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Camilo Irineu Quartarollo

Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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Fui ao ato!

Viva Piracicaba! Viva a democracia! Fora a PEC da Bandidagem e contra a anistia a golpistas

São Paulo (SP), 21/09/2025 Manifestantes participam de ato contra a PEC da Anistia e da Blindagem, no MASP (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Cidadãos exaustos voltam no último ônibus para casa, sob o luar. Ao chegar, vão ver seus filhos ressonando na lua alta e vão dormir também. Oxalá em sono reparador, mas que a nação não fique entorpecida no habitué de maus políticos. Assim, na cara dura, atropelam a vida do cidadão desinformado que cochila no balanço do ônibus de última linha.

Na madrugada fria de ventos, esses senhores do Congresso votavam um bonde da impunidade, pelo qual podiam praticar quaisquer crimes no dia seguinte, gabaritar numa folha corrida que nada lhes aconteceria, sem o voto secreto deles mesmos. A PEC da Bandidagem poderia elencar um rol extenso como os de homicídio qualificado, roubos seguidos de morte, pedofilia, violência doméstica, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

O que é necessário ao povo não votam! Quem lutará pelo fim da escala 6x1 dos trabalhadores exaustos, pelos entregadores do trânsito hostil, pelos que trabalham em três empregos? E agora essa maldita PEC! Quem convoca um manifesto? Quem pode vir? E os preparos, os carros de som, o texto...

Enquanto os homens sérios pensavam em mil empecilhos, os artistas octogenários fizeram a hora para o Ato de repúdio. Copacabana, domingo, Rio de Janeiro, e com show deles mesmos: Caetano, Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Frejat, Ivan Lins, Geraldo Azevedo e Djavan. Os artistas velhinhos desceram tropeçando, Gil ainda em luto pela filha Preta e, mais altivo que nunca, foi. Rememoram-se os velhos tempos da geração de 68, em que puseram suas vidas jovens em risco, sem incentivo de lei alguma, com suas calças remendadas e chinelas, tocando violão. Sem respeito dos ditadores, foram e protestaram contra essa mixórdia dos deputados.

Outro idoso, no alto de seus 79 anos, José Dirceu estava no Ato de Brasília contra a PEC da Bandidagem e a anistia, ou a famigerada “dosimetria”. Dirceu defendeu também eleger um novo Congresso, com outros deputados e senadores de corações sensíveis às necessidades do país. Na avenida Paulista, em São Paulo, a bandeira nacional, do tamanho de uma quadra de basquete, tremulava em suas cores vibrantes, defraudada sobre o povo soberano, num desagravo àquela americana exposta pelos entreguistas. Teve gente das cidades nessa “vibe” da capital e fotografaram-se como turistas.

Aqui na cidade, onde o rio desce placidamente e os peixes sobem como cidadãos exaustos, pirracemos na democracia. Eu fui, e estavam lá os artistas locais e os de rua. Salvaram o Ato. O Ponto de Cultura Garapa se pôs como pôde, num improviso sinuoso dos alevinos, junto a artistas e representantes da sociedade no Largo dos Pescadores. Não morremos na prainha, um despotismo de gente, rostos e olhos conhecidos surgiam na multidão. Alguns caipiras alquebrados se levantaram e vieram admirar. Viva Piracicaba! Viva a democracia! Fora a PEC da bandidagem e contra a anistia a golpistas.

Valeram os movimentos nas grandes capitais, agora é preciso descer aos municípios também e renovar compromissos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.