febre global para o emagrecimento e perdeu a patente. Kallas e Walfrido estão embarcando para a China, para fechar parcerias com farmacêuticas locais.

Depois da surpresa positiva do primeiro ano do governo Lula 3, em que o crescimento do PIB superou fortemente as expectativas e bateu em 3%, o desempenho em 2024 também ficará acima do esperado. Segundo Esteves, do BTG, o resultado será superior a 2,5%. Ou seja, é um ambiente macroeconômico que, embora não seja o ideal, tem aberto oportunidades de crescimento para os empresários – e muitos deles, aos poucos, começam a abandonar um discurso ideológico radicalizado e passam a abrir os olhos para a realidade concreta. Esta conquista não deve ser subestimada e tem como um de seus grandes arquitetos o empresário João Camargo, que criou o Fórum Esfera justamente para construir pontes entre os setores público e privado. "É o diálogo que fará o Brasil encontrar as soluções para os seus problemas", afirma. 

Um dos problemas centrais do País, o da Segurança Pública, por exemplo, foi debatido no Fórum Esfera pelo secretário Mário Sarrubbo, da equipe do ministro Ricardo Lewandowski, pelos governadores Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, Ronaldo Caiado, de Goiás, pelo advogado Pierpaolo Bottini e por Preto Zezé, representante da sociedade civil. "Ainda estamos longe de um consenso neste tema", disse Menin, que acompanhava o debate ao lado do ministro Lewandowski. "Mas estamos dialogando". 

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